quinta-feira, agosto 05, 2010

Ana Sá Lopes, jornalista do i

A jornalista Ana Sá Lopes assina hoje dois artigos no i. Um de opinião e outro de notícia "à maneira" de jornalismo caseiro e que a também jornalista Inês Serra Lopes nos habituou: em vez de objectividade e isenção, uma opinião travestida de jornalismo, parafraseando um conhecido político da nossa praça.
É aflitiva a incapacidade do jornalismo português, em geral, assentar em factos e relatá-los de modo imparcial e isento. Nas entrelinhas e nas linhas em vez de factos noticiosos, lemos opinião sobre esses factos.
Que dizer do modo como Ana Sá Lopes começa o artigo de duas páginas no i, assim: "É o mais violento dos ataques a Pinto Monteiro e chega em forma de "carta aberta". Depois da entrevista ao "DN" em que o PGR desfazia do despacho dos procuradores do caso Freeport, o SMMP veio ontem acusar o PGR de não ser "independente" e de estar permeável " a exigências de terceiros com interesses conflituantes com o da investigação". Em suma, de estar ao lado de Sócrates no caso Freeport"?

Os termos escolhidos, os verbos separados e a forma do escrito tende a mostrar que Ana Sá Lopes entende este assunto como um casus belli na magistratura. É? Também acho, mas é a minha opinião e de um jornalista espero os factos em primeiro lugar, os factos simples, directos e escorreitos e depois, em artigo de opinião, se tal for admissível, a tal menção ao grau de violência e aos "ataques" e às imputações subjectivas de quem é alvo da notícia.

Nada disto acontece de modo objectivo e isento de reparos no escrito de duas páginas, em modo opinativo e por isso assinado, o que suscita equívocos porque não é um artigo de opinião e também não é uma notícia. É o que é e por isso merece comentário, juntamente com o artigo de opinião que esse, ainda é mais criticável.
Que se diz no artigo de opinião assinado pela mesma jornalista?
Num paralelo com Berlusconi, conclui que na Itália o sistema que aquele pretendia introduzir, mesmo sem se dizer qual era, para além de uma referência genérica a uma "imunidade" e provavelmente sem se ter compreendido o mesmo, é mais "transparente" por propor uma imunidade aos titulares do poder político de topo. O equívoco começa logo no sentido conferido à tal imunidade. Imunidade para ser julgado não é idêntica a imunidade para ser investigado e esta não estava na tal lei , celerada para os italianos, mas em vigor entre nós.
Cá em Portugal, um primeiro-ministro, com a lei que temos ( e a Itália não tem porque foi chumbada por duas vezes pelo tribunal Constitucional) pode um primeiro-ministro ser julgado enquanto permaneça em funções? Não pode, sem mais e sem discussão parlamentar, por causa do disposto no artº 196 da CRP que diz assim:

Efectivação da responsabilidade criminal dos membros do Governo


1. Nenhum membro do Governo pode ser detido ou preso sem autorização da Assembleia da República, salvo por crime doloso a que corresponda pena de prisão cujo limite máximo seja superior a três anos e em flagrante delito.

2. Movido procedimento criminal contra algum membro do Governo, e acusado este definitivamente, a Assembleia da República decidirá se o membro do Governo deve ou não ser suspenso para efeito de seguimento do processo, sendo obrigatória a decisão de suspensão quando se trate de crime do tipo referido no número anterior.

Ou seja, existe em Portugal uma imunidade, ainda que mitigada, que a Itália não tem. E que Ana Sá Lopes acha que seria mais transparente. Mas a seguir acha que em Portugal que tem a tal lei que a Itália não tem, há menos transparência por causa de ter a lei que se existisse em Itália seria, enfim...notável raciocínio que inquina todo o artigo mas não desarma a opinativa jornalista. Porque o que vem a seguir é demais em termos de desconhecimento e carência de informação que um jornalista não deve ostentar em artigos de fundo ou em forma opinativa.

ASL também acha, concordando com os defensores do vínculo governamental, que o despacho do Freeport é "indefensável". E porquê' Ora, porque é. Porque lhe parece e assim ficamos, apenas com algumas achegas de fundamento. Por exemplo, o de as 27 perguntas da listinha a fazer ao primeiro-ministro. ASL alinha no coro dos que pensam que os procuradores do Freepor não ouviram o primeiro-ministro porque não quiseram. Simples de entender, com sofismas à mistura que nem o PGR ou a directora do DCIAP usaram porque a má-fé seria transparente, nesse caso.

