sexta-feira, março 07, 2014

A "batalha da produção" de 1975...

Como é sabido e por aqui tenho mostrado, a partir de 11 de Março de 1975, culminando os meses a seguir ao 25 de Abril de 1974 em que o PCP e os partidos compostos por  doentes terminais afectados irremediavelmente pelo  síndroma da doença infantil do comunismo ( designação de Lenine, adoptada sempre pelo PCP) , tomaram conta do destino político de Portugal, com apoio da tropa fandanga do MFA, integrando intelectuais tipo Melo Antunes e quejandos, o tecido industrial português e a maior parte da indústria, banca e seguros do país, foram nacionalizados e por isso mesmo passou tudo a ser "nosso". Aparentemente, sendo nosso, seria melhor do que sendo "deles" dos capitalistas burgueses, não era assim?  Era, era. Dali a um ano estávamos na bancarrota, com toda essa sorte de tudo o que era nosso...e uma coisa que então nos valeu foi o ouro amealhado por Salazar durante décadas ( mais de 800 mil toneladas de que restam nem sequer metade...).
O PCP, com suprema nostalgia desse tempo, anda agora mesmo a colocar cartazes na rua, com dizeres muito simples e que se resumem a duas frases: " o que é público é nosso; o que é privado é só de alguns". Com esta verdade falaciosa conquistam adeptos que pensam com um neurónio e assim se vão mantendo na mentira permanente em que consiste a sua actividade política.

Em Julho de 1974 a Esquerda ( PCP e PS, mais MFA) rejeitou a contribuição capitalista de alguns empresários nacionais que não tinham fugido para o estrangeiro ( e de alguns que apesar disso, continuavam a acreditar nas potencialidades económicas do país) que se propunha investir alguns milhões de contos em empreendimentos económicos nacionais. Portanto, patrióticos, sem dúvida alguma.
O jornal Sempre Fixe pouco tempo antes de 25 de Abril de 1974 tinha elencado quem eram os maiores patrões nacionais. O objectivo, oculto, era simples: mostrar quem eram os "exploradores da burguesia capitalista", porque era esse o entendimento atávico dessa esquerda. 


Depois de 11 de Março de 1975 e paulatinamente, tais empresários deixaram de contar como contribuintes para a riqueza nacional porque o país tinha mudado de paradigma político e até social.
A Esquerda correu com eles quase todos. Actualmente, os mais ricos de Portugal, são os que ficaram, milagrosamente ( Alexandre Soares dos Santos), e os que vieram depois, arribando a pulso e de modo muito diverso dos anteriores ( Américo Amorim e Belmiro de Azevedo). Todos eles pagam um tributo revolucionário à Esquerda que ficou e se metamorfoseou, para não serem incomodados se calhar . Soares dos Santos, com a Fundação. Belmiro com o Público e Amorim...não sei bem, mas deve ser a mesma coisa. É o "pizzo" que se paga nesta democracia para prosperar...

O capitalismo, como sistema de produção de bens e serviços, deixou de ser o modelo e tentou-se a adopção de outro  modelo que apesar de não ter resultado em qualquer parte do mundo e ser um falhanço de tal ordem que conduziu, anos depois ( em 1989) à implosão do próprio sistema, foi sôfregamente adoptado por indivíduos ditos inteligentes e que se formaram em Economia e noutas áreas, constituindo uma elite que passou a mandar no país, politicamente.

Como dá conta O Jornal de Maio de 1975, o Estado socialista a "caminho da sociedade sem classes", controlava praticamente todos os sectores-chave da economia, a partir dessa altura. .


As coisas chegaram a tal ponto que A Vida Mundial de 10 de Abril de 1975 com um escrito de um tal Maia Cadete, não tinha dúvidas: o Estado poderia controlar nove décimos da Economia!


 Por isso mesmo, quem alvitrava palpites sobre tal assunto e a nossa sorte colectiva eram...os comunistas que dominavam o aparelho produtivo do Estado ( apesar de negarem tal facto, atribuindo a outras forças que não eles, esse domínio de facto, mormente na gestão das empresas públicas e banca...)

