Rui Rio, presidente da Câmara do Porto ( "a segunda maior câmara do país", lembra o mesmo a quem porventura tal não saiba) foi alvo da atenção política de uma revista - Porto Menu- de um munícipe, Manuel Leitão, que não morrendo de amores pelo autarca fez publicar uma foto na capa da dita com uma expressão equívoca retirada de uma pichagem anónima num prédio da cidade- "Rio és fdp".
Rui Rio ofendeu-se pessoal e intransmissivelmente com tal capa de revista distribuída aos milhares. Vai daí, para evitar a propagação da ofensa accionou civilmente o responsável pela publicação, antecedendo a demanda com uma providência cautelar para assegurar a eficácia, ou seja, evitar que a expressão fosse repetida, repercutida nos media e propagasse a ofensa grave à honra de um político polémico.
Quanto à eficácia, estamos conversados: nunca se falou tanto no "Rio és fdp" como agora, com a publicidade que o próprio entendeu conferir ao assunto, comentando profusamente a decisão judicial de o convocar para depor.
Quanto à ofensa, também: se Rio se considera ofendido na honra pessoal e política com este tipo de atitudes, então deveria há muito ter procedido judicialmente contra o presidente do FCP ( o maior e melhor clube de futebol do país), cujas declarações públicas sobre Rio são mais gravosas e acintosas que uma palermice daquele teor. Mas Rio, neste caso, nada fez ou disse. Acobardou-se, naturalmente, que isso de ser forte com os fortes é só para quem o sabe ser.
O que sobra deste tristíssimo episódio que envolve "o presidente da segunda maior câmara do país" é outra coisa ainda mais triste e evidente:
Rui Rio, por mor da providência cautelar que propôs para evitar a propagação da folha de couve que putativamente o insultava, chamando-lhe "fdp", um insulto gravíssimo e de teor insuportável para qualquer político que se preze, foi convocado para depor em audiência de julgamento da tal providência cautelar que - note-se- ele mesmo potenciou e determinou.
Pois bem. No final do depoimento, porque a juíza lhe tivesse perguntado, a expensas da defesa que procurava aldrabar o sentido corrente da expressão "fdp", se se considerava um "fanático dos popós", Rio desmentiu: "Nunca ouvi esse disparate". Uma coisa é gostar, outra é ter uma paixão profunda". E dito isto, à saída comentou a diligência, a pergunta que lhe fez a juíza e declarou do alto da sua importância de "presidente da segunda maior câmara do país": "O presidente da segunda maior câmara do país vir aqui responder em tribunal se lhe chamam fanático dos popós, em Agosto, quando os tribunais estão fechados e só coisas urgentes é que são tratadas, revela o quadro em que a justiça e o regime político em que vivemos estão".
O jornal i revela que "uma hora depois, Rio defendeu numa entrevista à RTP Informação ( onde foi relembrado e publicitado perante milhões que de outro modo nunca o saberiam, mais uma vez, o funesto caso do "fdp")que é urgente um pacto de justiça entre o PSD, o PS e o CDS para fazer uma reforma "profunda". Se isso não acontecer é só uma questão de tempo para acabar em definitivo a democracia formal". Segundo o jornal, Rio vê na justiça uma "total incapacidade para se auto-regenerar".
E sobre o "fdp" do título da revista? "É evidente" o que lhe chamaram, considerou Rio.
Portanto, Rio, para reportar uma "evidência" para si incontestável e que no seu superior entender deveria ser liminarmente reconhecida pelos tribunais, sem qualquer diligência suplementar de prova, muito menos de defesa, acabou por insultar o tribunal que o convocou. Ao dizer que este assunto demonstra o estado caduco a que chegou a justiça, acaba por chamar à juíza que o chamou, um nome pior que qualquer "fdp".
O Público de hoje escreve que Rio considerou publicamente o episódio da sua comparência em tribunal como uma contribuição para "descredibilizar o cargo, a própria justiça e o tribunal." E mais ainda: " o país não tem muito a esperar de um regime judicial que se comporta desta maneira".
Evidentemente que perante estas declarações em si mesmas também inequívocas da falta de respeito para com o tribunal, "o presidente da segunda maior câmara do país", num regime democrático como aquele que putativamente defende, deveria responder criminalmente e condenado sumariamente por tal desaforo. Mas isso não lhe terá ocorrido.
Se lhe tivessem perguntado o que pensa e diz Pinto da Costa sobre si e a sua política no Porto, Rio responderia igualmente: "é evidente". Mas tal evidência não ressumaria a qualquer "fdp" de algibeira. Seria muito, mas mesmo muito pior...e para já sem qualquer providência cautelar que o valha.