sexta-feira, março 18, 2005

Atrás dos tempos...

O diário 24 horas de 17.3.2005 -da Global Notícias, Publicações SA, da Lusomundo Media,- tem 48 páginas, na sua maioria a cores e na primeira página traz uma notícia de importância eventualmente transcendente para os seus garantidos 80 mil leitores, mais os milhares virtuais que passam no escaparate e espreitam:
“ Joana Lemos pirou-se para o Brasil”. E esclarece em letras miudas que “pegou nas crianças e no marido e fugiu dos escândalos”! E para mostrar que a notícia não é a brincar, brinda o leitor e o passante com foto de corpo inteiro da “piloto”!

No miolo do jornal, as notícias são coloridas com as fotos de Gisele Bundchen e pergunta-se na segunda página , a propósito de Kirsten Dunsten, “muito lá de casa” e epigrafada a “coisas de vedeta”, “Quem dá tampa a quem?”.
O pobre do Rui Rio na página seguinte tem também o seu direito a foto com a mulher em escusada pose de circunstância e que acompanha outras fotos de notáveis da nossa praça dos prémios Marketing 2004, com a notícia importante a assinalar as “gaffes” da apresentadora Sílvia Alberto- “Ai as gaffes, Sílvia!” O derrotado da noite, coitadinho e que aparece de mão no bolso do casaquinho de cerimónia, foi Ricardo Costa. Mas não fica sozinho da desdita, pois também a incontornável Margarida Pinto Correia ficou “ a ver navios”.
Na página seguinte, há histórias de um caçador de manequins e na do lado direito, aparece então o desenvolvimento da grande notícia da primeira página: “Brasil aí vou eu ( que estou farta disto)”. Nas duas que se seguem, vem o prato forte da edição: Roberta Close e Castelo Branco! “Modelo brasileira vem a Portugal dar uma lição de sexologia”! A mulher de Miguel Sousa Tavares e o padre Borga, ambos com direito a fotografia, vão ouvir…e falar também! Na mesma página e numa coluninha de uma dúzia de linhas dá-se conta que “Magistrado explica cachecol”, para dizer que o CSM analisa hoje as explicações dadas pelo seu vice-presidente sobre a foto comprometedora no dia das eleições. Diz ainda que o magistrado já fez uma exposição por escrito a explicar o sucedido.
Na pág. 8, assegura-se que Freitas “promete contar segredos aos jornalistas” e dá-.se destaque de página inteira ao programa Quadratura do Círculo” , para dizer que Jorge Coelho “não vai ter vida fácil”.. dixit JPP! Vocês há-dem ver…

As 3 páginas seguintes são a preto e branco para mostrar o sangue, suor e lágrimas dos crimes de Portugal do dia anterior. As que vêm a seguir são dedicadas aos fait-divers das “conjuntivites” que levam á urgência ou os problemas dos doentes uma mãe de família, para preparar o leitor para a notícia da página seguinte sobre Pinochet, bem disposto e em traje de golfista, para se dizer que o ditaro “tinha conta no BES”! O suplemento de desporto que segue tem oito páginas, antes d eum anúncio de página inteira sobre as dores e o seu alívio milagroso,” sem medicamentos, sem efeito secundários”. Depois temos 10 páginas de pequenos e grandes anúncios e as quatro páginas seguintes são dedicadas à…televisão, antes de lermos um reputado “investigador criminal” chamado Barra da Costa a dizer numa página inteira com foto de Sócrates num comício: “Vigaristas”. E pronto, é assim o 24 horas, pois a última página é dedicada a assuntos que deviam caber nas consagradas aos temas a “preto e branco”. Tem ainda uma coluna da 25ª hora, mas por isso mesmo, fora de prazo de validade. E uma foto do Papa, também a preto e branco, de bónus! Para este trabalho jornalístico estrénuo, a ficha técnica diz que estarão lá mais de sessenta pessoas, dirigidos pelo intrépido Pedro Tadeu.

Agora, o Correio da Manhã de 16.3.2005:
A front page e demais pages, são também a cores e aquela é dedicada a “30 mil por dia furam via verde”! Outras notícias em quadradinhos miúdos de baixo de página, permitem saber que “Ladrão morre por causa de tiro da GNR” e que “Portugal tem os miúdos mais gordos” e ainda que “Sócrates pede controlo verbal aos ministros”.

