"O país estava a modificar rapidamente o seu aspecto e sentia-se por todo ele um surto de progresso do qual iam beneficiando todas as classes.
A afirmação de que era o mais pobre da Europa baseava-se em estatísticas donde se extraíam índices desfavoráveis. Mas o que nós tínhamos, com certeza, era o pior serviço estatístico da Europa e a menor capacidade, também da Europa, para trabalhar a informação internacional. Quem percorria o território metropolitano via por todo o lado uma lavoura a renovar-se procurando vias novas na fruticultura, na florestação e na pecuária, uma indústria em plena expansão, os serviços cada vez mais espalhados e a oferecer mais empregos. O comércio vendia quanto tinha. Os impostos entravam facilmente nos cofres do Estado, a conta do Tesouro apresentava constantemente saldos elevados e nunca tive no governo dificuldades financeiras.
Deve-se ao Dr. Salazar a ordem mantida durante quase meio século nas finanças portuguesas. Caprichei em conservá-la. A partir de um orçamento prudentemente equilibrado praticava-se uma gestão legalista em que a previsão orçamental das despesas tinha de ser respeitada.
As despesas ordinárias ficavam sempre muito abaixo das receitas ordinárias para que o saldo pudesse servir de cobertura às despesas extraordinárias militares e até a algumas de fomento. NO rigor dos princípios, o que se empregava em investimentos reprodutivos podia- até talvez devesse- ser obtido por empréstimo: mas a verdade é que só uma parte o foi, porque se encontrou sempre maneira de conter o montante da dívida muito abaixo das possibilidades do crédito nacional e da percentagem razoável do Produto Nacional Bruto.As despesas militares eram um quebra-cabeças. (...) Debalde eu determinara que não se excedesse com as despesas militares os 40% do orçamento geral do Estado: ia-se até aos 45%, e o pior é que se tinha a consciência de uma péssima administração do Exército, pois na Marinha e Força Aérea as previsões orçamentais eram respeitadas."
A afirmação de que era o mais pobre da Europa baseava-se em estatísticas donde se extraíam índices desfavoráveis. Mas o que nós tínhamos, com certeza, era o pior serviço estatístico da Europa e a menor capacidade, também da Europa, para trabalhar a informação internacional. Quem percorria o território metropolitano via por todo o lado uma lavoura a renovar-se procurando vias novas na fruticultura, na florestação e na pecuária, uma indústria em plena expansão, os serviços cada vez mais espalhados e a oferecer mais empregos. O comércio vendia quanto tinha. Os impostos entravam facilmente nos cofres do Estado, a conta do Tesouro apresentava constantemente saldos elevados e nunca tive no governo dificuldades financeiras.
Deve-se ao Dr. Salazar a ordem mantida durante quase meio século nas finanças portuguesas. Caprichei em conservá-la. A partir de um orçamento prudentemente equilibrado praticava-se uma gestão legalista em que a previsão orçamental das despesas tinha de ser respeitada.
As despesas ordinárias ficavam sempre muito abaixo das receitas ordinárias para que o saldo pudesse servir de cobertura às despesas extraordinárias militares e até a algumas de fomento. NO rigor dos princípios, o que se empregava em investimentos reprodutivos podia- até talvez devesse- ser obtido por empréstimo: mas a verdade é que só uma parte o foi, porque se encontrou sempre maneira de conter o montante da dívida muito abaixo das possibilidades do crédito nacional e da percentagem razoável do Produto Nacional Bruto.As despesas militares eram um quebra-cabeças. (...) Debalde eu determinara que não se excedesse com as despesas militares os 40% do orçamento geral do Estado: ia-se até aos 45%, e o pior é que se tinha a consciência de uma péssima administração do Exército, pois na Marinha e Força Aérea as previsões orçamentais eram respeitadas."
Este texto vem nas páginas 96-97 do livro de Marcelo Caetano, Depoimento, escrito em 1974, após a sua deposição e publicado nesse ano no Brasil. Comprei-o há dias num alfarrabista. Antes tinha comprado um outro chamado "As mentiras de Marcelo Caetano", uma espécie de resposta a esse livro e também publicado em 1974 pela Agência Portuguesa de Revistas (!) e da autoria de um coronel- António Cruz e um tal Vitoriano Rosa. Antifassistas pela certa e que para contraporem argumentos ao livro de Marcelo Caetano, na sua maioria patéticos, usam duas dúzias de páginas, contando já com as transcrições dos trechos escolhidos pelos ditos e daquele livro.
