terça-feira, abril 20, 2010

A praça da tristeza

Por casualidade, assisti , à hora do almoço, à parte final do programa de tv Praça da Alegria que se apresenta na RTP1, animado por Sónia Araújo e João Gabriel.
Entre reportagens ao vivo e debates em estúdio, foi alvo de atenção o caso particular de uma sentença de um tribunal colectivo algures neste país, e que condenou numa pena de prisão de 12 anos, um homicida que alvejou um jovem, pelas costas, segundo se dizia, na sequência de uma altercação de trânsito.
As vozes inflamadas dos familiares directos, permitiam verificar o ar de indignação que os mesmos sentiam pela pena que entendiam levíssima e escandalosa. Apesar da "elevada indemnização" referida pelo animador do programa, o familiar do jovem morto a tiro "pelas costas", não se conformava e a pedido do animador deu a sua sentença: vinte anos de cadeia era a pena justa. Doze é um escândalo.
Não vou discutir os termos do julgamento nem sequer do caso. Aliás, o próprio animador dizia que não o conhecia integralmente.
Mas é exactamente aqui que bate o ponto. Um programa de televisão de grande audiência, com público variado e que pode estar em casa ou em lugar em que a tv está ligada à hora do almoço, viu em directo, um julgamento popular, sumário, em contraste com o julgamento efectuado no local próprio , ou seja o tribunal.
O programa e os animadores não se preocuparam minimamente em contextualizar o caso, mostrando os factos que permitem o julgamento com garantias de aplicação da Justiça. Apenas quiseram mostrar a reacção dos familiares da vítima a uma pena que julgaram irrisória e injusta.
E mostraram de modo a que toda a gente ficasse ciente da versão das vítimas que não concordam com uma sentença penal.
Que quer isto dizer? Que em Portugal, a Justiça é apresentada na tv como um acontecimento digno da praça da alegria: sem rigor, sem objectividade, sem contextualização, sem compreensão da lei, do Direito ou até mesmo da Justiça.
O populismo nasce assim e desenvolve-se em alfobres destes. E a tv destas praças da alegria julga-se porventura um modelo. Se lhes perguntarem, aos animadores, o que pensam de uma Manuela Moura Guedes será provável que façam uma careta de reprovação...

Questuber! Mais um escândalo!