O CM, tem uma tiragem assegurada para …olha! Na ficha técnica, mesmo por baixo da “caixa de reclamações”, não reclama tiragem alguma , mas diz que é membro da APCT! Bem, o CM tem lá em permanência, para aí uns trinta trabalhadores das letras de imprensa e das fotos publicadas.

O CM tem as primeiras quinze páginas dedicadas aos factos noticiosos que o 24 horas publica a preto e branco, em 3 singelas páginas, sem contar com a última e a 25ª hora. Nessas quinze densas páginas não cabem notícias como a dos 30 mil infractores que na primeira página furam a Via Verde, número que pode baixar para 20 mil. Segundo se explica mais em detalhe e que é, ainda assim, “tendo em conta que alguns destes automobilistas podem passar indevidamente na Via Verde mais do que uma vez por dia.” A notícia da primeira página tem um desenvolvimento de duas colunitas de algumas centenas de caracteres ( vá, lá não os contei, mas não deve andar longe…) na página 17, já no suplemento Economia, pois nas tais quinze só há espaço para isto: “ As cisternas em Portugal são seguras”, a seguir ao “Inferno na estrada”, sobre o mesmo assunto; “patrulha da GNR mata ladrão a tiro”; “Tiros de desespero” para explicar a titude do ancião que alvejou um médico em Portimão; “parou na estrada e foi sequestrado”; “Ladrões na cadeia”;”Assassino vilou a mãe”; “Solitário livre no estrangeiro”, referindo-se a um fugitivo da cadeia de Coimbra; “testemunhas fartas de estar à espera” , no caso da pedofilia dos Açores; e a seguir, “Crimes iguais, tempos diferentes”; “Bombas de gasolina exigem vender medicamentos” ; “Os miúdos mais gordos da EU”, para dizer que são os nossos; a série negra acaba com “Ex-ministra suspende prova global”.

Então, o leitor tem direito ao miolo do jornal: O suplemento de Economia, com …4 páginas; um suplemento de Política, com 5 e a seguir a “pièce de résistence”: duas páginas centrais sobre…a pedofilia feminina, bem encartada no suplemento vigoroso das 34 (!!) páginas dos Anúncios classificados!! E a seguir vem o Mundo e o desporto e a meterologia e a Cultura! Sim! A cultura tem direito a duas páginas suculentas de informação sobre Dan Brownw , repescado do Times; sobre um novo filme português que é …”Um tiro no escuro” e sobre tauromaquia, antes de entrar nas páginas finais das Vidas e da Televisão.
É esta a imprensa popular no Portugal de 2005! Como já era há dez anos atrás, aliás, mesmo sem o 24 horas.

