segunda-feira, fevereiro 07, 2022

Sita Valles, mancha-negra e madame min e o "trauma histórico".

 Há uns anos foi publicada a história de Sita Valles, uma portuguesa de Angola que se tornou comunista, ligada ao PCP, ainda antes de 25 de Abril e que retornou para Angola na altura da independência, em finais de 1975, acompanhada de muitos outros militantes do comunismo. 

Aí ficou e depois de se ter relacionado com indivíduos que queriam tomar o poder a Agostinho Neto, foi assassinada em 1977, por ocasião de uma gigantesca purga organizada pelo poder do MPLA daquele dirigente e que liquidou milhares de pessoas, apenas por serem "fraccionistas". 

A história foi publicada em livro, em 2010 e tem esta capa e contra-capa:



Em algumas passagens fiquei varado com alusões a relacionamentos pessoais da biografada, mormente com um certo José Van-Dunem, morto igualmente na mesma ocasião e que era irmão de uma certa ministra que tivemos por cá até há umas semanas e que se prepara para tomar assento no STJ. Além dessa irmã, o mesmo Zé tinha outra irmã que "trabalhava na TAAG". 

As passagens em causa são estas, muito elucidativas de um certo percurso nebuloso e anónimo, sem nome posto mas reveladoras do ambiente que se vivia em 1975 a 1977.





Sita e o "mancha-negra" foram pais de um menino, em Fevereiro de 1977 a quem puseram o nome simbólico de "Che", aliás João Ernesto que foi cuidado nos primeiros dias pela mãe e "irmãs" do Zé, ou seja, entre elas a "madame min" que diz que chorava muito. "Chorava muito, é pouco, dizia a sua tia Van Dunem". 

A tia Van Dunem esteve em Angola, nessa altura, ou seja em Abril de 1977 e tinha bem a noção de que o irmão e cunhada podiam ser presos em breve. Como foram...


Por outro lado e relacionado com tudo isto vale a pena ler esta notícia de Setembro do ano passado no DN:


Um "trauma histórico", sem dúvida e quanto a isto vale a pena ler esta parte. Um dos assassinados, Nito Alves, foi atirado ao mar, com uma pedra atada. E na mesma altura foram mortos outros, incluindo José Van Dunem, o irmão de madame min. Enfim, será que não o atiraram também ao mar? E então para que serve esta diligência pericial, oficializada entre dois Estados como mostra a foto acima?


E quanto ao tratamento dado aos familiares e amigos dos "fraccionistas" não restam dúvidas que era "democrático" e nada tinha a ver com as torturas da PIDE e do famigerado regime de Salazar que todos combatiam com denodo, incluindo a madame min:


E afinal porque é que isto terá sucedido? A explicação parece prosaica: Sita era uma agente do PCP e da URSS e terá influenciado o Zé...


E como é que reagiram os familiares do Zé, incluindo madame-min? Assim, o que denota um poder de penetração nos círculos de poder, assinalável, já nessa altura:


E o PCP como se comportou então? Tipicamente:



E o tal Che? Foi isto, embora em modo muito, muito resumido: 



Por mim, gostaria de saber mais sobre a dita "madame min" e o que fez nesses anos de 1975 a 1977, porque é  personagem fascinante da nossa vida democrática. E não parece. Os elementos que aqui ficam servem apenas para ajudar a compor um puzzle inacabado. 

De resto sobre estes e outros assuntos da "política", dedico-os com especial enlevo a um desembargador que escreveu por aí algures que neste blog se escrevem as "loucuras mais inimagináveis"...

 

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