Quando era pequeno as pessoas mais velhas diziam da canalha que estava muito sossegada e sem fazer barulho que "estariam a fazer alguma".
Durante alguns meses José Sócrates andou sossegado e afastado dos media, mesmo os do seu amigo Galinha ( Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF).
Hoje a revista Visão revela as novas companhias ( diz-me com quem andas...) o que andou a fazer e foi isto:
Ontem na tv, este Sócrates denegou a qualidade de arguido que obviamente mantém, no processo mais importante das últimas décadas em Portugal, a par de outro em que é também visado ( BES/GES) e teve o topete de afirmar que foi "inocentado" , "ilibado", de todos os crimes pelo tribunal ( ou seja o juiz Ivo Rosa, cuja decisão está em recurso e por isso ainda não transitou em julgado, não autorizando aquela falsidade e mentira proclamada como se fosse a maior banalidade que aliás repetiu como se fosse um facto). De caminho referiu que no mesmo processo foi acusado de crimes "novos" e dos quais não teve oportunidade de se defender, apesar de os factos serem os mesmíssimos, alegando mesmo alteração substancial de tais factos, com efeitos processuais.
Como cerejas podres no topo destas mistelas malcheirosas, tem alegado que há ilegalidades na distribuição dos processos em que figura como arguido e que no principal " escolheram aquele juiz que queriam, que permitiu todas as barbaridades. O equivalente do Sérgio Moro aqui em Portugal, que se chama Carlos Alexandre".
Nestas proclamações grandiosas e difamatórias, publicadas no Brasil e já repetidas, esqueceu-se de referir que os tribunais superiores sufragaram todas as decisões do referido juiz e só um lhe deu alguma razão, acabando por o libertar da prisão preventiva e esse foi afastado da magistratura por ser corrupto.
Por outro lado, compara-se obviamente a Lula, insinuando que o poder judicial o tramou de forma indigna e ilegítima, através de "barbaridades" que não nomeia mas deixa claro terem sido do género das que tramaram Lula.
E quais foram estas "barbaridades" que tramaram Lula? Pois, foram as conversas mantidas pelo juiz Moro com os investigadores dos processos, na qualidade de juiz de instrução e cujo teor foi revelado através da prática de um crime: a intervenção de um hacker que acedeu ilegal e ilegitimamente aos registos telefónicos do juiz Moro.
Ou seja e segundo a lógica do mesmo Sócrates, algo de que Sócrates se serve para acusar a magistratura portuguesa, no caso das distribuições dos processos, ou seja aspectos circunstanciais e meramente acessórios do principal que são os factos que o condenam inapelavelmente no tribunal da opinião pública, por enquanto e previsivelmente nos tribunais comuns, quando chegar o momento.
Neste contexto e tendo em conta o que se passou no Brasil, o famigerado hacker foi obviamente aproveitado politicamente, senão mesmo pago ou recompensado ou mesmo instigado, pelos apoiantes de Lula que erigiram a "ilegalidade" de Moro como o maior crime contra a justiça. Serviram-se no fait-divers, ampliaram o facto, conseguindo convencer alguns que tais conversas envenenavam a isenção e independência do juiz e manipulando desse modo a mesma justiça de tribunais superiores controlados pelo poder político, conseguiram a libertação do mesmo Lula, com tal expediente.
Não é de estranhar se Sócrates tiver a mesma tentação que obviamente já lhe terá ocorrido: apanhar conversas privadas de magistrados portugueses, através dos aludidos métodos e conseguir fazer chegar a água ao seu moinho...esperemos para ver.
Tivemos um lampejo de tais métodos e estratégia no caso Freeport em que havia algumas gravações publicadas de conversas com intervenientes no licenciamento do empreendimento que faziam referência clara ao envolvimento de Sócrates no caso. O processo foi abafado por deficiências processuais e foi sempre apresentado por este e os seus defensores como uma "cabala", apontando a própria denúncia dos factos como uma manipulação do poder político que se lhe opunha e portanto deslegitimando tais denúncias. Essa justificação serviu depois a pessoas insuspeitas como o próprio PGR Pinto Monteiro, para afirmar a versão de Sócrates.
Ou seja quando as ilegalidades e até crimes, como no caso Lula, servem para apresentar uma defesa salvífica, valem sempre. Quando os incriminam inapelavelmente, aqui d´el rei que se violou a constituição, a lei e o costume, sendo tudo nulo! É essa lógica dos sócrates e lulas.
Assim, a única estratégia de Sócrates neste momento é lançar o descrédito sobre os processos, arrastar o mais que puder, através de recursos repetidos e que sabe serem substancialmente inúteis, tais processos e insultar, até agora impunemente, todos os magistrados que se lhe oponham, no exercício do dever profissional de actuar em nome da lei e do direito.
Ontem, na entrevista na tv, lançou o anátema sobre o Ministério Público ( agora já não é sobre o juiz de instrução...) que acusou de violar o segredo de justiça e passar aos jornalistas o conteúdo de peças processuais dos seus processos, sendo essa a razão que apresentou para não comunicar aquelas viagens e actividades que a revista Visão mostra...
Até quando é que este arguido vai abusar impunemente do seu estatuto? Onde é que fica a igualdade de todos perante a lei, quando este indivíduo actua impunemente como actua?
Na reportagem publicada na Visão, os sinais evidentes do perigo de fuga à justiça portuguesa são mais claros do que os que existiam no caso Rendeiro...
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