terça-feira, outubro 31, 2023

Allôuíne: a colonização cultural anglo-saxónica.

 Ontem fui à missa por alma do meu pai, falecido há vários anos. Na igreja reparei numa pagela com um escrito que vinha assinado e era um pequeno artigo de opinião publicado no Observador pelo Pe Gonçalo Portocarrero, cujo título- Halloween, uma festa dos diabos- sintetiza o espírito da escrita.

O artigo fica aqui, para registo:














O artigo suscitou comentários e dois merecem destaque. O primeiro acha o escrito lamentável. Por isto:


Outro acha o contrário e desenvolve um pouco mais no sentido que me parece mais correcto da crítica:





Não tenho estudos suficientes e a wikipedia ou o ChatGPT não me satisfaz, para lograr rebater qualquer um dos argumentos expensos. Porém ocorre-me um outro, mais prosaico que os acima expostos.

Mais que uma investida do Maligno travestido em patrocinador de um carnaval suplementar, parece-me no caso mais uma investida da cultura estrangeira, neste caso anglo-saxónica, transformada em parafernália comercial e com um intuito concreto e prosaico: aproveitar ao máximo e amealhar lucros  com fenómenos comercialmente popularizados e que no âmbito da nossa cultura tradicional não tinha qualquer eco até há umas décadas atrás, aliás muito poucas. 

Não me lembro bem da altura em que as celebrações desta festa de carnaval extemporâneo começaram a ter algum relevo entre nós, mas julgo que a televisão teve alguma influência e amplificou o fenómeno ao longo dos anos, logo depois dos oitenta ou noventa do séc. passado. 

Actualmente os supermercados estão inundados de parafernália ridícula que passa pelas máscaras e caracterização com símbolos tétricos e da bruxaria mais elementar para vender ao consumidor atraído por tais artigos de fancaria. 
Tirando isso, julgo que nada mais releva culturalmente e muito menos a tradição anglo-saxónica de andar pelas casas alheias a recolher algo simbólico em nome de coisas tétricas. 

Por outro lado o teor do artigo do Pe Portocarrero faz-me lembrar outros tempos, nos anos setenta, em que a música rock chegou a ser considerada a "música do diabo", nos mesmos meios anglo-saxónicos, protestantes e afins, particularmente em seitas religiosas seguidoras de ensinamentos desviados do cristianismo.
Lembro-me de ficar apreensivo ao ler que certos acordes dos Led Zeppelin se destinavam a convocar o Maligno, tal como a música dos AC/DC ou até a de inofensivos cantos ritmados dos Rolling Stones, tinham tal enquadramento satânico e perigoso para a espiritualidade de um católico. Praticamente não escapava ao anátema nenhum dos grupos ou artistas da música rock que eu apreciava sobremaneira, o que era algo constrangedor para um católico. Demorou alguns anos a perceber o equívoco, mas ainda assim um dia destes vai um postal sobre o assunto, aliás já preparado. 

A propósito disso, um dos malditos dessa música,  Alice Cooper, nesse início dos anos setenta, mas ainda em 1969, num espectáculo ao vivo foi presenteado com uma galinha branca no palco, a esvoaçar vinda da audiência motivada pelo ritmo frenético da música relativamente pesada do músico, nascido num meio urbano de Detroit e que pouco percebia de galinhas rurais. Assustado, devolveu com um rápido arremesso e à proveniência, a ave pouco voadora, ficando aterrorizado ao ver que lha devolviam novamente, mas em...pedaços. 
No dia seguinte, alguns jornais tomaram o incidente com um motivo de suspeita prática demoníaca, atribuindo ao frágil artista a iniciativa do desmembramento da ave para lhe sugar o sangue. Logo que soube de tal, Frank Zappa, conhecido e amigo do Cooper de então, telefonou-lhe e perguntou-lhe se tinha feito mesmo aquilo. Perante a resposta negativa e a peremptória surpresa pelo acontecido, Zappa disse-lhe então: não desmintas! Deixa correr que a audiência gosta ...e realmente correu, porque Alice Cooper enriqueceu à custa de palhaçadas similares e de caracterizações ridículas com cobras piton ou aranhas amestradas que lhe granjearam assistência garantida com casas cheias nos concertos. Quanto à música, mesmo copiada dos antigos, ainda se ouvem alguns discos porque é bem tocada nos parâmetros do rock. 

Há coisas que se explicam por si mesmas, embora outras tomem dimensões ocultas sempre que a ignorância e a superstição entram em cena. 
Demorei anos a perceber que a música rock não era a música do diabo e mesmo assim fiquei surpreendido quando há uns anos atrás li que o disco de 1971, If i could only remember my name de David Crosby, outrora considerado mais um dos cultores da música maléfica do rock, tinha sido considerado pelo Vaticano e o seu jornal L´Osservatore Romano,  como um dos  preferidos de sempre, em segundo lugar a atrás de Revolver dos Beatles, outro disco suspeito devido à temática equívoca de algumas canções.  
E até o Thriller de Michael Jackson, com o video-disco promocional recheado de alusões de Halloween, tem lugar na lista...

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