João Carlos Espada escreve no Público de hoje sobre a "corrente de ouro" inglesa, traduzindo a união entre o passado e o presente entre a tradição e o progresso " que até agora nunca foi quebrada porque nenhuma pressão social indevida foi exercida sobre ela, que tem constituído o mérito peculiar e a qualidade soberana da vida nacional inglesa." , conforme Churchill escreveu e JCP transcreveu.
Os ingleses gastaram 13 milhões de euros só no cortejo que percorreu alguns quilómetros no Tamisa, com mais de um milhão de mirones.
Porém o que os ingleses celebraram foi essa "corrente de ouro" que Churchill apontava no texto transcrito e que traduz o espírito profundamente conservador, avesso a jacobinismos vários.
Por isso, anota JCP, os ingleses não tiveram " a doença infecciosa da Revolução Francesa" no dito de Edmund Burke ou o despotismo popular e republicano, jacobino por excelência. O regime inglês manteve-se sempre monárquico, liberal e ordeiro. Conservador, no fundo.
Em Portugal não temos sistema conservador. Já tivemos mas de há umas décadas a esta parte temos apenas "conservas". Que pescamos por cá mas também importamos de outras terras e por cá as enlatamos.
Há as Pitéu, as mais apetecíveis e que agregam apaniguados do establishment. Uma casta de privilegiados embalados em prebendas, supostamente gestores de empresas públicas, bancos públicos e semi-públicos, institutos, fundações e sinecuras atribuídas pelos pares em conselhos superiores de remuneração e assembleias gerais.
Há as Bom Petisco, em filetes de nomeação política para cargos na função público-administrativa de topo ou no Estado Central mais aconchegado ao poder. Nesta camada inclui-se um condimento essencial à conservação da espécie: as maçonarias, ( hoje no i, o dirigente da UGT, João Proença declarou que é maçon do Gol mas a Maçonaria mesmo assim numa tomou conta da UGT...mostrando a natureza apenas oleosa da organização secreta que se pode cheirar sem inalar), os lobbies informais e casuais das ligas hilgas e hansas, etc. etc.
Há também as Ramirez, de boa extracção piscícola, enformadas nas arcadas universitárias para importação da espécie Pitéu, com alguns laivos de Bom Petisco. Não se exportam, porque ninguém as quer, mas tem boa pinta nas latas.
Depois há as espécies que não são conservas, como a "pescada e a marmota que não vende na lota, apodrece no tempo e não cheira, porque o tempo é a derrota". São aqueles que antes de o ser já o eram, naturalmente: jornalistas livres, directores de informação ainda mais livres e donos de media que possuem a liberdade como refém.
São espécie protegida pelo Bom Petisco que dela fazem por vezes matéria-prima. Mas só depois de eleições.