quarta-feira, dezembro 02, 2009

A longa noite do comunismo

O jornalista José Alberto Lemos assina hoje no Público uma crónica que só agora é possível num jornal português de grande circulação.
Escreve sobre uma visita recente que efectuou à Alemanha, a Berlim e a uma prisão da polícia política da ex-RDA, a STASI.
Depois de contar o que viu e mencionar os horrores da tortura física e psicológica que para alguns, (se calhar nem sequer a maioria), se tornam evidentes apenas agora, de há uns pouquíssimos anos a esta parte, remata assim:
" Foi justamente o 25 de Abril e os tempos da ditadura que não me sairam da memória durante a visita à prisão, estabelecendo um paralelismo inevitável entre a Stasi e a PIDE. E aí uma terrível ironia se insinuou: as maiores vítimas da PIDE, os comunistas portugueses, sofreram horrores idênticos às vítimas da STASI, quando lutavam por um projecto político e pela instauração em Portugal de um regime em tudo idêntico ao da ex-RDA. Que, fatalmente, mais tarde ou mais cedo não dispensaria uma qualquer STASI. Um paradoxo? Nem tanto, como o séc. XX demonstrou. Acima de tudo, uma terrível ironia histórica."
Não consta que o jornalista-cronista seja um "reaccionário" de direita, saudosista de Salazar. Não consta que afinal só agora tenha descoberto uma realidade que muitos, mas não tantos como isso, denunciaram logo na altura, nos anos setenta, quando em Portugal se lutava para o tal regime idêntico em tudo ao da ex-RDA.
Não consta ainda que tenha havido muitas pessoas e muito menos no nosso parlamento a dizer publicamente estas coisas, com apreciação maioritária.
O tratamento político que sempre deram ao PCP e agora ao BE, fruto da mesma ideologia e com os mesmos frutos políticos inevitáveis, foi de grande condescendência, não admitindo publica a logicamente a tal "ironia histórica". Pior ainda: o negacionismo continuado do PCP ( e BE) destas realidades históricas e não apenas da propaganda, permanece arreigado na mentalidade dos comunistas portugueses, como se isso fosse apenas uma fantasia e o partido uma vez alcançado o poder pudesse fazer outra coisa senão replicar o modelo ideológico que defende.
Em Portugal, o PCP continua a merecer o crédito alargado das restantes forças políticas como nenhum partido que se reclamasse do salazarismo alguma vez poderia assumir, sem ser imediatamente classificado de extrema-direita, com direito a prisão dos seus membros activos.
É esta a realidade nua e crua portuguesa, actualíssima.
Como se chegou aqui? Propaganda e censura, admitidas intrinsecamente pela inteliggentsia nacional. Precisamente os ingredientes que negam a democracia.
Ainda agora, a denúncia deste evidente paralelismo, é catalogado pelos comunistas e esquerda em geral como sendo de fonte de direita ou até extrema-direita. E não são apenas os comunistas que comungam desta lógica. Muito povo socialista que se quer à esquerda, seja lá isso o que para eles for ( Vital Moreira é o exemplo máximo desta posição ideológica), pensa do mesmo modo e anatematiza da mesma maneira.
A lógica ideológica em Portugal, continua a ser de matriz de esquerda e os media são a guarda avançada. Sempre foram e só desconheço, embora desconfie, que o próprio cronista só agora ao fim de tanto tempo, se deu conta da tal ironia.
O que em si mesmo é outra ironia.

6 comentários:

Dr. Assur disse...

"Também dirigentes políticos, como Manuela Ferreira Leite, usaram no seu argumentário político declarações que davam a entender que há três meses a presidente do PSD tinha conhecimento das escutas», declarou o vice-presidente da bancada socialista.

Segundo a tese do dirigente socialista, «quando Manuela Ferreira Leite afirma publicamente que o primeiro-ministro mentiu sobre o caso TVI, é caso para se ficar muito admirado». «Como sabe ela que o primeiro-ministro estava a mentir [sobre o caso TVI]. Três meses depois percebi que esse era um facto das alegadas escutas», observou o dirigente da bancada do PS.

«O que acabou de dizer quero rejeitar de forma absolutamente liminar, porque disse que há forças políticas que usam informações judiciais para fazer política. Isso é absolutamente mentira e estou em condições de o dizer sem qualquer margem para dúvidas», contrapôs o deputado do PSD."

Salvo melhor opinião, 0 PS acabou de admitir que o grande chefe mentiu.

Se não estivéssemos neste maravilhoso reino do politicamente correcto norteado pela ilustre “Orquestra Vermelha”, diríamos que a situação é grave com tanto assalto à liberdade da comunicação social. Mas assim, estamos perante um caso de espionagem política aonde o PSD domina a justiça e tenta decapitar pela segunda vez consecutiva o pobre PS.

JC disse...

"Salvo melhor opinião, 0 PS acabou de admitir que o grande chefe mentiu"

Tem toda a razão.
Foi isso mesmo que aconteceu.
Já toda a gente admite isso.

O próprio Pinócrates já tinha dado o mote quando declarou publicamente, a esse propósito, que não tinha nenhum conhecimento OFICIAL do negócio da compra da TVI.

Só que o assunto já caiu no esquecimento e poucos se lembram já do Jornal da Manuela Guedes.

Paulo Lopes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paulo Lopes disse...

"...poucos se lembram já do Jornal da Manuela Guedes"

Todas as Sextas-Feiras continuo à espera de vê-la a apresentar-nos as verdades incómodas para o regime reinante que reina todos os dias connosco.

Era o meu programa informativo preferido. Passava a semana toda à espera do seguinte. E ressalto que não gosto mesmo nada de Palhaços nem de Circo, mas da Verdade.

Domingos disse...

Caro José
Excelente este seu post. O tema, já abordado diversas vezes, sobre o alinhamento à esquerda dos meios de comunicação social e as consequências na formação da consciência individual e na opinião pública é muito interessante. Este fenómeno que não é característica exclusiva de Portugal, assume entre nós uma importância capital, face à iletracia generalizada do povo e à incapacidade crítica, perante as notícias divulgadas pela comunicação social alinhada.
Os sacos de plástico que aos sábados são transportados para casa, juntamente com a informação incrivelmente uniforme das tvs, ajudaram a formar esta massa de acéfalos que agora escolhe entre PS e PSD e está convencida que aí reside a democracia.

lusitânea disse...

Por alguma razão os polacos gostam do regime de Salazar...

O Público activista e relapso