E em 1971, por exemplo? Nessa época havia jornais da manhã e da tarde e era nestas edições vespertinas que se concentravam as atenção dos “populares”, como era o caso do Diário Popular e do República, para além do Diário de Lisboa, para ficarmos pela Capital.
A edição de 9 de Novembro de 1971 do Diário Popular, dirigido por Martinho Nobre de Melo não trazia ficha técnica nem indicação de tiragem, mas epigrafava-se como “O jornal de maior expansão no mundo português”! E talvez fosse, nas suas 36 páginas incluindo o suplemento Volta ao Mundo..
Com a censura vigente e que exigia visto prévio à publicação, o que é que se podia ler no jornal da tarde, desse dia de terça-feira, de feira da ladra?
A notícia de primeira página vinha destacada da foto que ao lado direito espevitava a atenção: uma morenaça de bikini em tom leopardo e miss que não foi Mundo, mas Vera Lagoa, a páginas tantas, de Londres e por telex, relatava o acontecimento, em que também entrava o tal da 25ª Hora: “António Jorge veio ao primeiro andar das “misses” com o Joaquim Letria, que vinha em nome da BBC mas não documentado.Deixaram entrar o António Jorge e puseram o Letria na rua.Ah!Ah!Ah!”
A notícia ao lado era “Portugal e o Mercado Comum-Luz verde em Bruxelas Luz vermelha em Washington” e numa página inteira do interior, documentava-se o assunto com títulos de artigos curtos como “Os Estados Unidos contra a integração europeia”; O ministro suíço da economia contesta a posição americana”: Acompanhamos com simpatia o esforço de Portugal para estabelecer diálogo em África, afirmou um governante britânico” ; A argumentação de Washington” e o título de desenvolvimento: “Mercado Comum-Efta: da luz verde de Bruxelas ao Stop norte-americano”
As primeiras cinco páginas do jornal destinam-se aos programas de Teatro, com o anúncio de uma peça brasileira a estrear em breve, “A Cafona” e o perfil de uma actris portuguesa, Delfina Cruz; o cinema em cartaz, com crónica de filmes novos assinada por JVP ( José Vaz Pereira, certamente); e a crítica dos programas de televisão do dia anterior, assinada por…Alice V ieira, no Canal Nómada, a encimar o anúncio do filme Morte em Veneza de Luchino Visconti, ao lado do cartaz do dia da tv: às 22 h. o filme Uma luz nas trevas de Ingmar Bergma, e antes, mesmo antes do telejornal, a ir para o ar às 21h, poderia ver-se meia hora de “O Tempo e a Alma “ do dr. José Hermano Saraiva.
Este, aliás, na pág. 6 , pergunta em foto a acompanhar: “É possível um programa erudito na televisão?” E na entrevista, à pergunta “Em que consiste essa erudição?”, responde: “Existe uma descrição dos costumes em Espanha e, em particular, dos Lusitanos, escrita há precisamente 2000 anos- É o famoso livro terceiro da Geográfica de Estrabão. O programa de hoje é uma leitura comentada e ilustrada desse texto. Vamos ver, repito, como o público reage, visto que, em cada número do programa eu procuro seguir as indicações quer da crítica pública quer da que se lê nas cartas que me são enviadas. Tentarei hoje, obter uma resposta a esta pergunta: é possível um programa erudito na Televisão?”

Na página seguinte do jornal, a crónica a quatro colunas de Vitorino Nemésio, As Sombras da Cidade, na qual o autor diz, no fim: “ Higiene não é só arte de ruas limpas e de tabuleiros de géneros apurados. É ordem interior nas pessoas, convívio civilizado, responsabilidade social criada nos órgãos do trabalho, da escola, da família, dos grupos. Fica por atacar o mal dos ruídos urbanos: rádios, cláxones, aviões baixos, reclamos sonoros, o bruto individualismo do transístor, do acelerador, da rica expansão sonorizada da gana de cada um- e o vizinho que estoire ou amarre os nervos!”
As notícias da capital e provincia ocupavam uma página, tal como as do “Estrangeiro” e a página 18 aparece esta notícia:
No Tribunal Plenário da Boa-Hora, presidido pelo desembargador Morgado Florindo, começou o julgamento dos srs. Francisco José Cepeda Bruto da Costa, de 20 anos; António Manuel de Almeida Santos Cordeiro, de 21 anos; Manuel António de Oliveira Carmelo Rosa, de 20; Maria da Graça Melo Cabral Marques Pinto, de 20; António José Martins Cabral, de 20; Maria João Jordão Pinto Lobo, de 19. todos solteiros e alunos da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, e Mário Costa Martins de Carvalho, casado, de 26 anos, candidato à advocacia, de Lisboa, acusados de actividades subversivas contra a segurança do Estado. Com excepção do segundo e do terceiro, os restantes encontram-se presos.
Segundo a acusação, são todos membros do chamado Partido Comunista português como tal desenvolveram diversas actividades. Foram aliciados em 1969 e 1970, passando todos eles a usar pseudónimo para melhor esconderem tais actividades que foram exercidas na Faculdade de Direito de Lisboa. (…)Têm procurações dos acusados os drs. Salgado Zenha, Carvalho de Oliveira, Vasconcelos Abreu, Goucha Soares, Lopes de Almeida e Herculano Pires e foram indicados para serem ouvidos no julgamento dois declarantes, duas testemunhas de acusação e cinquenta e quatro testemunhas de defesa.”

Ao lado da notícia, decorria o folhetim do “Julgamento do caso da Herança Sommer”, com relato do depoimento da testemunha José Cruz Silva, técnico fiscal, que foi instado pelo dr. Salgado Zenha, advogado do réu revel ( António Champalimaud), esgotaram mais uma sessão, a 208ª do julgamento do caso da herança Sommer.” (…) Perguntado à testemunha se algo sabe sobre a restituição dos respectivos títulos, feita pelo arguido ausente a suas tias, respondeu afirmativamente. Declarou que essas acções foram restituídas em 1957. A ordem, dirigida ao sr. Constantino Sobral, partiu do sr. António Champalimaud. Declarações de registo, Pgamento de dividendos. Correspondência entre os títulos e o registo. Técnicas para operar a destrinça de acções – campo em que o depoente espraiou os seus conhecimentos.”

