domingo, agosto 12, 2012

Pedro Ferraz da Costa há décadas que tem razão

Mais uma entrevista de Pedro Ferraz da Costa, desta vez ao jornal i de fim de semana ( imagem incluída). Vale a pena ler, porque é uma voz da razão neste Portugal que quimeras.

O que aconteceu em termos económicos, em Portugal, a seguir ao 25 de Abril? Tivemos uma revolução comunista que destruiu a quase totalidade da economia e do sector financeiro, o que anulou os centros de racionalidade económica do país. Tentámos depois encontrar uma solução que foi a de apoiar o sector exportador existente, com segmentos muito modestos, como o calçado, as madeiras e o vestuário, que conseguiram aumentar as exportações e segurar a balança das transacções correntes. As remessas dos emigrantes deram uma contribuição decisiva, levando nalguns anos a poupança nacional acima dos 20% do PIB.
(...)
Como não se resolveu o modelo, ia-se desvalorizando a moeda para manter a competitividade externa. Quando entrámos na Comunidade Europeia éramos, numa comunidade relativamente fechada, os fornecedores dos artigos mais baratos. Essas exportações e os fundos da União Europeia levaram os governantes da época – o prof. Cavaco Silva – a pensar que tinham descoberto o segredo do futuro, pois que, sem mexer na herança da revolução, iam assegurando crescimento através do financiamento comunitário de infra-estruturas. Já a minirrecessão de 1993 mostrou que havia dificuldades. A seguir aconteceram coisas decisivas. Ainda durante o tempo de Cavaco, a queda do Muro de Berlim e a já previsível abertura da UE a Leste levou-me a prever que uma parte dos fundos comunitários passaria a dirigir-se para aquela zona e que esses países atrairiam investimento estrangeiro que deixaria de vir para cá. E que se transformariam em concorrentes temíveis nalguns sectores, como aconteceu, por exemplo, no sector automóvel. Sempre avisei os sucessivos primeiros- -ministros disso. Tinha sido a altura de prever que o modelo que nos tinha levado à adesão já não servia para o futuro.

jornal i- Como insere o papel do eng.º Guterres nessa sucessão de tiros ao lado?

Foi a convicção do eng.º Guterres de que podia aumentar a despesa pública quase sem limites, aproveitando a folga da baixa das taxas de juro, que nos levou à crise actual. Ou seja, em vez de aproveitar a baixa das taxas de juro para reequilibrar o défice do Estado, aproveitou essa folga para gastar noutras áreas que nem eram reprodutivas directamente nem melhoraram substancialmente, como era necessário, a qualificação profissional do país. A manutenção de incentivos fiscais e de subsídios às taxas de juro para compra de habitação, para sustentar a construção e a especulação imobiliária, e a redução dos horários de trabalho para 40 horas sem correcções salariais foram dois dos seus maiores erros. Achou até que se podia criar emprego social sem qualquer preocupação com a sua sustentabilidade futura.

Entretanto, os países mais competitivos da Europa e os Estados Unidos colaboraram para abrir à China a Organização Mundial do Comércio, tendo um efeito catalisador da globalização já em curso por via do desenvolvimento das telecomunicações e das facilidades de transporte de pessoas e mercadorias. Os efeitos excederam largamente as previsões, mais uma vez para o mau e para o bom.

Questuber! Mais um escândalo!