Este artigo de Pedro Lomba no Público de hoje mostra que pensa diferente e escreve em sentido contrário. Estimula o bestunto de quem lê e provoca discussão em quem se interessa. Coisa que os artigos de VPV muitas vezes já não conseguem.
A tese do escrito de hoje, se bem o li, é a de que Relvas é uma facção, dentro do partido e do poder que está. E que a sua queda significa que abusou desse poder e prejudicou outras facções.
Isto significa também que os fenómenos à roda de Relvas são artificiais e as polémicas apenas cínicas porque desprovidas de fundamento sério e sem se arreigar aos princípios proclamados da ética e da decência moral. São polémicas criadas para abater politicamente na medida em que usam o poder mediático para tornar insustentável o exercício do cargo legitimado.
Neste contexto percebe-se que as polémicas à roda de José Sócrates teriam o mesmo condimento e portanto justificar-se-ia a sempre tão proclamada tese cabalística com que os socialistas de várias facções e feitio se defendem dos ataques de oposição.
Neste ambiente, um político como Relvas ou Sócrates, tendo sido legitimado pelo voto interno e externo, adquire o poder de mandar e influenciar decisivamente o Executivo ( e de caminho o Legislativo e até o Judicial, vejam-se as decisões de topo desse poder) e esse poder manter-se-à enquanto convier à facção.
Logo, qualquer ataque mediático ( o único que interessa) à honorabilidade pessoal ou carácter individual da personagem investida é tomado como um ataque político, sem mais. E em consequência suscita uma reacção política oposta e de denúncia do ataque, seja com o argumento cabalístico, seja com o argumento desvalorizador e impante sobre a legitimidade do voto e do poder de facção eleita.
Nos media o alinhamento é idêntico: quem se identifica com a facção desvaloriza e evita a exposição dos assuntos, contando obviamente com o comprometimento dos mandantes da escolha de informação, por seu turno comprometidos com o salário de fim do mês, ou mesmo o emprego.
O jogo é por isso viciado desde o início: quem escolheu Relvas ou Sócrates para governar sabia de tudo. Sabia do carácter e personalidade. Sabia do estilo e das "competências". Sabia do modo como ascenderam no partido e no poder. Sabia que as regras do jogo eram essas, aceitando-as desde sempre. Ao apresentarem-se a votos legitimaram o poder conquistado e o resto deixou de contar .
Até ao dia em que os fenómenos que deveriam ter contado para evitar a ascensão se viram contra os hospedeiros, pelo mesmo efeito mediático incontrolável.
Nessa altura a facção reage e estrebucha quanto pode para manter o poder. Nessa luta, o que vale verdadeiramente é o controlo do poder mediático que influencia a opinião mais ou menos pública.
Os mestres neste jogo ainda são, obviamente, os adeptos da cabala, da mentida e da dissimulação.
Resta saber se a política é isto e deve ser isto. Ou se existe alternativa de poder que assente noutras bases ou em (in)decências mais aceitáveis.