segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Outra bocagem

Recuperado acesso ao blog, cá estou de novo. Esta porta é mais ampla que a contanaloja. Ficam as duas abertas. A porta e a conta, corrente.

O tema de hoje é o caso do miúdo, Rui Pedro, que desapareceu em Lousada em 4.3.1998 quando tinha 11 anos.
Durante 13 anos fizeram-se investigações na PJ. Muitas e com várias pistas possíveis. Segundo os jornais foram mais de cem. Actualmente, com os elementos apurados, foi acusado de rapto um indivíduo. Os elementos indiciários constam do processo e o acusado tem o direito de se defender em sede de instrução e julgamento. Não é isso que está em causa.

O que fica em causa mais uma vez é a atitude pública do inenarrável bastonário da Ordem dos Advogados. Tomando a pele de provedor do cidadão, mandato que ninguém lhe conferiu, acaba de mandar mais uma das suas enormidades que o classificam como outro bocajão. A imediatamente anterior foi sobre o "Animal", um preso que deveria assentar arraiais no gabinete do bastonário durante alguns dias. Para ver como é que ele resolvia o assunto...escatológico.

O bastonário da Ordem dos Advogados, aparece desta vez a terreiro mediático, substituindo-se ao Provedor e concentrando em si e na sua figura o que outros bastonários poderiam igualmente fazer ( porque não aparece o bastonário da Ordem dos Médicos a fazer outro tanto, se a legitimidade é igual? Só por este ser formado em Direito e ser advogado? Parece pouco...).
Aparece então para criticar acintosamente, mais uma vez o Ministério Público, detentor da acção penal e titular do inquérito onde se investigaram os factos, e por isso já bocajou o seguinte, segundo o Público:

"Não quero fazer apreciações em relação a este processo em concreto, mas tenho medo de que se esteja a arranjar um culpado para salvar a face da justiça. Porque continuamos sem saber o que é que aconteceu à criança. O procurador é o vértice da pirâmide, é ele quem deve explicar."
E não se ficando pela suspeita sobre as intenções do MºPº a quem já arranjou o respectivo processo na sua mente de provedor, lança a atoarda mediática e populista que todos os media agarram como maná noticioso: " Treze anos para aprofundar indícios? Por amor de Deus!" E a insídia da suspeição em processo intencional ignominioso, logo a seguir:

"Sempre houve crimes que ficaram por esclarecer, agora é preciso assumir isso. O que já aconteceu noutros crimes mediáticos é que houve uma fuga para a frente; para salvar a face da Justiça arranjam-se uns culpados, a todo o custo".

A insídia deste bocajão desmonta-se a si mesma: o MºPº ou a polícia, em relação a este caso, nada tinham que provar ou sustentar ou arranjar um culpado ou seja o que for que ficasse para lá das diligências que poderiam e deveriam fazer.
O que essas entidades fizeram durante treze anos foi tentar perceber o que aconteceu, com os meios que tinham e que esse bastonário nunca defendeu serem poucos, antes pelo contrário. Se não encontrassem um suspeito ou um culpado ou apurassem o que aconteceu, arquivariam o processo como o fazem em relação a outros. Este caso, embora mediático, estava praticamente encerrado aos olhos da opinião pública e não se descobriu o que aconteceu ao miúdo desaparecido. Como não se descobriu noutros casos semelhantes.
Por isso, a que propósito aparece este bastonário com este discurso de terrorista? Nenhum, a não ser o de deslegitimar as instituições que não se defendem a si mesmas e os seus profissionais que não são capazes de lhe responder na mesma moeda nem usufruem do mesmo palco mediático onde aquele se pavoneia constantemente.
Mas poderiam tentar. Assim:

O bastonário da O.A. tem porventura, lá na sua Ordem, processos com anos e anos de investigação e sem conclusão. Porque não fala sobre isso?

Porque os jornalistas não lhe perguntam. Façam-no e verão a resposta que vai dar. Antes disso, sugiram-lhe que dê oportunidade ao "Animal" de o poder encontrar, de preferência na sua cela e com tempo disponível, algumas horas, para aspirar os aromas escatológicos que dela exalam.

6 comentários:

zazie disse...

«A imediatamente anterior foi sobre o "Animal", um preso que deveria assentar arraiais no gabinete do bastonário durante alguns dias. Para ver como é que ele resolvia o assunto...escatológico.»

ahahhahahah

Carlos disse...

Seja bem-vindo, no regresso ao "negócio" desta loja.

Estranhei o "apagão" e logo acendi lanternas por onde costumo passar.

Nem sempre de acordo, mas sempre disponível para contrariar/reclamar a "mercadoria" da loja. E para isso, é importante que se mantenha aberta.

Até!...

C. S.

Gomez disse...

Estava a estranhar o silêncio mas com as ocupações destes dias nem reparei no outro blog.
Welcome back!

Maria disse...

E o que me diz sobre as primeiras palavras proferidas pela Drª Cândida A. a propósito e logo após a reabertura do "processo Rui Pedro"?!? Infelizmente quando abri a televisão só ouvi a parte final das mesmas, mas chegaram e sobraram para eu distinguir a objectividade desta senhora, que, não será por acaso, é amiga de peito do Dr. Almeida Santos...

E foram estas as declarações finais, mais palavra menos palavra, daquela directora(?) do DCIAP: "... o desaparecimento deste miúdo (Rui Pedro) não teve nada que ver com redes de pedofilia"!!!!!! É claro que teve o cuidado de não voltar a repeti-las em subsequentes declarações, como é óbvio...

Como é que esta responsável máxima da Justiça, sabe que Rui Pedro não foi entregue a uma rede de pedofilia, por exemplo na Holanda, país onde o rapaz que o atraiu para um encontro com uma prostituta e a última pessoa com quem Rui Pedro esteve antes de desaparecer, tinha contactos de trabalho(?) por exemplo?! Então se a Drª Cândida Almeida sabe que isso não aconteceu 'de certeza', tem um conhecimento privilegiado sobre o que efectivamente aconteceu à criança! E se isto é um facto dedutível pelas suas declarações "a quente" mas, quem sabe, com a boca a fugir-lhe para a verdade (nem deve sequer ter-se apercebido até ONDE elas nos poderiam levar, a nós que nos preocupamos terrìvelmente com o misterioso desaparecimento desta criança), então que diga sem peias para onde é que ela foi efectivamente levada e já agora onde é que a criança se encontra neste momento.

Conclusão: É mais fácil apanhar um mentiroso do que um coxo.

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Parabéns pela recuperação deste Blog e igualmente pelos outros, todos eles excelentes e pelos magníficos e imperdíveis escritos que neles vem publicando.
Maria

joserui disse...

É do mais reles que existe e no entanto, ganhou duas vezes as eleições para essa prestigiada ordem. Cada um tem o bastonário que merece. -- JRF

Maria disse...

Leia-se "... amiga do peito" e não "de", no meu comentário mais acima.
Maria

O Público activista e relapso