sexta-feira, junho 01, 2012

Cuspir na sopa jornalística

O "advogado do Público" ( é o jornal quem o diz) Francisco Teixeira da Mota escreve hoje no mesmo Público sobre o exercício da sua função de advogado, no caso consultor do jornal para o "caso Relvas".

Começa por dizer que ninguém terá dúvidas de que não se trata de uma inventona ou cabala contra o ministro. Pois não, disso ninguém duvida pelo que sendo apodíctico dispensava esse realce. Mas continua depois a dizer por escrito que ninguém tem dúvidas também que o ministro "fez e disse o que não devia ter feito nem dito quando telefonou para o Público". Ora aqui é que as tais dúvidas não são assim tão exíguas ao ponto de inexistirem.
FTM ao acreditar mais no que uma jornalista lhe disse acerca de um telefonema de um ministro do que este mesmo admitiu ter dito, extravasa. Não porque não tenha o direito de acreditar, mas porque tem o dever de duvidar. Acreditar em alguém é apenas uma questão de fé e se o telefonema existiu já o seu conteúdo pode ter sido ligeiramente diverso, mas o suficiente para que não se possa dizer que inexistem dúvidas sobre o assunto.
Ninguém é bom juiz em causa própria e a jornalista em causa pode muito bem ter "apimentado" as expressões do ministro, como é natural em quem se sente atingido. Qualquer pessoa que conta algo que consigo se passou tende a valorizar certas expressões ou gestos de um modo que não são os reais e que correspondem à verdade objectiva. Basta ouvir alguém a contar uma qualquer história de alguma coisa em que se colocou um problema de ter ou não razão...
FTM sabe perfeitamente que assim é e por isso deveria abster-se de comentar que "não restarão dúvidas". Podem não restar no seu espírito ( o que duvido também) mas elas são objectivas perante o contexto e as circunstâncias.

Mesmo assim, aceitando como sendo um espelho da verdade completa, o que lhe contou a jornalista, FTM elucubra sobre o caso de um modo curioso.

Pondera que se possa questionar se o assunto respira crime de ameaça, falta de ética, de bom senso, respeito pela liberdade de imprensa, estupidez ou isso tudo junto.

No entanto, FTM entendeu logo que não havia ameaça alguma e disse-o aos responsáveis do jornal que lhe perguntaram. Percebeu logo que tanto a editora que ouviu as ameaças como a directora a quem foram reportadas não ficaram assustadas ou a crer que as ameaças eram susceptíveis de surtir qualquer efeito. "Nunca houve temor ou receio". Aliás seriam "ameaças absurdas". "Inconsequentes".

Quanto ao outro facto relevante para o caso, a saber a ameaça de revelação na internet de que a jornalista em causa viveria com uma pessoa de um partido da oposição, FTM confirma tal facto pela primeira vez. A única ocasião em que o jornal se pronunciou sobre isso foi depois de a jornalista, perdão, cronista Fernanda Câncio ter divulgado algo que lhe "chegou", com esse sentido preciso. Se tal não tivesse acontecido é provável que nenhum leitor do jornal o ficasse a saber, mesmo depois de ter havido levantamento de rancho e intervenção do soviete da redacção.

Para além disso FTM dá mais uma achega que o jornal não explicou bem: " a Direcção veio desmentir o ministro". Como? A Direcção veio desmentir foi o que a tal Fernanda Câncio divulgou...e desmentiu não desmentindo, apenas negando nem sei bem o quê, porque ainda não está esclarecido.

FTM acha- e bem- que a divulgação destas relações pessoais não atentam contra qualquer valor protegido pelo direito penal, mormente o da reserva da intimidade da vida privada, mormente por se tratar de uma jornalista, naturalmente mais exposta a estas coisas.

Portanto, juridicamente, maxime penalmente o jornal tinha nada de nada contra o ministro. E mesmo assim construiu um caso de enormes proporções que só não correram com o mesmo porque o senso comum imperou e o soviete redactorial recuou para a trincheira do jacobinismo onde reside habitualmente. Anda agora uma ERC inútil a recolher cacos de depoimentos para lhe dar uma roupagem de dia de festa.

Então, depois disto tudo o que resta afinal? FTM não deixa escapar o assunto:

"O caso era e é ético e político. Que o ministro não tem qualidades para o ser e muito menos com o pelouro da comunicação social. Que não é exclusivo de um partido político o desejo de controlar a comunicação social. E que o nível da nossa governação se vai degradando. Nada de novo, portanto."

Só falta uma coisa ao escrito: afinar a mesma ordem de ideias relativamente ao jornal onde escreve e dizer preto no branco que aquilo que fizeram é pior do que o que o ministro fez. Quiseram fazer política com um não-caso, com um assunto vazio de sentido penal a que quiseram desde o início atribuir e que a direcção do jornal, tendo inicialmente o bom senso de desvalorizar o caso, aliou-se depois ao soviete da redacção para não ser despejada borda fora.

O que aliás já tarda há muito tempo.

Foi isso que faltou a Francisco Teixeira da Mota escrever.  Mas não se pode querer tudo e muito menos que cuspa no prato em que se alimenta...

5 comentários:

Carlos disse...

José,

Admito todas as dúvidas sobre a versão do Público. Mas, não questionar de mesma forma a versão do ministro, não é tomar partido?

josé disse...

Não necessariamente porque estão no mesmo plano: o do gato de Schroedinger. Pode ser e não ser.

Se a versão dominante fosse a do ministro estaria aqui a escrever sobre a da jornalista...

Carlos disse...

...e portanto, é simplesmente do "contra"!

zazie disse...

Não- o José tem o sentido único do equilíbrio.

Floribundus disse...

em alentejano
«nunca cagues onde comes»
ara não se enquadrar na poesia
'ele cagando, eu comenfo?

O Público activista e relapso