Na Vida Mundial de 10 de Julho de 1975, o aparatchick do PCP Octávio Pato, dizia abertamente o que entendia e até esta coisa espantosa que é uma confissão de delito político indesculpáve, a propósito da manipulação da imprensa da época pelo PCP ( estava ao rubro o caso República e o do Diário de Notícias, já aqui tratado,  surgiria dali a pouco) l: "Se a imprensa fosse por nós manipulada, como se diz, então faríamos desaparecer, como é evidente, todas as notícias de carácter reaccionário e contra-revolucionário.". Esta é a confissão mais cândida e estúpida da estultícia do PCP quanto á censura efectiva que adoptariam em caso de domínio do poder político  total. Quem ainda acredita no PCP depois disto é o quê? Inteligente? De boa-fè?




Os comunistas e Esquerda em geral, incluindo os vários "compagnons de route" e socialistas "democráticos" aceitaram este estado de coisas na Economia, sem se darem conta, porventura, de que dali a um ano estávamos na bancarrota, como seria por demais previsível. Nem as batalhas da produção nos valeriam perante a gritante falta de capital e a delapidação acelerada dos recursos.

Então como é que esta pan-Esquerda procurava resolver os problemas básicos de uma Economia que ainda no ano anterior crescia a olhos vistos, mesmo com uma Guerra no Ultramar? Esta gente não via isto, claramente? Não queria perceber a asneira política? Como é possível?!

De um modo muito curioso e nada original: com palavreado patriótico e de incentivo voluntarista, que se revelaria sempre inútil porque nunca experimentado com resultados em qualquer país ou parte do mundo em nenhuma época, apareceu a solução mágica: "a batalha da produção"!

O Jornal de 16 de Maio de 1975 , enfileirado nos "compagnons de route" da Esquerda comunista e socialista, pela pena incrível de um Francisco Sarfsfield Cabral ( seria bom perguntarem-lhe o que pensa agora deste escrito...) punha assim quatro páginas ao serviço da causa comunista, com um póster a condizer, da autoria de João Abel Manta, o crente.


Claro que dali a pouco, apareciam os intelectuais comunistas a darem os seus palpites sobre o assunto. Octávio Pato no Jornal de 23 de Maio de 1975 foi um deles. Incrível como as pessoas levavam estas idiotices a sério.
Aliás, parece que ainda levam porque os comunistas portugueses não desviaram um milímetro ideológico destas patetices, em 40 anos. 


E portanto, como dá conta a Vida Mundial, em 7 de Junho de mesmo ano, com estas batalhas da produção, deixavam de fazer qualquer sentido as greves. Aliás, havia direito à greve, nos países de Leste? Melhor ainda: o PCP não aboliria imediatamente esse direito, com as mais fundadas razões, caso tomasse o poder em Novembro de 1975? Alguém, mas alguém mesmo tem alguma pequena dúvida que seja? Se têm, é ler o que então diziam: o mesmo que o regime de Caetano, ainda no ano anterior...
Greves, em 1975? Só no dia dos enganos, como cantava um Sérgio Godinho. E já por lá andava um Arménio Carlos a aplaudir. E o Jerónimo electricista, pois claro. Já nem deve saber as fases dos fios, por esta altura.

Mas que maluqueira é esta de dar crédito a um PCP deste jaez?  Quando é que acaba esta fantasia nacional de entender o PCP como uma força democrática como as demais, se efectivamente o não é e nunca o foi?
Acaso já se esqueceram do que disse Álvaro Cunhal em Junho de 1974 a uma Oriana Falacci, numa entrevista ( desmentida, claro está, mas reafirmada pela mesma, também) ao semanário italiano L´Europeo? Portugal, no entender de Cunhal,  nunca teria uma democracia parlamentar de tipo europeu...

Enganou-se o Cunhal, agora elevado aos altares profanos da idolatria estúpida, mas os seus herdeiros continuam a acreditar no mesmo e só toleram esta democracia como um passo para a outra, a real., segundo o seu entendimento ideológico. Só que nunca o confessam explicitamente...

7 comentários:

zazie disse...

Estas coisas é que deviam vir nas revistas dos jornais.

Aposto que a maior parte não se lembra e os mais novos nem sabem.

Floribundus disse...

o rectângulo tem necessidade da imposição do
'stackanovismo'

como campos de reeducação e ntratamento psiquiátrico obrigatório

até lá, devido ao ódio e inveja, é proibido ser rico

Anibal Duarte Corrécio disse...

Não tivemos grande escolha.

O diabo teria que escolher entre os sociaisfascistas e os corruptos do PS.

O Sá Carneiro foi-se e, com ele, os menos estragados filhos da ditadura.

