quarta-feira, dezembro 18, 2013

Tecnologia, empresas e oportunidades perdidas

Ontem à noite, num programa da SIC-N com Mário Crespo, um dos convidados habituais,  Ângelo Correia falou sobre o caso dos estaleiros navais de Viana do Castelo. Disse que é uma pena perdermos uma empresa que têm muitos trabalhadores, no sector da soldadura,  que são do melhor que há no mundo.  E disse que mercê de erros de gestão, ao longo dos anos, a empresa foi entrando na falência e agora a solução será arranjar um parceiro, porventura asiático, que é onde se situam os maiores estaleiros mundiais,  para angariar clientes e barcos para construir, afinal o objectivo dessa mesma empresa.

A nossa indústria de manufactura, com excepção da CUF, um império industrial criminosamente desmantelado pelos comunistas,  nunca foi algo que se impusesse a nível mundial ou até europeu, mas em 1973 tinha uma relevância que depois perdeu em meia dúzia de anos, se tanto, logo a seguir às nacionalizações.
As grandes empresas nacionalizadas como a CUF e a Lisnave e Setenave, a Siderurgia, a indústria pesada, os estaleiros navais ( como o de Viana de Castelo) não ficaram melhor depois de passerem a pertencer ao Estado e "ao povo" porque a gestão foi sempre ruinosa, por incompetência pura e simples ou manipulação de interesses partidários consoante o partido do poder, geralmente de bloco central.

Em 1973 o panorama era outro, porém. O Estado, tido depois como demasiado intervencionista na Economia, por condicionar a actividade industrial, como se isso não fosse regra básica em todos os países civilizados, incluindo os EUA ( "o que é bom para a General Motors é bom para os EUA", dizia um político americano de então), era em 1973 um regulador da actividade económica e com a consciência de permitir que a iniciativa privada florescesse. Depois apareceu a teoria dos "monopólios" e do "imperialismo capitalista" e outras asneiras trágicas que os comunistas e socialistas impuseram como discurso corrente no país, para afastarem os "fascistas capitalistas" que foram obrigados a expatriarem-se para fugirem à cadeia arbitrária ( tal sucedeu a seguir ao 28 de Setembro de 1974) de pois de lhes surripiarem os bens sem qualquer indemnização e ainda por cima com uma carrada de vitupérios em cima. Coisas do comunismo luso que quase toda a gente de então aplaudiu e fixou como princípio constitucional orientador, em 1976. Ainda permanece, aliás, o espírito desse tempo de tragédia nacional e parece que não querem acabar de vez com o mesmo, agora que estivemos mais uma vez à beira da bancarrota. Coisas do socialismo luso que em tandem com aquele comunismo que  já nos arranjaram duas bancarrotas iminentes e apostam outra vez em arrancar a ferros uma terceira.
Os media aplaudem e quando estiverem na falência atribuirão a culpa ao "neo-liberalismo " e á "política de empobrecimento". Sempre o mesmo paleio oco, sem substância, sem razão e trágico que  tem sido o fadário nacional das últimas décadas.
Parece que não se aprende com os erros e que estes são para repetir sempre com os mesmos estribilhos a defender os pobrezinhos, a igualdade e a solidariedade.

Já então se falava nas "riquezas do mar", tal como hoje, mas com outro enquadramento porque tínhamos a vontade, os meios e a oportunidade de conseguirmos fazer o que hoje é apenas um desiderato vago e impreciso, como se vê pelo caso dos estaleiros navais de Viana.  No Observador de 17 de Agosto de 1973 escrevia-se que Portugal tinha na altura o know how em matéria de construção de barcos gigantes, estando na vanguarda dessa tecnologia ( Ângelo Correia falou ontem que em 1974 alguns técnicos e engenheiros  portugueses foram construir estaleiros para países do Médio Oriente,  exportadores de petróleo). De referir, ironicamente, que o discurso de Américo Tomás, então, é idêntico ao de Cavaco Silva, nos dias de hoje, sobre esse assunto...


Por outro lado, a tecnologia e o desenvolvimento eram assuntos que ocupavam as mentes que então governavam Portugal. Assim, como explica a mesma revista, em 30 de Março de 1973.

Depois das nacionalizações e do que se passou a seguir, nas décadas vindouras, sabe melhor do assunto um indivíduo que nunca se enganou na análise que foi fazendo do país que somos:Pedro Ferraz da Costa, aqui num artigo no Semanário de 1 de Março de 1986, ano em que Mário Soares ganhou o lugar de presidente da República por uma unha negra de um pouco mais de uma centena de milhar de votos, angariados entre os comunistas que nele votaram com os olhos tapados.


Esta reflexão ocorreu-me a propósito de uma entrevista na Wired deste mês, a um indivíduo- Vaclav Smil- que Bill Gates considera como um dos seus autores preferidos. Na entrevista fala precisamente sobre a indústria manufactureira e da sua importância para os países, citando a Alemanha que nunca descurou tal vertente do desenvolvimento económico.
Smil entende que em qualquer país é a manufactura que desenvolve a classe média baixa e que a inovação aparece principalmente em sectores da manufactura, antes de surgir em laboratórios. Tal como nos estaleiros de Viana do Castelo que formaram dos melhores soldadores de todo o mundo e que se arriscam a desaparecer...


Juntanto todos estes elementos poderemos vislumbrar com alguma certeza, quem foi que ao longo das últimas décadas deu cabo da economia nacional...e  nos colocou de chapéu na mão, estendida aos usurários internacionais.

Questuber! Mais um escândalo!