quinta-feira, julho 23, 2009

Negócios desalmados


O 24 Horas de hoje coloca assim na primeira página um assunto menor e de contornos "sem mistério algum", segundo o visado que pelos vistos nem sabia do caso...que se resume assim:

A IMO 224, sociedade imobiliária que funciona no mesmo endereço da firma de advogados PLMJ de Júdice e a que o mesmo não alheio, já "fez negócio", através de contrato escrito, com cerca de dúzia e meia de proprietários de terrenos no concelho de Loulé, com vista a uma aquisição de uma área total de 28 hectares, na localidade de São Clemente.
O objectivo do negócio cujo segredo agora se gorou, perdendo a alma, seria a especulação imobiliária decorrente de um empreendimento futuro no local: a construção do maior IKEA da península Ibérica. As aquisições têm vindo a realizar-se desde Dezembro de 2008.

O caso, confirmado pelo próprio Júdice, é apresentado por este como desprovido de qualquer mistério. Será?

Em primeiro lugar, o investimento é de grande vulto: até agora a IMO 224 já terá gasto 8,685 milhões de euros de um total previsto de 15 milhões.
Em segundo lugar, quem investe tanto bago, tem de o fazer pelo seguro do correio expresso: em sigilo que pelos vistos exige aos vendedores e depressa, antes que outros lá cheguem.
Até aqui, nada de novo no negócio típico de quem especula em imobiliário. Nada a apontar e nada a referenciar. Mas...

Como é que a IMO 224 da PLMJ soube do assunto que se liga umbilicalmente à implantação nessa área precisa, de um empreendimento com aquelas dimensões, ou seja, o maior IKEA da Península?

A esta pergunta continuará a não poder ser dada resposta, mas como perguntar não deve ofender quem assim se desenrasca tão bem no meio empresarial de grande vulto, aí vai uma série delas:

A mais estranha de todas e que deixa água no bico é o facto de José Miguel Júdice dizer-se desconhecedor de um negócio com aquela dimensão...e permite perguntar outra vez: sabia ou não do assunto?

A PLMJ tem alguma relação privilegiada com a IKEA que lhe permita antecipar a conclusão do negócio? É que a notícia fala na hipótese alternativa espanhola, em Huelva...

Segundo se indica, a PLMJ conhece bem a IKEA...porque "The team provides regular labour advice to big-name clients such as Alliance Healthcare, Ikea, Ford, Shell and Vodafone, while also providing employment litigation services as needed. Abel Mesquita leads the team". Mais aqui.

Por outro lado, se não tem esse saber privilegiado, o conhecimento do segredo negocial, veio pela certa por outras vias mais prosaicas.

Por exemplo, da parte de quem decide administrativamente. Ou seja, da Câmara municipal local, Loulé, cujo presidente Seruca Emídio é social-democrata, num caso que pelos vistos, o 24 Horas quer fazer de anjola ao nem sequer mencionar o paralelismo com o Freeport.

Para ver isso com toda a evidência, basta soletrar algumas palavras no Google e vai-se ter aqui e principalmente aqui.

Temos portanto um novo freeport em embrião? Se assim for, é altura de a PJ e o MP mostrarem o que valem.

PS: a meu ver o assunto tem contornos mais prosaicos. A PLMJ representa a IKEA, como parece? Então, actua em nome e por conta da empresa. Até aqui, nenhum mistério.
E actua como? Adquirindo terrenos no sítio onde presumivelmente irá ser construído o empreendimento.
Neste caso, subsiste o mistério: como é que a empresa (e a PLMJ) já sabe que o projecto, com toda a complexidade burocrática e legal, vai ser aprovado? Em zona, no mínimo problemática.
É este mistério que José Miguel Júdice tem que esclarecer.
È que as semelhanças com o Freeport começam a ser preocupantes.

5 comentários:

joserui disse...

Sabia ou não sabia? A pergunta é retórica, suponho.
Além disso, são necessários dois para dançar o tango. Não só tem de ter ligações privilegiadas com a IKEA, como com as autoridades portuguesas.
Relembro que a mesma IKEA já instalou uma fábrica -- com a maior das calmas --, numa zona de reserva ecológica nacional. E como é sabido, é nessas zonas (junto com as reservas agrícolas nacionais), onde os negócios da especulação dão para tudo e para todos. Quem tratou desse assunto? Também foi a PLMJ? Era interessante saber.
De uma forma ou de outra, foi tudo feito na mais estrita legalidade e nem poderia ser de outra forma. -- JRF

Vítor Ramalho disse...

Os viras casacas são recompensados pelo sistema.
Nas nossas administrações instalou-se uma corja de corruptos que muito tem enriquecido, casos como este de maior ou de menor envergadura sucedem-se um pouco por todo o país.

lusitânea disse...

Por este andar o gajo ainda vai aparecer ao lado do Louçã.Desde que tenha lucro, claro...

Vítor Ramalho disse...

Antes do 25 de Abril era nacional-socialistas, depois experimentou as prisões de Abril e saiu democrata, pé ante pé ainda o vejo no BE.

josé disse...

Tem um artigo no Público de hoje que vou comentar daqui a pouco, depois do assunto dos Plenários.

O Público activista e relapso