segunda-feira, junho 23, 2025

Adelino Gonçalves e os locutores do rádio

 Morreu o locutor de rádio Adelino Gonçalves e importa dizer algo sobre o mesmo e os locutores do rádio, particularmente nos anos oitenta, embora os que mais me marcassem a audição telefónica fossem já da década anterior. 

Numa resenha incompleta, parcial e relativamente informativa, o suplemento Vida 3, de 31.7.1992 do jornal Independente, consagrado aos "dias da rádio", esta página dava conta do historial do rádio dos "bons velhos tempos".


EN, RR e RCP era o que então havia, no "antigamente" e que se prolongou por muitos anos até aos oitenta. 

Para o meu gosto de então que não difere muito do que hoje ainda continua a ser, no RR podia ouvir-se o programa Página Um, entre as 19:30 e as 21:00, um oásis entre mais um par deles, para se poder ouvir música popular anglo-saxónica. 

 O RCP mudou para Rádio Comercial e aí se podia ouvir particularmente o Dois Pontos e também uns pares deles mais, como, entre outros, Country Music ( Jaime Fernandes) , Musonautas ( Rui Neves), Pedras Rolantes e Pretérito quase perfeito ( ambos de Rui Morrison) , e ainda, mais tarde, Oceano Pacífico ( João Chaves), Noites Longas do FM estéreo ( António Santos), A Luz de Edison e Em Órbita ( ambos de Jorge Gil, o primitivo autor do Em Órbita, nos anos sessenta), para não falar dos programas de António Sérgio dedicados ao rock mais heavy, Lança Chamas e O Som da Frente ou mesmo o Rock em Stock (de Luís Filipe Barros) e até os Cantores do Rádio ( de José Nuno Martins).



Havia música muito boa para ouvir nos anos setenta e oitenta no rádio, como mostra a grelha de programas publicado num efémero jornal Êxito de 1 de Junho de 1984:


Em 1 de Junho de 1984 o jornal TV Top  publicava o resultado de uma sondagem/votação, com uma lista dos "dez mais dessa semana":


De todos, o mais interessante tornara-se o Dois Pontos que tinha começado no final dos anos sessenta e nos setenta, em 1973,  com Jaime Fernandes que o orientou até 1980, pois permitia ouvir álbuns inteiros e portanto gravar  música que ainda nem se poderia encontrar em discos nas discotecas ou que já estava esquecida. 

O Dois Pontos foi assim explicado em 27.7.1983 no Sete, quando era apresentado por Humberto Boto:


Nessa altura de meados dos anos oitenta, as maiores figuras do rádio, para mim eram precisamente Jaime Fernandes e também João David Nunes. Tudo o que tocavam soava bem e o Sete de 2 de maio de 1986 entrevistou este último que no fim da entrevista dizia assim, mencionando os programas em que participara:

Porém, o programa que aqui me traz é o Discoteca e a locução de Adelino Gonçalves que o animava. 

Era um programa de semana, da tarde, logo a seguir ao almoço, eventualmente dedicado aos estudantes que acabavam as aulas e era um assombro pela qualidade na escolha musical e pela sobriedade da locução que fazia em muito lembrar o já então saudoso Página Um, no Rádio Renascença que começou com locução de José Manuel Nunes, passou pela de Adelino Gomes e findou-se com a de Luís Filipe Martins e Artur Albarran.

O Discoteca começou salvo o erro e informação da Internet, no Verão de 1981 e prolongou-se pela década toda. 

Em 27 de Junho de 1986 até gravei uma dúzia de minutos com a música e a locução de Adelino Gonçalves que um dia destes conto colocar em podcast, se for possível. 

Para mim era um programa que me permitia ouvir duas horas de música de dança, já no pós-disco e com inflexões do soul e também música ligeira de outras proveniências, mesmo do rock. Li por aí que foi no programa que passou pela primeira vez o single Drive do lp Heartbeat City dos Cars, de 1984. Terão conseguido por portas travessas um acetato e deram logo a conhecer o produto no programa...

Seja como for, recordo-me de ouvir o Komissar de Falco, os Shalamar ou...Roger Whittaker ou ainda Neil Diamond em Play me, para além de muitos, muitos outros que soavam sempre bem apresentados pela voz de barítono de Adelino Gonçalves. 


Como é que este som me parecia então tão, tão agradável ao ouvido? Pois parece-me que esta imagem, do jornal Êxito de 15 de Junho de 1984,  no caso da estação do RR,  permite entender uma das razões:


Os gira-discos, claro! Da marca EMT, alemã e inultrapassável no som profissional de rádio. O resto vem por acréscimo e por obra e graça do FM estéreo. 


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