Os jornalistas sindicalizados estão em greve. Não gostam das condições de vida que têm e protestam por isso. Compreende-se.
Porém, o jornalismo tem uma função: ver e mostrar a verdade das coisas, das pessoas e dos acontecimentos. Ou seja, o que toda a gente pode ver, consoante o seu prisma de visão. É por isso que se torna muito importante para um jornalista fazer um esforço de isenção, de independência pessoal relativamente ao que deve escrever ou mostrar. Ou dar a entender de que lado está quando não consegue tal coisa, o que é infelizmente a maior parte dos casos que conheço.
Poucos jornalistas conseguem relatar factos ou mostrar acontecimentos dando a conhecer a verdade que todos podem observar porque geralmente mostram a que lhes é dado ver por si e por quem manda neles.
É esse o drama da profissão. Relatar um fait-divers, um facto como um acidente de viação pode ser fácil, mas ainda assim mostrar imagens ou relatar tal situação pode implicar uma falta de isenção, desde que o jornalista tome posição acerca das causas do mesmo, dando a conhecer a sua versão do acontecimento baseada na informação que recolheu directa ou indirectamente. O que deve então fazer o jornalista num caso desses, para mostrar a outros o que terá sido o caso concreto? Mostrar ou relatar o iter, o caminho para o desfecho, com o máximo rigor possível e recolher apenas as declarações de quem participou no evento ou o testemunhou, para além de mostrar ou relatar o que pode ser visto. O resto é especulação que desvirtua a verdade.
Relatar um acontecimento que transcenda tal situação envolvendo mais variáveis torna-se um pesadelo para a verdade exigível. Mostrar o que sucedeu numa operação judiciária como a Influencer é um desafio para ultrapassa a competência da maior parte dos jornalistas. Assim, centrar a atenção numa logística aparatosa visível e daí tirar ilações que contendem com outros assuntos e a podem justificar ou não, carece de conhecimentos que uma boa parte dos jornalistas não tem.
Para dar uma imagem da verdade nessas situações é preciso saber muito mais do que o quê, quem, como, quando, onde e porquê. É preciso conhecer a realidade e não a aparência, ainda que solícita ou tentadora.
O jornalismo nacional actual é praticado por incultos, quase analfabetos em matérias essenciais para a percepção dos assuntos e não é possível adquirir conhecimento por infusão, entrevistando quem supostamente sabe mais ou melhor. Para se perguntar é preciso saber o quê e principalmente perceber o quê e o seu contexto. E o actual jornalismo de formados em cursos rápidos de escrita não dá ferramentas para tal.
É esse um dos dramas do jornalismo.
Quanto ao resto, à escumalha que se ocupa da profissão para fazer propaganda dos seus próprios ideários e concepções particulares ou de grupo, é isso mesmo: escumalha que estraga qualquer imagem do jornalismo digno e sério que informa e acaba por formar.
Infelizmente o que temos no jornalismo nacional, na prática das redacções e direcções de informação, particularmente televisiva é desta espécie: o jornalismo que está associado a um certo poder, a um certo meio ideológico e a uma certa forma particular de olhar para as coisas, as pessoas e o mundo e que julgam ser legítimo transmitir como se fosse essa a verdade a que todos têm direito, excluindo toda a realidade que os transcende. Ou por não a compreenderem; ou porque são apenas agentes de propaganda alheia e manipuladores da verdade.
Esta imagem pode muito bem espelhar tal tragédia...porque as pessoas em geral percebem o logro que tal jornalismo representa e não compram nem consomem as notícias que o mesmo veicula. Afinal, são falsas e a falsidade soa sempre a oco.
No jornalismo "político", ou seja o que noticia ideias eventos e movimentações políticas com os seus protagonistas, este jornalismo de vão de escada escolhe as opções que lhes impingem ou as que conscientemente compartilham, censurando por omissão noticiosa as que lhes desagradam ou atacando ostensiva e agressivamente os seus representantes.
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