JN-SALOMÃO RODRIGUES
O
secretário de Estado adjunto e da Defesa usou carro e motorista do Ministério
para participar numa reunião de accionistas da Fundição Felino. Do currículo
oficial de Braga Lino não consta a sua participação no capital da empresa.
Cerca das 11.45
horas de quinta-feira, o governante chegou às instalações da Felino, em
Ermesinde, acompanhado de mais duas pessoas, num Mercedes cinzento, com
matrícula inscrita como propriedade da Secretaria-Geral do Ministério da Defesa,
conduzido pelo motorista.
O JN apurou que Paulo Braga Lino
participou na assembleia de accionistas da empresa, da qual deterá, juntamente
com o pai, uma participação no capital de 40%. A reunião decorreu até às 13.30
horas.
Ao sair -
e quando se preparava para entrar na viatura - o secretário de Estado foi
confrontado com a presença da equipa de reportagem do JN, que o tentou
questionar. Visivelmente surpreendido, deu instruções ao motorista para partir e
voltou de imediato para o interior das instalações. Sairia cerca de dez minutos
depois, sentado no banco traseiro de uma viatura particular.
No exterior do edifício da Felino,
permaneceram o administrador da empresa, Manuel Braga Lino (primo do secretário
de Estado) e Rafael Campos Pereira, presidente da assembleia de accionistas. "O
senhor secretário de Estado participou na assembleia de accionistas a título
pessoal, nada tem com as funções do Governo", confirmou, ao JN, este
último.
Também
questionado pelo JN, o administrador acabou por confirmar a participação
accionista do membro do Governo. "Ele [secretário de Estado] e o pai têm 40% de
participação", adiantou, embora não esclarecesse a parcela detida por cada um
deles.
Em
resposta às questões suscitadas pelo JN, a Secretaria de Estado justificou a
utilização de viatura oficial com o facto de Braga Lino se encontrar em
deslocação oficial ao Porto. No entanto, o JN apurou que o membro do Governo
efectuou outras deslocações à empresa, igualmente na viatura oficial e com o
respectivo motorista.
No currículo do secretário de Estado
que consta na página oficial do Governo, dá-se conta da sua passagem pela
empresa. A biografia explicita que Braga Lino foi controler, director
administrativo e financeiro e administrador da Felino, entre 1995 e 1999. Não é,
contudo, feita qualquer referência ao facto de ser
accionista.
Esta notícia do JN de ontem merece o seguinte comentário: o facto aqui relatado configura a ocorrência de um crime de peculato, se comprovado. O princípio da legalidade obriga, neste caso o DIAP, a abrir um inquérito criminal para apurar se isto que aqui se narra e descreve, ocorreu e se há motivo para acusação penal. Não deve haver, aqui, qualquer sentido de oportunidade ou "vistas grossas", ainda que se entenda que estes procedimentos e porventura ainda piores, são "mato" na floresta de quem governa. Se são terão de deixar de o ser e só se consegue tal efeito com procedimentos criminais que mostrem a quem governa que não podem fazer tudo o que bem entendem com os bens que são públicos e não deles, particulares em funções públicas.
Isto nem é ser demasiado radical porque o que se tem visto algumas vezes é uma total anomia de quem governa relativamente a este tipo de assuntos. Parece que quem governa julga ter o direito a estas coisas. E não tem. Definitivamente não tem e é bom que percebam que não tem.
É bom lembrar que o mesmo DIAP instaurou inquéritos sobre este tipo de ocorrências em ocasiões avulsas no tempo do governo anterior e até fez buscas a gabinetes ministeriais para recolher provas. O cidadão comum não sabe nada do destino desses inquéritos e devia saber. Por onde andam e o que lhes aconteceu, aos inquéritos que tiveram como alvo , a actuação de um José Magalhães ou um Alberto Martins? Já saíram do segredo de justiça? E então?
5 comentários:
O secretário de Estado só tem um caminho: demitir-se. Antes que seja tarde.
Caro Amigo
é preciso coragem da sua parte para levantar aspectos delicado da utilização de bens públicos
cuidado que ainda pisa o que tem no sítio que os eunucos desconhecem
O rapaz a querer cortar nos militares e a falar em "custos de operação" da tropa quando para ele nada é demais?Porra...
Peculato de uso, e mais nada! Tem toda a razão!
Mas eu compreendo-o.Como o patrão dele faz a mesma coisa...
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