Para emoldurar o quadro das notícias a preto e branco, esta: “Comunicado das forças armadas de Moçambique- Quase mil baixas entre os geurrilheiros nos últimos dias”.
Em baixo, a encerrar a página em local quase discreto, um “comunicado das Forças Armadas. O serviço de Informação Pública das Forças Armadas comunica que morreram em combate, na província de Angola, o soldado do recrutamento da província nº 61032770, João Wans Wuter, natural de Balombo e o soldado nº 04956771, Leonel Bento Duarte, natural de Alborgas, Sintra, filho de Joaquim António Duarte e de Adelina Gertrudes.”
E a seguir vem a página de desporto- “Agostinho poderá ser o chefe de fila da equipa da Poulidor”!

No fim da leitura do jornal, encartado no meio ainda vinha o suplemento de 20 páginas, com artigos como “ A democracia do Pobre”, crónica de Jean François Revel; o cartoon de José de Lemos; um folhetin tirado de um qualquer romamce policial, no caso de Maxwell Grant; uma resenha de Jornal de Jornais, compilada por José Augusto, correspondente em Paris; “Só para si, minha Senhora” e ementas culinárias e duas páginas centrais dedicadas a um tema: alcoolismo ou Louse Michel, a “virgem vermelha” da comuna de Paris”; um artigo sobre as eleições italianas e o destino da Europa , num exclusivo da revista francesa L´Express.
À quinta feira, o suplemento do Popular chamava-se “Quinta –Feira à tarde” e trazia textos encimandos na primeira página por uma pintura.

O Quinta-Feira à tarde de 24-5-1973, punha uma pintura de Peter Orlando, “ o pintor norte-americano que expôs em Paris, sob a égide da Casa de Portugal”, a encimar um conto de Augusto Abelaira- O texto Diabólico. Na página seguinte, Urbano Tavares Rodrigues dizia que “escrevo para dar consciência a quem me leia de que temos a obrigação de transformar o mundo” e mesmo em baixo, escrevia-se sobre Daniel Defoe, perguntado João Gaspar Simões:“criador do primeiro anti-romance?” As páginas centrais eram dedicadas ás Letras e Artes. Manuel Poppe criticava um livro de João Araújo Correia sobre Camilo ( Uma sombra picada das bexigas) e havia saudades para José Rodrigues Miguéis assinadas por um tal B.-B. Entre os livros escolhidos estava a revista “Análise Social” do Instituo Superior de Economia, assinada por Ruben Andresen Leitão e na página 5, um título intrigante – “Mafaldinha e Charlie Brown” – que começava assim: Quando Rabelais escreveu o seu Gargantua, estava cansado de receitar unguentos e vesicatórios para a miséria física das pessoas. Então usou a lanceta do riso no ventre da sua época.” E continua Agustina Bessa Luís – sim! É mesmo dela!- citando o Rabelais: “ Ao ver as aflições que vos consomem, antes risos que prantos escrever, sendo certo que rir é próprio do homem”. E transporta as citações para a análise das bandas desenhadas de Quino e Schultz. A página 15 é preenchida por um conto- de Maria Fernanda Adão Marques. Poupo o tempo da transcrição, mas não poupo a referência ao rigor da linguagem; à pontuação aperfeiçoada e ao vocabulário escolhido. A fls. 5, ao lado da continuação do Texto Dialógico de Abelaira, está a recensão crítica a uma obra emblemática do sec. XX- “O Homem sem qualidades “ do austríaco Robert Musil. Uma recensão crítica não assinada para “Um grande romance dum grande romancista”.
E não fica por aqui o recheio deste “Quinta Feira à tarde” de 24.5.1973! Nas páginas centrais das Artes e Letras, aparece um desenho de Gustrave Flaubert, para ilustrar o artigo de João Gaspar Simões sobre a “Correspondence” do mestre. JGS chama-lhes “Notas Marginais”…e na secção de crítica literária , por Manuel Poppe, um artigo em forma sobre o DIárioXI de Miguel Torga – “literatura forte e descomprometida” e um anúncio a um livrito de Millor Fernandes, brasileiro do humor, “Computa, computador, computa”, a par com a recensão crítica e breve do livro de Jacques Le Goff, Os intelectuais na Idade Média. Fecha a página, um outro artigo de Fernando Pamplona, sobre Camões- Camões revive, com a reprodução da gravura da primeira edição inglesa dos Lusíadas.
Mais exemplos de “Quintas Feiras à tarde”?
Em 8.10.1970, João Gaspar Simões escrevia sobre a literatura francesa, para perguntar se estaria doente. J. Rentes de Carvalho fazia uma antologia de contos, desde Fernando Pessoa. Nas Letras e Artes, Alfredo Marques, escrevia sobre “ A linha estética na obra de Gottfried Tritten” e na Crítica Literária, sobre a obra Mistérios de Lisboa de Camilo.
Em 18.5.1970, escrevia-se sobre Giorgio de Chirico e Agustina Bessa Luís escrevia sobre “ A chave dos Sonhos”.
Em 21.1.1974, aparecia Mário Dionísio a dizer: A publicidade neste caso só poderia ser uma séria e demorada, constante, obra de educação, que elevasse o nível cultural do País e criasse a necessidade de ler”. João Gaspar Simões escreve sobre alguns poetas que conheceu, neste caso, Fernando Pessoa- a última vez que o vi. O tema principal é sobre Ungaretti e algumas traduções. No centro das Letras e Artes aparece “ O regresso de João Sem Medo” de José Gomes Ferreira e do outro lado, Soljenitsine e a recensão crítica a “Agosto, 1914”.

