Morreu o cineasta António-Pedro Vasconcelos e como não podia deixar de ser, o Público, muito do lado desse lado que é do lado de lá de uma certa ideologia, mistela de Maio 68 com marxismo requentado e idealismo utópico, dá a capa e quatro páginas incluindo alguns obituários particulares ao assunto e ao finado.
Vamos aos obituários, começando pelo de Maria Filomena Mónica, amiga do falecido que conheceu no Verão de 1968 juntamente com outros já desaparecidos: José Medeiros Ferreira e Vasco Pulido Valente, mais João César Monteiro e outros de um grupo do "contra o regime", bem situados na classe média lisboeta ou arredores. Na "burguesia" média que apreciava o Gambrinus e camisas Lacoste e tolerava o PCP como um partido essencial a uma democracia que o mesmo não tolerava.
Os artigos só por si são um pequeno programa do mundo em que viveram e que deixaram nos confins da transição para a democracia advinda em 1974, a qual ansiavam desde os anos sessenta e pelo menos desde a morte de Salazar. O grupo inclusivo fez algo para isso uma vez que animaram culturalmente o país nos media da época, tornando-se activistas da cultura do "contra o regime", embora com nuances que se desvelam no que fizeram, fazem e dizem ou escrevem.
Sociológica e antropologicamente careciam de um estudo para o qual tenho procurado aqui dar o meu pequeno óbulo e este é mais um. Pela importância que tiveram e pela influência que exerceram nos media foram determinantes para uma cultura nova, quase sempre estrangeirada e que parece ter vergonha do modo de ser português que Salazar encarnava e que aliás detestam, sem excepções, apesar de terem sido educados na escola que o mesmo criou e desenvolveu, na família que o mesmo herdou e na pátria que o mesmo continuou.
São quase todos ateus convictos e militantes de um idealismo utópico sem eira nem beira porque não tem esteios que se vejam, constituindo a tal mistela que nunca se define claramente, aproveitando oportunisticamente a boleia da situação que se lhes apresenta. Burgueses, sempre. Bons burgueses, bons malandros por opção identitária e romântica. São todos iguais em tal pequeno universos ideológico e até político e o elenco nominativo de tal grupo estende-se a algumas dezenas de nomes que podem ser encontrados ainda hoje nos media mas começam a desaparecer por efeito da idade, como é o caso de A-PV.
Quase me apetecia dizer que "atrás de mim virá quem de mim, bom fará", porque de facto apetece-me dizer tal coisa a propósito dos mesmos. Devo confessar que fui influenciado pelos mesmos na minha adolescência mas procurei afastar-me quando percebi o logro da utopia, aí no final dos anos setenta.
O que ficou depois deles, parece-me ainda mais miserável intelectualmente e ideologicamente mais pobre e sectário. Não deixam herdeiros, a meu ver...
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