O Bloco de Esquerda vai mudar de líder mas não de ideias-base. Tanto o Bloco como o PCP vivem de ideias feitas há muitos anos e que não expõem claramente aos portugueses que neles votam.
As ideias básicas peregrinaram muito desde os tempos de Marx, Engels, Lenine, Estaline, Trotsky e outros que os seguiram e interpretaram adequando aos tempos que viveram as ideias dos tempos passados. São ideias comunistas que ninguém segue no mundo europeu actual e em países que já o foram são mesmo proibidas. Et pour cause.
Ainda assim, em Portugal as velhas e relhas crenças da Esquerda são recicladas ocasionalmente na linguagem corrente. Actualmente não há capitalismo. Há mercados. Não há luta de classes. Há privilegiados e milionários...
Basicamente a ideia é simples: o capitalismo enquanto sistema de exploração do Homem pelo Homem é sistema maldito. A luta de classes, enquanto modo de explicação de conflitos entre as pessoas, continua sempre presente nos espíritos das esquerdas.
Em 1974 a Esquerda portuguesa em geral, incluindo sectores do PS que não aceitavam o jogo democrático ocidentalizado, previa um futuro radioso de amanhãs a cantar em Portugal, no socialismo, palavra "muito mudada" no cantar de José Afonso que dela tinha a ideia mais radical.
Nenhum país europeu, na época e depois dela, logrou atingir um desenvolvimento ideológico e prático tão avançado, tendente à destruição do sistema capitalista tal como o conhecemos: grupos económicos poderosos, sólidos e criadores de riqueza, como a CUF e o grupo Champallimaud ou dos Mellos; bancos privados e sistema financeiro a apoiar e crescimento e desenvolvimento económico segundo a lógica capitalista de acumulação de capital e investimento produtivo.
Nenhum país europeu fez o que Portugal fez em 1974-1975: nacionalizar quase toda a indústria importante que o país tinha, fonte de criação de riqueza e ao mesmo tempo nacionalizar quase toda a banca, obrigando a uma fuga em massa de capitalistas portugueses para o estrangeiro, escorraçando-os como "fassistas", mormente para o Brasil de onde alguns regressaram alguns anos depois, para jamais refazerem o sistema que então existia e aproveitarem o que então havia para se locupletarem em desforra e sem o espírito empreendedor de antanho.
Os autores morais e materiais desta tragédia nacional foram evidentemente os esquerdistas de todos os matizes.
O seu ideário, simples de entender e que ainda hoje sufragam, sem grandes reservas a não ser de exposição pública, está aqui explicado, nesta entrevista de João Martins Pereira, falecido há pouco e um dos gurus da Esquerda portuguesa, ainda hoje citado por economistas políticos como Francisco Louçã.
Lendo a entrevista, publicada pela revista Vida Mundial em 17.10.1974 ( conduzida por um dos expoentes do jornalismo comunista. Adelino Cardoso) percebe-se melhor como arruinaram o país que somos. Se os deixarem voltam a fazê-lo.