Não tivemos 'sorte'.

Estava escrito no destino que seríamos amplamente roubados.

José disse...

Tendo a concordar com esse diagnóstico. Lixámo-nos bem, mas é estranho que em 40 anos não tenha surgido ninguém que se aparentasse a um Sá Carneiro. E nem gostava muito do indivíduo que me parecia demasiado quezilento.

Qual a verdadeira razão para não termos ninguém, com prestígio de credibilidade suficientes para acabar com esta corja que nos tem governado e se tem essencialmente governado?

Não sei responder.

Dudu disse...

Há azares na História que de facto podem ter influência no curso dos acontecimentos. O desaparecimento de Sá Carneiro terá sido um deles, mas, alguns anos antes, na antiga Guiné, desapareceria também em desastre aéreo um indivíduo que prometia muito mais: José Pedro Pinto Leite.

josé disse...

O problema é que as pessoas que surgem assim, são formadas por outras que também aprenderam de alguém.

Salazar foi formado por Coimbra mas era inteligente e esperto. Porém, teve professores que eram de outro mundo, de então. Rocha Saraiva, de Trancoso, por exemplo.

E quem ensina agora os alunos de hoje?
E como?

Maria disse...

"Qual a verdadeira razão para não termos ninguém, com prestígio de credibilidade suficientes para acabar com esta corja que nos tem governado e se tem essencialmente governado?".

Porque estamos atados de pés e mãos. Nós, os portugueses livres e independentes, quero eu dizer. A teia tecida pela maçonaria mundial por interposta maçonaria portuguesa lançada sobre esta coisa a que os traidores ousam despudoradamente chamar 'democracia', é de tal modo poderosa que não há povo que lhe consiga resistir. Mesmo a percentagem desse povo que não apoia este estranho regime nem a politicagem que o compõe, não tem força suficiente para os derrotar. A falência total deste regime, isto é, o facto de não termos tido até hoje outra qualidade de políticos verdadeiramente patriotas e íntegros, apenas se deve a este terrível acidente da nossa História. E enquanto não nos livrarmos da seita que nos sufoca e destrói com povo e como país respaldada por um falso regime democrático, não seremos felizes nem recuperaremos a nossa independência e soberania subreptícia e malèvolamente usurpadas. Este autêntico horror não só acontece em Portugal como em todas as democracias do mundo.

A propósito de mais esta excelente documentação que o José deixou por aqui, vem mesmo a talhe de foice perguntar: onde pára (ou a que mãos sujas foi parar eclipsando-se imediatamente após, passando para as mãos conspurcadas sabemos muito bem de quem) "um dia de trabalho para o país"????? Não foi um tal capitão Costa Martins (ou coisa que o valha) ministro do trabalho, que teve esta ideia oportunista e velhaca, ficando depositário do dinheiro do povo trabalhador e de repente ele e o dinheiro desapareceram do mapa para nunca mais se saber nada nem de um nem do outro??? Isto até aparecer nos jornais muitos anos depois uma notícia qualquer a dizer que o aldrabão se tinha mudado para Angola havia vários anos onde tinha iniciado uma vida empresarial por conta própria... Pois concerteza, com carradas de dinheiro nas mãos a que chamou um figo (metade dele foi direitinho para os políticos que o nomearam para o cargo e que depois o protegeram, como é por demais evidente) e a fugir à Justiça, só escaparia malhas das desta e da fúria dos trabalhadores refugiando-se noutro Continente e foi o que fez...
Repito, onde foi parar o dinheiro (ao tempo era muito dinheiro, que se esfumou como o éter) que estes políticos vigaristas, com a lata e a desfaçatez que lhes são intrínsecas, conseguiram sugar criminosamente a este povo crente e bom - roubos escandalosos, estes e outros, que aliás eles têm vindo a praticar com o maior dos desplantes desde há quarenta anos bem contados - povo que nunca lhe pôs a vista em cima nem nunca mais se soube que foi feito desse montante fruto do trabalho que tão voluntária quão altruìsticamente os esforçados trabalhadores (sempre na boca dos malígnos traidores) 'ofereceram à Nação'???...
Cambada de ladrões e corruptos da pior espécie é o que são todos estes bandalhos que desgraçadamente temos tido como pseudo-governantes desde há quatro tão dolorosas quão longuíssimas décadas.

O Público activista e relapso