No livro autobiográfico de Jorge Calado ( Mocidade Portuguesa) que ando a ler e quase a chegar ao fim, o autor não perde ocasião em denegrir o tempo de Salazar, a quem chama repetidamente "ditador", ao mesmo tempo que celebra o seu tempo de mocidade nesse mesmo Estado Novo, que afinal tinha coisas de que o autor só diz bem...num exercício curioso de flagelação intelectual paradoxal.
Em várias passagens refere a existência de uma "depuração" política ocorrida em 1947 que o regime promoveu, nos meios académicos e não só, não explicando qualquer contexto susceptível de permitir o entendimento do que se passou. Eram tudo coisas do "ditador" e fica assim arrumado, para o cientista que gostava da simplicidade do belo e que apreciava as ciências e as artes mais a poesia imanente e o seu rigor metafísico. O "ditador" é que lhe estragava os enlevos...mas gostava da obra que o mesmo deixou e esportula generosamente ao longo do livro provas sobejas do paradoxo. Enfim, perdoa-se pelo conteúdo do livro, rico em referências e em exemplos do que era esse tempo do "ditador".
Sobre a "depuração" ocorrida em 1947 fui procurar uma fonte capaz de explicar a perspectiva do regime de então e nada melhor do que Marcello Caetano, no seu livro de 1977, Minhas memórias de Salazar.
Aqui ficam considerações interessantes sobre o "ditador" que estava farto de o ser em 1947 e que até pensava em desistir perante o isolamento a que assistia e ao mesmo tempo considerações sobre a natureza do regime "ditatorial", os partidos políticos e a tal depuração, comparando-a com o que sucedera em França na mesma altura, apesar desse país não ser dirigido por um "ditador" mas por um De Gaulle. Enfim, mais uma vez.
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