Então vamos lá aos argumentos: o problema do Freeport não é a circunstância de não ter havido tempo de fazer perguntas ao PM. Isso é o menos. O que conta é a dificuldade real, concreta, agora denunciada pelo sindicato do MP, em se fazer uma investigação completa, com vista ao esclarecimento da verdade material do caso. Tal investigação poderia implicar a inquirição/ interrogatório do PM... ou não. Mas antes disso, seria indispensável esclarecer a matéria essencial que as perguntas da listinha revelam. E essas dificuldades em esclarecer essa matéria, constam do despacho e quem o souber ler, percebe muito bem o teor do comunicado do SMPP: pressão exercida pela hierarquia do MP sobre os investigadores. Pressão muito pior do que a eventualmente aplicada pelo bode expiatório Lopes da Mota. Sobre este assunto fulcral, essencial para a compreensão do problema real e que está no olho deste furacão judiciário, ASL nada diz, preferindo alinhar no coro dos agravados ao primeiro-ministro, coitado, vilmente vilipendiado por um despacho final "indefensável".

Aqui chegado, só me apetece perguntar: será que estes jornalistas não entendem isto que é claro, transparente e óbvio até, depois de serem conhecidos os factos e as intervenções públicas dos seus protagonistas, com destaque para o PGR e a directora do DCIAP, com o apoio mais que provável do bastonário da O.A. e ainda de Proença de Carvalho e José Miguel Júdice? Não lhes faz soar uma campainha de alarme social, ao verem e ouvirem estas pessoas falarem como falam em prol do primeiro-ministro? Não os faz sequer desconfiar um bocadinho acerca da tal "transparência". Acredito que faz. Mas fazem de conta que não e aí reside o mal do nosso jornalismo: escrevem de cor porque não conseguem fazê-lo de outro modo. Se o fizessem não ocupavam o lugar que ocupam, no meu entender. Assim defendem o posto de trabalho, em época de crise. Mas será isso jornalismo ou teremos de lhe chamar outra coisa, um pouco mais prosaica e relacionada com a mais antiga profissão do mundo?

E depois, a jornalista para justificar o seu entendimento, apresenta o caso singular de um putativo traficante de droga, mostrando assim a sua perspicácia: " Se o tio do Tó Meia-Grama fosse contar para os autos que tinha telefonado ao Tó para ele facilitar uma reunião com um dos arguidos; se o primo do Tó Meia-Grama revelasse á justiça que se tinha encontrado com o Tó, em casa dele. e que lhe tinha pedido para usar o seu nome para facilitar um negócio" então os investigadores iriam iriam ouvir mesmo o Tó, mesmo que daí não se inferisse a responsabilidade do mesmo.

Isso para concluir o artigo no sentido de que a imunidade prática aplicada ao PM é "muito menos legítima do que a proposta por Berlusconi".

Tem algum sentido esta conclusão sobre uma transparência que não está em causa, sobre um problema que não se coloca na nossa lei penal e na italiana, ou seja, a possibilidade de investigação criminal que não se confunde com a fase de julgamento? Não faz mas um artigo de jornal consome-se num dia e esquece-se no outro.

O pior não é isso. É o desconhecimento que permite a repetição destes artigos e, pior ainda, uma política editorial. Esse é que é o mal generalizado no jornalismo português.

4 comentários:

Mani Pulite disse...

ESSA É MAIS UM DOS MUITOS "JORNALISTAS" TOTALMENTE AO SERVIÇO DO PODER SOCIALISTA,COMO JÁ SE DEMONSTROU VÁRIAS VEZES INCLUSIVÉ EM TRIBUNAL.SIMPLES AGENTES DE PROPAGANDA QUE PRATICAM O "JORNALISMO DO VÓMITO".

Monchique disse...

Bom dia.
tenho pena do jornal I pois parecia que ia ser um jornal com qualidade. Infelizmente não é apesar de ter bons articulistas.
Ana Sá Lopes veio com a escola do DN e estando o I em má situação finaceira ... é de "compreender" que seja obrigada a defender o Sócrates.

Mani Pulite disse...

NÃO TEM TAMBÉM A "ESCOLA" DO PÚBLICO DO VICENTE E DO MES DO FÉFÉ?RESPONDA QUEM SOUBER.COM TODOS OS DETALHES ACERCA DAS "ESCOLAS" QUE TEM.

Anónimo disse...

José, a propósito desta sua passagem "escrevem de cor porque não conseguem fazê-lo de outro modo. Se o fizessem não ocupavam o lugar que ocupam, no meu entender" deixo-lhe esta entrevista a Noam Chomsky:

http://www.youtube.com/watch?v=oG24vg8js4o

Money quote:
Marr: "How can you know that I'm self-censoring?"

Chomsky: "I don't think you're self-censoring. I'm sure you believe everything you're saying. But what I'm saying is if you believed something different, you wouldn't be sitting where you're sitting."

O Público activista e relapso