quarta-feira, agosto 12, 2009

Desatinos

Manuela Ferreira Leite, confrontada com os comentários depreciativos a propósito da inclusão de António Preto nas listas de candidatura ao Parlamento, disse que "Tenho de esperar aquilo que legitimamente todos devem esperar que é a decisão da justiça, e não tenho de me antecipar, dando eu a minha própria sentença." ( Público de hoje)

Parece correcto, se estiver a falar da responsabilidade criminal.

Mas como compreender a sua lógica se logo a seguir fala no caso Lopes da Mota, para dizer que " temos uma pessoa que está a representar mal Portugal, que está a humilhar as instituições internacionais, que está acusada de manipular o sistema de justiça." ?

Não se entende que MFL apele à presunção de inocência do arguido acusado e pronto para julgamento em processo criminal, António Preto e denuncie ao mesmo tempo o se desapego a essa presunção de inocência, relativamente a Lopes da Mota que nem está acusado de qualquer crime, encontra-se ainda a ser investigado em sede de processo disciplinar e nem se sabe se daí resultará qualquer sanção que só poderá, nesse âmbito, ser de carácter disciplinar.

É demasiada confusão e desatino para quem se propõe liderar o país nos anos mais próximos.

5 comentários:

JB disse...

De acordo no essencial.

Politicamente, é um contrasenso falar do caso Lopes da Mota, porquanto a situação processual - embora em processos de natureza diferente - é semelhante e o que vale para um, vale em princípio, para o outro. Donde, ao falar nesse caso, MFL está a contradizer-se relativamente às listas de deputados.

Dito isto, os casos não inteiramente iguais. Lopes da Mota enfrenta um processo disciplinar por actos que praticou no exercício do cargo de presidente do Eurojust e que indiciam a falta de independência e imparcialidade necessárias à continuação num cargo que as exige.

Preto está acusado por crimes que não estão, tanto quanto sei e corrijam-me se estou enganado, nem directa, nem indirectamente, relacionados com a actividade de deputado, que vem exercendo e para a qual, de novo, se candidata. Nem os crimes pelos quais está indiciado significam alguma suspeita de ilícitos que possam vir a ser cometidos pelo arguido enquanto deputado. A questão coloca-se, pois, em termos de idoneidade moral e não tanto em termos de riscos da prática de ilícitos no exercício do cargo, como acontece no caso de Lopes da Mota. O que é uma diferença relevante na análise das duas situações.

joserui disse...

Um dos problemas do PSD é comer da mesma malga do PS. É tudo uma cambada de hipócritas.
Mas politicamente, até o valoroso edil de Gaia observou o evidente: Este Preto e a outra senhora são personalidades assim tão incontornáveis para o PSD, que se tornassem imprescindíveis nas listas, sujeitando um partido que quer alternar a um nunca acabar de comentários e opiniões pouco abonatórias?
Faz de certa forma lembrar a senhora de Felgueiras. Sabia muito para a deixarem cair. Estes devem ser iguais. Devem saber muito e essa carta esteve em cima da mesa das "negociações". -- JRF

Mani Pulite disse...

O caso Preto é um erro sem qualquer duvida.Não podemos ignorar contudo que muitos outros pretos foram corridos das listas o que revela a coragem de MFL.Quanto ao caso Lopes da Mota de acordo com JB,o caso é muito mais grave e tem uma dimensão criminal e não só disciplinar por muito que isso custe ao PGR e PS.Sobre este assunto ver o post Do Portugal Profundo de hoje.

joserui disse...

Desapareceu o meu comentário... Outra vez:

muitos outros pretos foram corridos das listas o que revela a coragem de MFL
Muitos? Já parece o PS. Têm todos muita coragem. Diria mesmo mais: São todos muito corajosos! -- JRF

rb disse...

"Parece correcto, se estiver a falar da responsabilidade criminal."

Se é assim, então também não se devia antecipar a decisão da justiça nos casos de que Sócrates é suspeito, sendo que este nem sequer isso é perante a justiça.

O Público activista e relapso