Tal como Wemans, Vicente também considera a divulgação dos videos do interrogatório de arguidos no caso Marquês um atentado ao verdadeiro jornalismo.
Perante a circunstância constrangedora de ver a presidente do Conselho de Deontologia do Sindicato dos jornalistas, São José de Almeida, a contradizê-los, que diz Vicente? Que não gostou de a ver ostentar aquele título para emissão de uma opinião pessoal.
E que diz sobre o fundo da questão? Simples: em primeiro lugar entende a transmissão das imagens como a espinha dorsal da reportagem em questão. Primeiro engano: não são. Serão apenas o alimento natural de um qualquer jornalismo básico que é o de chamar a atenção para a noticia, a fim de prender o leitor/espectador. Já o disse: as imagens são espúrias de algum modo para o essencial da questão e que é o que Vicente e outros não abordam e aquela São José Almeida o faz.
Em segundo lugar argumenta com a ausência de contraditório que tal implica. Ridículo este argumento, na medida em que o contraditório resulta do próprio conteúdo das imagens. Não fazem outra coisa, aliás, os visados: contrariar as evidências factuais que lhes apresentam.
Na reportagem da SIC não se tratou de "mera encenação subsidiária da investigação judiciária" . Tratou-se sim de uma reportagem original com base em factos apurados na investigação judiciária. Nem poderia ser de outro modo, uma vez que os jornalistas não têm acesso aos conteúdos das contas offshore e tal parece ser uma das pedras de toque do incómodo destes jornalistas. Parece que gostariam mais que não se soubesse nada sobre isto...
O essencial da questão da reportagem da SIC é isto que o Correio da Manhã publica hoje sem imagens de qualquer interrogatório porque não é preciso:
Isto é que é jornalismo que aparentemente aqueles- Vicente Jorge Silva e Jorge Wemans- não gostam muito. Estas notícias baseadas em factos é que se tornam insustentáveis, não "os filmes do senhor procurador". E sobre estas nem uma palavra de apreciação crítica dos ditos jornalistas indignados.
Quanto ao contraditório, alguém impede os visados de se pronunciarem publicamente e justificarem tais factos que atentam aliás contra o senso comum?
Esta indignação que parece postiça, mas aparece disfarçada na evocação de princípios vãos de um jornalismo teórico, é que acaba por se tornar suspeita e constituir o cerne de uma hipotética notícia de homem que morde o cão.
O que impele dois jornalistas antigos que dirigiram jornais a mostrar tão grande incómodo com "filmes" algo anódinos para o assunto principal que procuram ilustrar?
É um mistério que só pode ser resolvido nas idiossincrasias dos ditos ou então em substractos suspeitos dos seus sistemas de contactos.
A ausência de qualquer incómodo com a essência da notícia que envolve pessoas de alto coturno na sociedade portuguesa e cuja actuação modificou a vida de milhares ou até de milhões de portugueses é suspeita. A transferência dessa preocupação exclusivamente para o fait-divers não dá margem a dúvidas alargadas sobre a boa-fé deste procedimento. Finalmente, a replicação do argumento estafado sobre os "justiceiros" no caso particular de Manuel Pinho, deita por terra qualquer consideração acerca do bom fundamento das dúvidas.
Vicente tem uma pedra no sapato. Tal como um tal Arons de Carvalho, um dos fundadores do PS. Não a vemos mas eles sabem que está lá e andam coxos, por isso mesmo. Tal efeito não o podem esconder e aliviam a maleita suspirando contra os que querem saber que pedra é essa.
Para já rasgam estas vestes. Mais lá para a frente rasgarão as que vierem a seguir e que se adivinha já quais são: as da política e interesses partidários. Ou seja, vão politizar o assunto, tal como fizeram com o caso Lula e também no caso Casa Pia e depois no Freeport. É tão certo como dois e dois serem quatro.