Há pessoas em Portugal que merecem ser ouvidas ( ou lidas, no caso). Uma delas é António Carrapatoso que tem uma idade ( 56) suficiente para ter algum juizo e "fez parte de um grupo de gestores que propunha um plano para liberalizar a economia nacional". Foi o Compromisso Portugal. Na altura, 2004, os objectivos eram os mais ambiciosos possível. Passos Coelho é do mesmo ambiente, assim como alguns dos seus ministros. Para compreender o actual momento do país, com o governo que temos, é necessário retomar esta memória de há cerca de dez anos. Em menos tempo que isso, nos anos trinta, Portugal recuperou de um caos económico e social. E agora?
Obviamente, o tal movimento, falhou em toda a linha. Atrevo-me a alvitrar que falhou porque não tinha raízes portuguesas genuínas. Não compreenderam o país e andamos estes anos todos a enganarmo-nos uns aos outros. Em Portugal, em 2005 entrou o governo do PS, com José Sócrates a mandar. Se houve governos fora da realidade comezinha de um país pobre, foram esses. Foi, no dizer de uma das ministras desse governo ( a senhor Lurdes Rodrigues que me recuso a titular como licenciada no que quer que seja) "uma festa". A conta está aí para ser paga, agora.
Em 2006, a intelligentsia do Compromisso, voltou à carga, com outra convenção ainda mais ambiciosa. Falhou tudo outra vez, porque as ideias não passaram nem para a "sociedade civil" ( basta ver a ascensão da troika Jerónimo, Arménio e Avoila, mai-lo assessor Silva do bigode que não corta nem que a vaca tussa...) nem para o governo ( o do Inenarrável Sócrates foi o melhor exemplo disso).
E no entanto, basta reparar nos nomes que intervieram nos debates. Por exemplo, na Justiça, João Vieira de Almeida de uma das firmas de advogados do regime ( filho de Vasco Vieira de Almeida). Na "competitividade" intervieram outros pesos-pesados da nossa intelligentsia nacional: António Mexia e o Ricciardi do BES. A história desses dois nomes associados às respectivas firmas ( a advocacia de negócios que os arruinou e a banca que o incentivou) mostra bem o que foi o país nestes últimos dez anos.
Que esperar destas pessoas, em 2006? O mínimo seria esperar que tivessem senso comum. Algum deles teve, para evitar a deriva despesista, faraónica, parola, numa palavra? Nenum deles teve. E nem é preciso apontar exemplos porque bassta lembrar o papel do BES no incentivo às obras públicas que desenbocaram nas PPP´s e nas ruinosas rendas que o senhor Mexia tão bem conhece. O resultado desta visão desta gente? A entrega da EDP aos chineses e a ruína do país com mais uma bancarrota à porta.
Se esta nossa elite, com centenas de nomes, é como foi, estamos bem arranjados. Será possível arranjar outra? Onde?
Como é que foi possível, nos anos vinte do séc. XX arranjar um Salazar e mais alguns indivíduos que conseguiram colocar o país fora da bancarrota da I República e hoje em dia nem vislumbramos sequer quem no-lo possa fazer?
Restam-nos os Carrapatosos. Num trocadilho de mau-gosto, são piores que os carrapatos. Porque nos enganam sempre com ideias que não funcionam. Não é nas escolas de gestão que se aprende a gerir um povo ou um país. Uma empresa não é um país. Salazar vinha do povo humilde que tinha ideias aprendidas no senso comum: poupar; não gastar mais do que se tem; respeitar uma autoridade necessária para se tornar suficiente; organizar as coisas segundo uma tradição que mostrou ser eficaz e adequada;ensinar em profundidade o que é essencial nas letras e ciências; aprender com os velhos e antigos e não mudar a linguagem por tudo e por nada; trabalhar e trabalhar; atender aos pobres mas sem "solidariedades" de cartilha. Etc etc etc.
Ainda iremos a tempo de retomar as velhas ideias? Duvido. Estes gestores não aprenderam e portanto não conseguem ensinar. Basta ler a entrevista, publicada no Diário de Notícias de hoje.