O resto são facsimiles de documentos da Censura, onde se inclui a petição de Raul Rego ao tribunal Administrativo de então ( por causa de lhe terem censurado um livro) e que por si só vale o livro que se encontra esgotado e esquecido.
Portanto, comparando hoje o que Marcelo Caetano escreveu sobre o Portugal de 1974, em termos económicos temos que concluir que quem nos governa é simplesmente criminoso. E o crime é continuado, de há décadas para cá.
A prova é esta primeira página do Expresso de Julho de 1981. Após a intervenção do FMI escassa meia dúzia de anos após o 25 de Abril, o panorama económico português era de banca-rota. Como hoje.
Aliás, os responsáveis eram e são sempre os mesmos; a esquerda em geral e o socialismo "democrático" em particular, durante o tempo do PREC, apesar da oposição à nova ditadura, e que se manteve um fiel aliado do PCP na economia e na manutenção da Constituição, "em rumo à sociedade sem classes".
E até o PSD, compagnon de route daqueles porque incapaz de um discurso de demarcação clara do comunismo, com a excepção de Sá Carneiro que nunca teve medo da palavra. Incluindo também o CDS da AD, sempre "rigorosamente ao centro", com Freitas do Amaral. Portanto, uma esquerda alargada, ideologicamente marcada na Economia por uma colectivização objectiva e que só foi abandonada parcialmente nos anos noventa que se seguiram.
A pergunta que deve colocar-se hoje em dia é muito simples: perante o panorama económico descrito por Marcelo Caetano e que é realista, porque quem viveu esse tempo lembra-se muito bem disso, seria crível que se tivéssemos continuado na Economia, como estávamos antes, portanto sem o PREC que nos decapitou o sistema produtivo de base, teríamos o panorama de banca-rota e descrédito económico do Estado que já tínhamos no final dos anos setenta e que obrigou a medidas sérias de austeridade em todos os anos oitenta? É escusado argumentar com a crise do petróleo, da subida da inflação e essas coisas.
O essencial é a pergunta que fica. Para que serviu o PREC na Economia? A resposta é muito simples também: para nos derrotar economicamente e conduziu à pobreza que ainda hoje experimentamos. Não vejo explicação diversa.
Como não é preciso procurar muito para se encontrar a explicação para a nossa banca-rota actual: o socialismo democrático, voilà!
Ainda vai demorar tempo até que as pessoas em geral se apercebam do papel destes criminosos, mas talvez um dia destes descubram. À força da miséria que se instala.
O resto são facsimiles de documentos da Censura, onde se inclui a petição de Raul Rego ao tribunal Administrativo de então ( por causa de lhe terem censurado um livro) e que por si só vale o livro que se encontra esgotado e esquecido.
Portanto, comparando hoje o que Marcelo Caetano escreveu sobre o Portugal de 1974, em termos económicos temos que concluir que quem nos governa é simplesmente criminoso. E o crime é continuado, de há décadas para cá.
A prova é esta primeira página do Expresso de Julho de 1981. Após a intervenção do FMI escassa meia dúzia de anos após o 25 de Abril, o panorama económico português era de banca-rota. Como hoje.
Aliás, os responsáveis eram e são sempre os mesmos; a esquerda em geral e o socialismo "democrático" em particular, durante o tempo do PREC, apesar da oposição à nova ditadura, e que se manteve um fiel aliado do PCP na economia e na manutenção da Constituição, "em rumo à sociedade sem classes".
E até o PSD, compagnon de route daqueles porque incapaz de um discurso de demarcação clara do comunismo, com a excepção de Sá Carneiro que nunca teve medo da palavra. Incluindo também o CDS da AD, sempre "rigorosamente ao centro", com Freitas do Amaral. Portanto, uma esquerda alargada, ideologicamente marcada na Economia por uma colectivização objectiva e que só foi abandonada parcialmente nos anos noventa que se seguiram.
A pergunta que deve colocar-se hoje em dia é muito simples: perante o panorama económico descrito por Marcelo Caetano e que é realista, porque quem viveu esse tempo lembra-se muito bem disso, seria crível que se tivéssemos continuado na Economia, como estávamos antes, portanto sem o PREC que nos decapitou o sistema produtivo de base, teríamos o panorama de banca-rota e descrédito económico do Estado que já tínhamos no final dos anos setenta e que obrigou a medidas sérias de austeridade em todos os anos oitenta? É escusado argumentar com a crise do petróleo, da subida da inflação e essas coisas.
