Esta figura internética que não conhecia, com nome Guilherme Duarte e provavelmente um dos expoentes de uma geração que é a mais bem preparada de sempre, escreveu estas pérolas num sítio qualquer alojado na Sapo que eventualmente lhe paga estipêndio por ser politicamente correcto ( caso contrário andaria a embrulhar coisas num pingo doce):
Mais um 25 de abril que passou, mais um dia em que muitas pessoas mostram a sua indignação contra uma revolução que libertou Portugal de uma ditadura, tal como as gerações mais velhas se queixam que a juventude estar perdida, sem se lembrarem que na sua geração havia muito mais discriminação, por exemplo. O mais estranho é ver pessoas que não viveram no tempo de Salazar a exaltar-lhe as qualidades: é o mesmo que ver pessoal que nasceu em dezembro de 1999 a fazer publicações nostálgicas sobre os anos noventa. Que existam velhos do Restelo que têm saudades de Salazar porque nessa altura faziam parte do pequeno grupo de privilegiados, ainda percebo, ter gente nova a dizer que Salazar é um injustiçado pela história, é só ignorância.
Eis algumas coisas que li sobre Salazar, por esse paraíso da liberdade de expressão que é a Internet:
«Ele também fez coisas boas.»
Sim, tal como um marido que espanca a dona Arminda, mas de vez em quando faz-lhe um cafuné e chama-lhe "meu bem". Na volta, ela deixava queimar o arroz e merecia uma ou outra lambada do marido. Enfim, a senhora que se queixa tem memória curta, talvez das constantes pancadas na cabeça, e basta o marido assentar-lhe a mão que ela esquece logo aquela vez, em 1972, em que ele não lhe bateu quando ela lhe deixou vincos na camisa.
«Houve ditadores piores.»
Bom argumento para achar que Salazar foi bom. Iria mais longe e afirmo aqui que, nesse caso, não vamos criticar o Kim Jong Un porque Hitler e Estaline foram piores. Aliás, o vizinho da frente da dona Arminda é bem pior do que o seu marido porque espanca a mulher mais vezes e, por isso, esta nem se devia queixar.
As pessoas só sabem criticar. O senhor Alfredo vivia bem no tempo da ditadura; não tinha ideias próprias e vivia bem assim, sem ter de pensar ou contestar a autoridade. Era racista e homofóbico e sabia-lhe bem andar na rua sem ter de ver essa gente. Nunca teve de lidar com miséria e pouco lhe importava se os outros estavam a sofrer. Aliás, Hitler foi bom porque há nazis que ainda hoje dizem que viveram bem naquele tempo. Toda a gente sabe que basta haver uma pessoa a dizer que é bom, para o ser. Se não for esta a hipótese, as únicas que sobram é o avô de quem disse isto sofrer de Alzheimer ou ser ignorante.
«Por algum motivo ele foi eleito o maior português de sempre».
Primeiro, maior não significa melhor. Maior pode ser de maior influência e nisso, talvez concorde já que o atraso da ditadura ainda se faz sentir. Se perguntarem à dona Arminda qual o marido que mais a marcou, ela dirá que foi o que lhe batia com mais força. Mas, mesmo que as pessoas tenham votado porque achavam que ele foi bom, isso só prova que a maiorias, muitas vezes, são burras e que, realmente, ainda somos um país um bocado atrasado, quiçá, por termos tido 44 anos de ditadura.
Comentemos então as pérolas que prodigalizou aos porcos que o não lêem:
Em primeiro lugar o indígena do Sapo tem um estilo patafísico, neologismo para designar patacoadas escritas em português aprendido em colégio terceiro-mundista.
Em segundo lugar a arrogância das ideias brota da escrita como cogumelos venenosos em humidade de chiqueiro.
O argumento das "coisas boas", como se pode ler, é desmontado com a classe dos borra-botas que arrotam a comida fast-food.
O segundo, "houve ditadores piores", replica o primeiro.
O terceiro "o meu avô viveu nesse tempo e diz que ele foi bom", ainda é melhor porque cita Hitler e como se sabe esse é o argumento supremo para se acabar com qualquer discussão.
Finalmente, para justificar a propina do Sapo, gorgoleja uma evidência sobre um concurso televisivo em que Salazar conquistou o pódio: "maior não significa melhor". Afinal, segundo a auto-explanação temos inteligentes deste calibre porque ainda vivemos o reflexo da ditadura.
Nisso, está certo o palerma. Em 44 anos não fomos capazes de correr com esta canalha dos media e eventos correlativos. São, aliás, os preferidos porque quanto mais alarves na opinião, melhor ficam.
Espicaçado pela curiosidade mórbida fui procurar saber quem é o indígena. Ei-lo conforme se apresenta no sítio ( que alguém paga):
Nascido na Buraca, engenheiro informático de formação, curso que, para desgosto dos meus pais, apenas utilizo para atualizar este site. Cedo percebi que fazer humor era a melhor forma de desarmar assaltantes e em 2014 decidi criar um blogue, Por Falar Noutra Coisa, para escrever opiniões raramente sérias, muitas vezes parvas. Faço stand up comedy. Faço vídeos e sketches. Tenho uma série na SIC Radical. Faço um podcast. Faço crónicas para o SAPO 24. Faço o jantar e lavo a loiça enquanto a minha namorada vê a novela.
NB: enganei-me no ápodo. É apenas mais um cretino a quem ainda falta um tempo para chegar à imbecilidade.