terça-feira, novembro 12, 2013

A comunistóloga encartada puxa dos galões

Daqui, deste lugar frequentado por esquerdistas de todos os matizes que julgam que o dinheiro aparece por milagre nas contas bancárias de todos e do país, fica um texto que se lê como um requisitório contra o PCP. O verdadeiro, o do PREC.

O texto é de Raquel Varela, a reescritora da História portuguesa contemporânea que já entendeu que o PCP nunca quis tomar o poder em Portugal, em 25 de Novembro de 1975...mas apenas brincar às revoluções.

Abstenho-me de discutir o PCP na Revolução dos Cravos e o papel de Cunhal neste blogue porque era o mesmo que eu ser criacionista e querer discutir com um físico teoria quântica. Publico posts mas deixo as discussões para a academia, sem qualquer pedantismo. Quem sabe de História sabe que aqui tem-se uma versão da história do PCP mais ou menos idêntica ao capítulo especial de Estaline sobre a Verdadeira História do Partido – não há qualquer fundo de realidade mas uma devoção que não permite qualquer discussão séria.
Assim de rajada – e porque fui a única pessoa que publicou um trabalho de investigação (os outros são ou jornalísticos ou de memórias ou dizem respeito a sectores específicos), em Portugal sobre a história do PCP na Revolução dos Cravos  -poderia falar da proibição de Santos Júnior falar no 1º de Maio; na militarizarão da greve dos CTT, da TAP, do Jornal do Comércio; na tentativa de proibição com armas, em, vão, da Manifestação da Lisnave, da Interempresas; da constituição de brigadas físicas com uso de violência para furar greves (como no sindicato dos químicos em Abril de 75); da tentativa de militarizar toda a força de trabalho com o Documento Guia Povo-MFA (esta até o próprio Cunhal  admitirá publicamente 1 ano depois que foi longe demais); na oposição do PCP ao cerco à AR em Novembro de 1975 (apoiando a manif distribuindo no local um panfleto contra o cerco). Nos 3 primeiros meses de revolução – 3 – todos os comunicados do PCP do comité central, exceptuando um sobre a ida de Marcelo para a Madeira – são «contra as greves», consideradas «desordeiras, provocadores, feitas por agentes da CIA», etc.
A literatura histórica diz que há várias formas de revolução e várias formas de contra-revolução. Há a contra revolução chilena, com botas de ditadura militar, mas há a contra revolução democrática, a instituição de um Estado democrático com amplos direitos laborais contra os organismos de duplo poder e a democracia de base. Tudo isto é, bem entendido, discutível. Eu costumo discutir, até com muitos intelectuais do PCP (que jamais questionaram a documentação e a conclusão do meu livro de que Cunhal lutava por um capitalismo regulado em Portugal, muitos deles em conferências públicas!) se poderia ter sido de outra forma: uns argumentam que não havia forças para mais; outros com a estrutura de classes e propriedade do país; outros que era uma etapa; outros a pressão da URSS e de Yalta. Tudo está em cima da mesa e as discussões merecem as horas que lhes dedicamos porque são dúvidas legítimas e que remetem, por isso são tão acesas, para as propostas teóricas de hoje sobre o futuro da sociedade.
Agora o que me impressiona – e fui obrigada a vir aqui – é o legado vivo do 1)pensamento único e da 2)calúnia.
O primeiro diz que  só existe unidade se pensas como eu  - Cunhal elaborou bastante sobre o tema. Ao repto da esquerda revolucionária (apelidada pelos comunistas pró soviéticos de extrema-esquerda) de que vamos juntos para as manifs e cada um leva o seu panfleto e o seu discurso e as bases/trabalhadores lêem, discutem e escolhem qual a política que querem apoiar, Cunhal respondeu, só vamos juntos se publicamente pensarmos o mesmo ou omitirmos as diferenças. Tenho sobre isso uma opinião – o pensamento único público não cria unidade, cria seitas e uma seita não se mede por ser grande ou pequena, uma seita pode ter 10 000 membros e 100 000 que contínua a ser uma seita. 
O segundo é o da calúnia – um método usado ad vomitum como se vê por aqui, a mesma calúnia que transforma um grevista contra o Governo em «agente da CIA», e um debate sobre Cunhal num debate sobre o Renato Teixeira e a moral do Renato.
Não há nada tão baixo como transformar uma discussão sobre as ideias de uma pessoa na discussão sobre essa pessoa. É o método da calúnia, do estalinismo que fez aquela coisa tão patética e triste (uma derrota que ainda hoje nos pesa a todos nos ombros) – e que contínua viva e tão viva como aqui se viu – que é matar todo o comité central em 36-38 não porque se opunha ao controlo operário, à colectivização forçada, ao que viria a ser o pacto germano soviético mas porque eram «trotskistas». A certa altura já ninguém sabia quem era Trotsky e a Zita Seabra gritava em 1975 contra os estudantes do Técnico que se opunham à realização de exames de «agentes da CIA e trotskistas». Será que eu sou uma Renatista?
Não fosse tudo isto sintoma da total incapacidade do BE e do PCP responderem à crise e seria até motivo de diversão.

Questuber! Mais um escândalo!