quinta-feira, março 07, 2024

Os obituários sobre A-P V

 Morreu o cineasta António-Pedro Vasconcelos e como não podia deixar de ser, o Público, muito do lado desse lado que é do lado de lá de uma certa ideologia, mistela de Maio 68 com marxismo requentado e idealismo utópico, dá a capa e quatro páginas incluindo alguns obituários particulares ao assunto e ao finado. 

Vamos aos obituários, começando pelo de Maria Filomena Mónica, amiga do falecido que conheceu no Verão de 1968 juntamente com outros já desaparecidos: José Medeiros Ferreira e Vasco Pulido Valente, mais João César Monteiro e outros de um grupo do "contra o regime", bem situados na classe média lisboeta ou arredores. Na "burguesia" média que apreciava o Gambrinus e camisas Lacoste e tolerava o PCP como um partido essencial a uma democracia que o mesmo não tolerava.

Os artigos só por si são um pequeno programa do mundo em que viveram e que deixaram nos confins da transição para a democracia advinda em 1974, a qual ansiavam desde os anos sessenta e pelo menos desde a morte de Salazar. O grupo inclusivo fez algo para isso uma vez que animaram culturalmente o país nos media da época, tornando-se activistas da cultura do "contra o regime", embora com nuances que se desvelam no que fizeram, fazem e dizem ou escrevem.

Sociológica e antropologicamente careciam de um estudo para o qual tenho procurado aqui dar o meu pequeno óbulo e este é mais um. Pela importância que tiveram e pela influência que exerceram nos media foram determinantes para uma cultura nova, quase sempre estrangeirada e que parece ter vergonha do modo de ser português que Salazar encarnava e que aliás detestam, sem excepções, apesar de terem sido educados na escola que o mesmo criou e desenvolveu, na família que o mesmo herdou e na pátria que o mesmo continuou. 

São quase todos ateus convictos e militantes de um idealismo utópico sem eira nem beira porque não tem esteios que se vejam, constituindo a tal mistela que nunca se define claramente, aproveitando oportunisticamente a boleia da situação que se lhes apresenta. Burgueses, sempre. Bons burgueses, bons malandros por opção identitária e romântica. São todos iguais em tal pequeno universos ideológico e até político e o elenco nominativo de tal grupo estende-se a algumas dezenas de nomes que podem ser encontrados ainda hoje nos media mas começam a desaparecer por efeito da idade, como é o caso de A-PV. 

Quase me apetecia dizer que "atrás de mim virá quem de mim, bom fará", porque de facto apetece-me dizer tal coisa a propósito dos mesmos. Devo confessar que fui influenciado pelos mesmos na minha adolescência mas procurei afastar-me quando percebi o logro da utopia, aí no final dos anos setenta. 

O que ficou depois deles, parece-me ainda mais miserável intelectualmente e ideologicamente mais pobre e sectário. Não deixam herdeiros, a meu ver...





Os dois últimos obituários referem-se a um A-PV cinéfilo e o de MEC refere expressamente uma revista que também me deu a conhecer o dito cujo A-PV: a Cinéfilo. Roma Torres até escreveu um artigo no ipsilon do Público em 30.9.2022 sobre tal revista aparecida e desaparecida no espaço de alguns meses de transição, com a duração de 37 semanas e o aborto subsequente. Da revista, entenda-se:


Como se lê, atribui o fim da publicação semanal a dificuldades económicas derivadas da crise que se instalara no país e que aliás nunca mais abandonou este pequeno lugar do Ocidente à beira-mal plantado, muito por causa de tal ideologia difusa e de mistela teórica. 
Porém, pode não ter sido apenas isso mas um outro fenómeno que ajuda a explicar a clivagem ideológica que perpassou entre o grupo referido e alguns mentores da "sociedade sem classes" que pretendiam para o país, eliminando, fisicamente se preciso fosse, os "burgueses" ou como diziam "a burguesia". 
É dessa clivagem que não se fala habitualmente e muito menos das suas contradições exasperantes e agigantadas pelo que se veio a conhecer no final dos anos oitenta com a queda do Muro. Os utópicos de 68 e da mistela ideológica marxista nunca se deram conta da contradição e muito menos abandonaram as ideias feitas de que se vestiram e revestiram e da qual dão provas ocasionalmente em manifestações e desfiles de moda ideológica. 

Tal como MEC escreve no Público, conheci A-PV do Cinéfilo mas também da televisão onde se tornou figura grada do regime novo e no anterior já lá fazia uma perninha, muito por causa da infiltração ideológica que conduziu a um pacífico despertar em 25 de Abril de 1974. 

O Cinéfilo surgiu em 4 de Outubro de 1973 e acabou em 22 de Junho de 1974, assim apresentado:






A participação de A-PV na revista tal como declarado nesse primeiro número tinha a ver com cinema e com a crítica ao dito:


O fim da revista foi assim anunciado, tetricamente:


As explicações técnicas:


E os motivos reais:



O Álvaro Guerra que aparece a desfazer no Fernando Lopes director, era este. O mundo de A-PV estava neste meio. Os seus filmes, nunca os vi a não ser em modo fugaz, na tv em reposição. E não tenho nenhuma vontade de ver ou rever...

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