O essencial é a pergunta que fica. Para que serviu o PREC na Economia? A resposta é muito simples também: para nos derrotar economicamente e conduziu à pobreza que ainda hoje experimentamos. Não vejo explicação diversa.
Como não é preciso procurar muito para se encontrar a explicação para a nossa banca-rota actual: o socialismo democrático, voilà!
Ainda vai demorar tempo até que as pessoas em geral se apercebam do papel destes criminosos, mas talvez um dia destes descubram. À força da miséria que se instala.
10 comentários:
José não vale a pena... ainda hoje tive mais um momento daqueles em que tenho essa certeza.
A propósito de uma exposição e um projecto cultural em Matosinhos (PS portanto) ouço ao telefone que "é uma outra visão das coisas" (em oposição à visão do Porto, para bom entendedor).
Argumentei com uma série de coisas que se vão fazendo no Porto (pouco, é verdade) e resposta: — Mas isso foram os privados que tiveram de entrar com o investimento. (E é negativo, porque é.)
Estes tipos são incorrigíveis. Não vale a pena (este tem 50 anos). E saõ imunes à miséria. A grande maioria já está demasiado bem na vida para se preocupar com essas miudezas. -- JRF
Caro José,
Tentar comparar a situação da grande maioria dos portugueses do antes e após Abril, só nos pode levar à conclusão de que hoje estamos muito melhor. Não quero com isto dizer, que o que foi feito não está isento de graves e criminosas práticas. Neste ponto, concordo amarguradamente consigo. No entanto, uma coisa è contra-pôr à democracia o antigo regime. Outra coisa, é julgar as práticas dos executores politicos do pós-Abril. E aqui, estamos, se calhar, em sintonia. Há que melhorar a regulação e fiscalização das instiuições democraticas, mas sobretudo, obrigar a justiça a funcionar, de facto, ao serviço da comunidade.
Cumpms.
C. S.
Nunca entendem que o sistema democrático não vem ao caso. O que o José mostra é o sistema económico.-
E esse podia manter-se introduzindo a democracia.
Mas não. Como foi uma viragem revolucionária tiveram de destruir as bases económicas e de valores em que assentava a a Nação
Mas a falácia é precisamente esta que o CS enunciou. O papão do "fassismo".
O José mostra um texto realista, que faz um bom retrato do passado e acrescenta:
«porque quem viveu esse tempo lembra-se muito bem disso, seria crível que se tivéssemos continuado na Economia, como estávamos antes, portanto sem o PREC»
E vá de lhe responderem que a democracia é melhor que a ditadura...
E que "estamos melhor". Sem sequer saberem explicar essa frase.
Chover no molhado!...
E o sistema económico não está ao serviço do regime?
E quando fala da destruição da economia, está a falar do BPN, BPP, Dias Loureiro, Jacinto Leite C. Rego, Vara, compra de brinquedos marítimos, etc., ect. - está?
Carlos:
Atente neste pequeno texto de Marcelo Caetano e depois diga-me quem foi o primeiro-ministro que teve idêntica preocupação que parece básica em qualquer governante:
"NO rigor dos princípios, o que se empregava em investimentos reprodutivos podia- até talvez devesse- ser obtido por empréstimo: mas a verdade é que só uma parte o foi, porque se encontrou sempre maneira de conter o montante da dívida muito abaixo das possibilidades do crédito nacional e da percentagem razoável do Produto Nacional Bruto.As despesas militares eram um quebra-cabeças. (...) Debalde eu determinara que não se excedesse com as despesas militares os 40% do orçamento geral do Estado: ia-se até aos 45%, e o pior é que se tinha a consciência de uma péssima administração do Exército, pois na Marinha e Força Aérea as previsões orçamentais eram respeitadas."
Não é preciso ir muito mais longe e invocar ou evocar o fassismo e essas coisas mais.
Basta isso. Compare a categoria de Marcelo Caetano com a do epicurista Mário Soares...
Estupidamente estou a responder a comentários atrasados.
As minhas desculpas.
Comprei num alfarrabista um exemplar a semana passada e já estou a ler , o engraçado ou curioso é que embora só agora escreva , quando adquiri o livro e cheguei a casa assim que começo a navegar pela net , vim aqui parar logo num post sobre o livro .
Publiquei:
http://historiamaximus.blogspot.pt/2013/07/um-depoimento-actual.html
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