quinta-feira, junho 07, 2012

O estranho caso de Eurico Reis

Eurico Reis é um juiz desembargador no tribunal da Relação de Lisboa. Aqui há uns anos falava muito na televisão e rádio, comentando tudo e um habitual par de botas judiciário.  Na SIC era então um ver-se-te-avias. Em 2008 falava sobre um caso concreto. Em 2006 já tinha falado.  Em 2007 dava palpites sobre "o sistema".
Durante muito tempo falou, falou e falou. Na SIC e TSF quase sempre.O CSM nunca lhe disse para estar calado ou ser mais reservado.

Queixa-se agora ao jornal i de que por ter falado demais, está a pagá-las...porque era autor num processo judicial cível, a correr termos precisamente no Tribunal da Relação onde trabalha e o processo desapareceu misteriosamente, numa das andanças entre a secretaria e os "asas" que o julgam em colectivo.
Eurico Reis, habituado como está a falar, fala outra vez para dizer que está convencido que o desaparecimento do processo não foi um acidente. Insinua que foi uma cabala que provocou um desaparecimento do processo que na primeira instância tinha já decisão a seu favor e no sentido de lhe dar, a si e demais família do pai, atropelado numa passagem de nível da CP/Refer,  150 mil euros de indemnização.
Afirma abertamente que houve "grande conivência interna", ou seja que alguém no tribunal da Relação de Lisboa ajudou activamente a esse desaparecimento e o motivo explicativo da cabala é simples e Eurico Reis enuncia-o sem papas na língua:

"este é o processo daquele tipo que é o juiz que anda a dizer que o sistema judiciário não consegue por si próprio reformar-se, tem de haver uma reforma externa. Ando a dizer isto há anos e estou a pagar pela minha língua".

Quer dizer, alguém, na Relação de Lisboa, onde o desembargador trabalha, eventualmente um dia por semana, ( podem trabalhar em casa...) fez desaparecer um processo em que o mesmo é parte interessada por causa de o desembargador andar há anos a pôr o sistema em causa.
É esta a explicação que Eurico Reis arranja para o desaparecimento. Uma explicação que vilipendia funcionários, magistrados e demais pessoas que lidaram com o tal processo.

No final, a entrevistadora, Sílvia Caneco pergunta-lhe: " se eu, que não sou juiz, amanhã tiver aqui um processo arrisco-me a que ele desapareça"?  Responde assim Eurico Reis:

"Se alguém não gostar de si e se envolver empresas muito poderosas, infelizmente não posso garantir que não vá acontecer."

Não pode garantir isso nem que o céu não lhe caia em cima da cabeça. Porém o que pode garantir é que apesar de falar, falar e falar, dizendo o que lhe apetece, tudo vai ficar na mesma.

7 comentários:

Manuel de Castro disse...

Estas coisas caem muito mal aos olhos dos portugueses. Os magistrados só deviam manifestar-se sobre questões de justiça através de sentenças/acordãos e despachos.
Sobre questões próprias da profissão através do CSM, penso eu, com muita conta e medida, pois guerrinhas como a dos Pintos arrasam o prestígio das magistraturas.
Processos que careçam de ser melhor explicados ao público talvez por via de uma assessoria de imprensa.
Como está está muito mal! E tudo indica que vai para pior.

Manuel de Castro disse...

Escrevi CSM mas também há o CSMP. Talvez devesse haver apenas um conselho superior.

josé disse...

Não concordo com as assessorias de imprensa. Não explicariam devidamente e só aumentaria o ruído. Por outro lado ficaria sempre o lado inexplicável das decisões que só pode ser entendido por quem perceba mais um pouco o sistema.

josé disse...

Acho que quem deveria explicar o teor das decisões polémicas deveriam ser os próprios magistrados mas com um mínimo de exposição.

Fazerem uma espécie de aclaração pública mas sem polémica tipo conferência de imprensa.

josé disse...

Fecharem-se em copas e deixaram correr o marfim das noticias erradas nos media não me parece boa ideia.

Nessa altura deveriam esclarecer.

No outro dia surgiu uma situação dessas e foi prontamente resolvida mas com pouco impacto:

Num dia o Público publicou uma carta à directora de Santana Maia-Leonardo em que este vilipendiava o juiz de Portalegre que decidira sobre a hipoteca de uma casa ao banco.

No outro dia ou a seguir a Associação dos Juízes mandou para lá outra carta a explicar porque é que o tal Maia Leonardo não tinha razão.

È assim que se deve fazer, quanto a mim. Mas poderia ter sido o próprio juiz a fazê-lo.

Luis disse...

Gostava de saber porque é que quando o juiz CA repetiu, para um entrevistador amador seu conterrâneo, uma frase (quando o dinheiro fala a verdade cala) que um dia um advogado lhe tinha dito (SEM DENUNCIAR O ADVOGADO NEM AS CIRCUNSÂNCIAS EM QUE LHO TERIA DITO) muitos disseram que ele devia ser sujeito a inquérito, e depois vê-se Euricos de Reis, Rangeis e outros operadores do sistema judiciário diariamente a comentar publicamente processos em curso e relativamente a estes os arautos feitos virgens ofendidas se calam? Será porque tem a ver com as pessoas em si?
Quer dizer, CA está sujeito a um escrutínio rigoroso e nada pode fazer sem que tenha de analisar as consequências do acto, todos os outros são livres de dizer os disparates que quiserem. Bom sistema este em que se perdoa aqueles juízes e outros juristas que comem à manjedoura da política.

hajapachorra disse...

Eurico, o presbítero, sente muito a falta da sua hermengarda. Há que comrpeendê-lo, catano.

O Público activista e relapso