Porém, não era apenas o Diário Popular que tinha suplementos deste tipo.
A Capital, à quarta Feira, não deixava os créditos nessa área, por mãos alheias. No dia 17.5.1972, o suplemento Literatura e Arte passava um texto de Afonso Cautela sobre Orson Welles e “O Processo” no texto de Kafka e interpretação do actor.Na página 4 o crítico Nuno de Sampayo escreve sobre “A mosca iluminada” de Natália Correia e na página seguinte, Romeu de Melo disserta sobre “Filosofia e Cultura”. No centro do jornal, “Gritos e Dichotes” de Alexandre O´Neill, com dois “poemas”. Na última página a nova sobre as “Novas Cartas Portuguesas” das três mulheres, Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. A obra deu brado e foi notícia lá fora, pela sua proibição…
E não ficaria completra a revista de imprensa dos inícios dos anos setenta se não se mencionasse A Mosca” do Diário de Lisboa.

Comparando isto com a imprensa actual, mesmo os jornais mais intelectualizados, como o Público ou o Diário de Notícias, nem é preciso chamar aqui a testemunhar, as revistas de antanho: a Vida Mundial de finais dos sessenta e princípios dos setenta; Ou até o Cinéfilo, revista já da era marcelista, dirigida por Fernando Lopes e António-Pedro Vasconcelos, redigida por Adelino Cardoso e João César Monteiro, entre outros, onde se inclui Vasco Pulido Valente e primorosamente paginada por Luís Filipe da Conceição e José Araújo ( onde estão estes tipos?).
Também não é preciso chamar a terreiro o Observador, aparecido em 19 de Fevereiro de 1971.

Termino com dois textos. Um deles é do Diário de Lisboa de 4.6.1973. Outro, do 24 horas de 17.3.2005.
Escolham os autores. Um deles é Pedro Tadeu.

1. “ Dar lição tem sido talvez a atitude mais frequente entre nós nos últimos cinquenta anos, durante os quais se usou largamente do tom magistral, mesmo quando de caseiras matérias se tratava. Sempre o período buscou o arredondado retórico, a fórmula lapidar, e sempre as palavras desceram do alto das tribunas como do alto dos púlpitos, graves, definitivas, significantes de um mundo estabelecido na suma perfeição. Tal como a assistência nas igrejas, o silêncio respeitoso era de regra (…). O tom modificou-se algum tanto nos últimos tempos: tornou-se mais coloquial, mais conversado, e o discurso admite já certas expressões que antes ofenderiam a pureza estilística.”

2. “ Começo a achar que este Governo ainda pode vir a ter tanta piada como o anterior. O primeiro-ministro mandou os seus homens andaram calados.

Atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir…








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