O outro é de Rui Tavares, figura pública de um movimento amarrado a anacronismos ideológicos, o Livre.
Ambos se pronunciam sobre o fenómeno da "violência doméstica" e as mortes de mulheres.
O primeiro vai buscar estatísticas internacionais para demonstrar que o assunto é caso de "poder" e falta dele. Ideia peregrina que já um certo Foulcault enunciou. Resume assim: "a falta de poder gera violência". Frase feita, sem carecer de nenhuma explicação, fica ali, solta e logo a seguir a autora desmente-se a si mesma: "já o desemprego dos homens que lhes retira poder, diminui a violência". Enfim, um escrito que não é para levar a sério, minimamente. Até porque diz que no CSM, "uns assustadores sete, a favor do arquivamento do processo, abstiveram-se na votação do caso do juiz Neto Moura, que utilizou o adultério para mitigar a pena de um homem que agrediu a mulher com uma moca de pregos". Será preciso explicar pela enésima vez que não era disso que se tratava? Não, não vale a pena perder tempo com estas pessoas. A ideia feita já fez o seu caminho de não retorno.
Tal como o escrito lamentável de Eduardo Dâmaso do CM de hoje e no mesmo sentido do populismo demagógico. A este propósito deve dizer-se que se há pessoas e instituição que têm contribuído de modo acentuado para este estado de coisas relativamente à violência doméstica é o grupo Cofina, onde aquele é alto responsável editorial. A banalização do voyeurismo, por causas estritamente comerciais e a exploração desenfreada, despudorada e escandalosa da miséria e desgraças alheias são motivo para que se peça a instauração da censura. Pura e simples. Esse sim, um escândalo e uma vergonha públicas que subsiste não por razões de interesse público mas apenas estritamente venais, de dinheiro e lucro. Imoral.
O coordenador da Equipa de Análise Rectrospectiva de Homicídio em Violência Doméstica, o magistrado do MºPº Rui do Carmo disse-o ontem: a exploração mediática destes casos, para além do razoável, gera fenómenos de imitação e as mortes ocorridas podem ter também essa causa. Se assim for, é melhor que o editorialista, responsável pela Sábado e CM ponha a mão na consciência e mude o sentido editorial da estação de tv CMTV.
De resto, o juiz Neto Moura é apenas um bode expiatório, bem arranjado pelo jacobinismo para arcar com responsabilidades que não lhe competem nestes casos.
Perceber isso exige um pouco mais de raciocínio e saber, o que parece faltar nestes dias de raiva ao jornalismo nacional. Até os juízes responsáveis pelo CSM embarcam no populismo ambiente gerado por este jornalismo de sarjetas várias que procura lugar de despejo de uma frustração feita de ignorância.
Portanto esta questão da "violência doméstica" é assunto de discussão por causa do número de mortes estatisticamente assustador.
O que sugerem estes articulistas de ocasião para se resolver tal problema? Em primeiro lugar, obrigar os tribunais a aplicar penas pesadas a qualquer arguido do crime. Penas suspensas, nem pensar, mesmo que as leis e prática judiciária o aconselhem e fomentem.
Depois, estudos. Estudos de quê? A sugestão da Peralta é esta: " Institua um mecanismo centralizado de reporte pelas forças de segurança dos homicídios e respectivas tentativas em contexto de violência doméstica, com informação sobre a situação económica e social das famílias, a composição e treino das equipas de segurança e o seguimento dado aos casos".
Apetece dizer: quem sabe, faz; quem não sabe, ensina.
O articulista do partido amarrado a arcaismos ideológicos, o Livre, diz mais e propõe ainda mais: "há que criar esquadras especializadas no atendimento às mulheres, aumentar as linhas dedicadas, realizar mais formações com o pessoal policial e hospitalar na linha da frente"..
Esta gente saberá mesmo do que fala ou é só por ouvir dizer dos jornais e tv?
Acho que é mais isso e aí o drama: cegos guiam outros cegos. O resultado é a catástrofe e a perplexidade de quem observa o aumento das tragédias.
De resto há um sector onde ocorrem mais mortes e muitas delas evitáveis, se houvesse o que parece consensual: maior fiscalização rodoviária. Aqui não é preciso muitos estudos porque os principais estão feitos.
Talvez a actual histeria sobre o fenómeno da violência doméstica, fomentado pelos media do grupo Cofina e Público, merecesse menos atenção.
Todos teríamos a ganhar, principalmente as vítimas daquele crime, se o assunto da histeria fosse mais este:
Nem de propósito, a revista francesa L´Obs desta semana tem este artigo acerca do assunto do "homicídio conjugal". Talvez valha a pena ler, pelas Excelências que ontem se ocuparam das "medidas" para estancar a mortandade entre casais. E reflectir, aprender algo sobre o assunto que manifestamente não dominam, não compreendem e apesar de tudo afirmam sabedoria de mestres. A complexidade das questões sempre foi um óbice para espíritos simplistas...
Diz assim no artigo, a propósito de declarações de poderes públicos do Estado: "accionamos, tanto no cível como no penal, tudo o que podíamos para a proteger"...e não foi suficiente. Tal como por cá não vai ser.
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