quinta-feira, outubro 27, 2022

Da Califa ao PS passando pela FEC(ml) e UDP

 Esta história contada na revista Visão de hoje é um estudo sociológico bem melhor do que algumas teses do ISCTE.

É a história resumida da vida de Américo Santos, "ateu, do PS e de esquerda", de S. João da Madeira e que em pequenino ( e pobre) já dizia que iria ter um Jaguar.  Como tem uma "paixão relativa" por automóveis, tem agora um Maseratti Quattropuorte porque deixou de ser pobre mas "gostava de ter um Rolls-Royce". Bota, chico!

A revista conta o modo como tal aconteceu, mas em termos sintéticos, em pinceladas breves e pitorescas que forçosamente não espelham a realidade comezinha deste género de pessoas, muito mais tintadas a sombrias de personalidade do que parece. 

Até chegar à condição material de não pobre, continuou porém na pobreza de espírito, segundo se pode ler, permanecendo um "patrão de esquerda" que define de modo fácil e também sintético: "basta ser solidário. Estar sempre pronto a ajudar, Sentir e chorar ao lado de quem tem problemas. Desejar permanentemente um País ( sic)  melhor para todos, com melhores condições de vida, e ir contribuindo para isso"

É isto, portanto, um "patrão de esquerda"! Como é fácil de entender,  haverá patrões de direita que não são nada disto que o Américo diz ser. 

Filho de um pai pobre, camionista, e de uma "doméstica", cujos pais tinham uma "fabriqueta", queixa-se das condições de vida do pai que se levantava às cinco da manhã e chegava a casa- que era uma "casa que não era casa, miserável, sem luz nem nada"- às 11 da noite,  com condições de trabalho em "exploração total, uma escravatura" e que passavam por carregar coisas no camião. O repórter - Miguel Carvalho que já escreveu sobre a extrema-direita nos tempos do PREC-  não escreve como seriam as condições na "fabriqueta" dos avós maternos, nem como estes viviam e por isso imagina-se, apenas, para não destoar na jeremíade do Américo contra o patrão do pai, um ingrato como se pode ler e que deixou um ressentimento assolapado na alma do Américo, até hoje.  

Com mais quatro irmãos, mais velhos,  começou a trabalhar artesanalmente, a fazer colares, logo aos oito anos e aos 14 foi trabalhar para a Califa, como "aprendiz de mecânico". O repórter não diz mas era assim que sucedia nessa época. Quem não estudava de dia, trabalhava e se quisesse estudava à noite, como o Américo fez. Milhares e milhares de Américos fizeram assim. Alguns, tal como o Américo, nos intervalos aprendiam a tocar guitarra em bandas de rock português que nessa altura eram como moscas, com nomes exóticos como Tártaros, Álamos, Sheiks ou Chinchilas. Os do Américo eram mais prosaicos: Secretos e Ídolos. As guitarradas do Américo não deviam ser nada de especial porque também se dedicava a trabalhar em casa- a tal casa que não era casa mas dava para trabalhar em casa-e por isso foi no galinheiro que montou uma pequena oficina de reparação de maquinaria ligeira. E quanto a curso, na "escola industrial" nem completou o de electricista mas deu para perceber a diferença entre as correntes alternada e contínua e buscar polos, principalmente isso. 

Quando  chegou a altura da tropa lá foi para a Guiné, como muitos outros, até 1974, sem se rebelar contra a "guerra colonial", apesar de ter ganho consciência política por lá e tendo conhecido o Spínola e o Marcelino da Mata de quem contou cobras e lagartos impublicáveis pelo repórter.  Imagina-se!

Logo a seguir o Américo que tinha sido furriel e já teria um Fiat 126 com o prè que amealhou durante a guerra, entra no vórtice maoísta, da FEC( ml), um partido que acolheu também outros esquerdistas de renome, agora situados no PS, como o Américo que confessadamente gosta é do BE. Oportunidades que surgem, voilá! Uma delas, na época foi ocupar casas devolutas e sem devolução algumas delas, expropriadas aos américos santos da época que não eram ateus, de esquerda e do ps.  

Assim conta o Américo esta gesta gloriosa: "os jovens que estavam próximos de se formar é que foram os obreiros do 25 de Abril. Em cada terra, foram os primeiros a assumir a luta e arrastar os operários, trabalhadores". Nem mais, ó Américo! E na altura, com o ideário da FEC(ml) nem os américos santos se safariam, mesmo sendo patrões de esquerda, embora o Américo na altura ainda não fosse patrão, mesmo de esquerda e a pagar salários e recolher mais valias de direita. Estava do lado dos operários e camponeses, contra os "fascistas e reaccionários". 

Do lado destes fascistas estava o Quim Mineiro que lhes queria limpar o sebo, por causa das ameaças contra a integridade física, propaladas pelos revolucionários de papelão e esteve quase a chegar a vias de facto nesse Verão de 1975. 

O Américo valentão da FEC( ml) todo borradinho de medo, claudicou, amochou e assinou a rendição, até hoje, embora não tenha assinado a extinção do ressentimento e da inveja. Ainda hoje não pode com o Quim Mineiro que foi assassinado há um ror de anos [talvez não; confundi com o Joaquim Ferreira Torres...e fica a rectificação]. Tudo porque eram arrogantes e "olhavam para os pobres com um desdém que se notava, que exibiam".  

 E como é que um personagem deste calibre chega a patrão de esquerda, apaniguado do PS se preciso for? 

Primeiro passou-lhe a febre revolucionária, como a muitos outros que se chegaram ao aconchego de um PS abrangente. Foi essencial tal manobra. Sem ela, não haveria patrões de esquerda. Só de direita. 

O Américo, com o curso incompleto de electricista da escola industrial chegou-se à UDP e depois ao PS. O repórter não explica bem quando nem onde, porquê e muito menos como começou a aventura da Tecmacal que aliás era o que interessava saber. 

Só diz que foi fundada em 1975, ou seja, na altura do PREC e quando o Américo era da FEC(ml) e que agora tem 130 trabalhadores com um patrão de esquerda, solidário e que colhe as mais-valias de modo parcimonioso, pagando salários mínimos que certamente dão para os operários irem almoçar muitas vezes ao Pedra Bela, em Maseratis Quattroruote. 

Hipocrisia, será a palavra adequada, ou haverá outras? Inveja aplicar-se-á? Fica ao critério de quem ler. 

É muito estranho, não é?! A gente fica a pensar se o repórter Miguel Carvalho lhe perguntou alguma coisa sobre isso ou se fica no rol das coisas "impublicáveis" e que por isso não se podem reproduzir. 

O resto é isto, com um relato misturado e confuso em que o pai de um se confunde com os pais de outro e coisas assim:









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