segunda-feira, novembro 18, 2013

Le Nouvel Observateur tem Jean Daniel, 93 anos e lúcido. Nós por cá, a apagada e vil tristeza de sempre.

Quem quiser saber o que é jornalismo a  sério, com qualidade exemplar e referência mundial basta ler a revista francesa semanal Le Nouvel Observateur que é de uma esquerda que por cá não temos. Tal como a Marianne, aliás.

Fez agora 40 anos que comprei o primeiro número dessa revista, na sequência dos acontecimentos da guerra do Kippur, entre Israel e os árabes e na sequência da "guerra dos seis dias", de 1967.

Durante estas décadas li esporadicamente a revista ( e guardei-as quase  todas, principalmente as mais antigas) , sempre interessante e sempre bem feita, gráfica e redactorialmente, apesar da renovação do seu quadro de jornalistas. A ficha redactorial de há 40 anos ( número de15 de Outubro de 1973) reflectia a página do sumário dos assuntos da semana, com nomes sonantes do jornalismo de sempre.


Hoje a revista continua a recomendar-se como modelo e a ler-se com igual prazer. As tiragens, ao longo dos anos, não mudam muito e andam à volta dos 500 mil exemplares. O número desta semana tem na ficha redactorial inexistente ( na edição internacional) o sumário com as palavras cruzadas da praxe e com a indicação de dois editoriais. Um de Laurente Joffrin e outro de Jean Daniel o patrão da revista desde sempre e que conta actualmente 93 anos ( nasceu em Julho de 1920) mais quatro que Mário Soares de quem se dizia há uns anos que para formar a opinião sobre assuntos internacionais teria que ler primeiro Jean Daniel...

Este director da revista tem um blog. Torna-se espantoso como um jornalista com a sua idade continua lúcido e moderado numa escrita que se lê como uma narrativa.

O editorial desta semana, em duas páginas, trata o assunto "Kennedy", agora que perfazem 50 anos sobre a sua morte, em Dallas e é tema de todos os media.
 O assassínio de Kennedy ocorreu à hora de almoço de 22 de Novembro de 1963. Cá em Portugal era já noite. De manhã, eventualmente, lembro-me de o meu pai ter ouvido no rádio e comentado que Kennedy morrera e tal significar um choque, mesmo para nós, "isolados" do mundo no tempo de Salazar. Kennedy não gostava do regime de Salazar e muito menos da política ultramarina.
Jean Daniel explica no editorial razões para tal. E conta como foi testemunha desses factos históricos vividos na primeira pessoa, nessa época.Conta como conheceu Camus, como conheceu Kennedy, como conviveu com Walter Lippmann, referência do jornalismo e como se encontrou com Fidel Castro no dia em que Kennedy morreu.
O outro ancião mais novo e que anda por cá a bolsar disparates a eito, tido como homem de Estado nem aos pés deste indivíduo chega. Um seigneur, quoi! Com vida própria e digna de ser contada. O outro só se contar as aventuras nos Galápagos às costas de uma tartaruga gigante...


8 comentários:

Anónimo disse...

Caro José, ideias nefandas (como as que defende Daniel) não se tornam mais apelativas só porque são argumentadas e defendidas com um nível que, obviamente, a esquerda tuga não tem. Também me lembro de há umas duas décadas o L'Unità entrevistar Fini, então ainda líder do MSI; alguém imagina o Avante a entrevistar o José Pinto Coelho?

josé disse...

Jean Daniel é meio judeu ( como J.D. Salinger de quem ando a ler a magnífica biografia) e sempre defendeu isto que defende.

Aliás, a L´Éxpress que comprava igualmente ( e compro esporadicamente, do mesmo modo)tinha a mesma posição relativamente ao conflito israelo-árabe.

Por outro lado, na época os judeus da guerra dos seis dias e depois do Kippur eram os meus heróis.

Só deixaram de o ser muito mais tarde quando percebei que são um povo racista e com a mania enraizada de que são "o povo eleito".

josé disse...

Jean-Jacques Servan-Schreiber, o fundador do L´Éxpress também era meio judeu...

josé disse...

Ou seja, nestas matérias estavam comprometidos.

josé disse...

Et je ne le savais pas.

Anónimo disse...

Não se pode generalizar, José. Eu já estive em Israel várias vezes em trabalho e encontrei muita gente que, sem hipocrisias, defendia a coexistência pacífica entre judeus e palestinos. Também falei com vários árabes cristãos que, sem rodeios, se diziam satisfeitos por viver em Israel (imagino que não lhes seria fácil, por exemplo, viver na Gaza liderada pelo Hamas...). Israel é um país pequeno mas muito complexo, onde há de tudo. Tenho toda a estima pelo movimento pacifista, que actua com coragem face aos extremistas que se julgam eleitos.

José disse...

Quem mantém o clima de guerra permanente e numa situação completamente insolúvel, há décadas?

Não são apenas os extremistas porque os israelitas consideram que está sempre em causa a sua sobrevivência como Estado. E está...

Estão rodeados de árabes por todos os lados menos por um, como Portugal em relação à Espanha.

Não têm opção e isso compreendo. O que não compreendo é a nível mundial, particularmente a extrema influência nos EUA e nos mercados, para só referir isso.

Anónimo disse...

"Quem mantém o clima de guerra permanente e numa situação completamente insolúvel, há décadas?" Obviamente os dois lados; sempre que há alguma aproximação os extremistas de ambos os lados arranjam forma de radicalizar de novo a situação.

O Público activista e relapso