Um tal Adelino Cunha escreveu uma biografia de Álvaro Cunhal, alegadamente para revelar o seu lado "íntimo". O livro parece-me que valerá pouco uma vez que toma partido. Assim:
O Álvaro Cunhal sabia que era uma pessoa carismática, sabia que provocava esse efeito nas pessoas e cultivou, ainda que a contragosto – porque ele achava que o herói era coletivo, era o povo...
Mas ele achava mesmo isso? Porque era estalinista, não é?
Eu tenho dificuldade em responder a essa pergunta de forma que não seja um bocadinho agressiva...
No livro, percebe-se uma certa ambiguidade em relação a isso.
Bem, se estalinista é um adjetivo, ou seja, se significa que a pessoa soube, concordou e colaborou com o assassinato em massa que foi o estalinismo, um período facínora na história do comunismo internacional, então é intolerável que se diga que o Álvaro Cunhal era estalinista. Seria como dizer que ele sabia e concordou com aqueles massacres. Não era estalinista nesse sentido.
Então, era no sentido de quê? Da pessoa, da personalidade do Estaline?
Eu acho que não tinha a ver com o Estaline. Tinha a ver com a situação do PCP ser um partido ultra-periférico, pouco relevante do ponto de vista internacional e dependente financeiramente das operações internacionais. Acho que o PCP foi fiel politicamente a Estaline, como foi a Khrushchov e depois a Brejnev, por uma questão de sobrevivência.
Mas quando Khrushchov denuncia Estaline no chamado Congresso Secreto, em 1956, que provocou uma confusão geral nos comunistas do mundo inteiro, o Cunhal mesmo assim defendeu a imagem do estalinismo. Quer dizer, o PCP, dirigido por Cunhal, recusou-se a aceitar a versão do Khrushchov.
Há aí um detalhe histórico. É que o Cunhal estava preso em Peniche. Quando se começa a fazer esse revisionismo todo, ele está confinado. Ele mais tarde até se vem queixar que o PCP tentou apagá-lo da História por ter feito também esse esforço de se desfazer do culto da personalidade.
Então, era no sentido de quê? Da pessoa, da personalidade do Estaline?
Eu acho que não tinha a ver com o Estaline. Tinha a ver com a situação do PCP ser um partido ultra-periférico, pouco relevante do ponto de vista internacional e dependente financeiramente das operações internacionais. Acho que o PCP foi fiel politicamente a Estaline, como foi a Khrushchov e depois a Brejnev, por uma questão de sobrevivência.
Mas quando Khrushchov denuncia Estaline no chamado Congresso Secreto, em 1956, que provocou uma confusão geral nos comunistas do mundo inteiro, o Cunhal mesmo assim defendeu a imagem do estalinismo. Quer dizer, o PCP, dirigido por Cunhal, recusou-se a aceitar a versão do Khrushchov.
Há aí um detalhe histórico. É que o Cunhal estava preso em Peniche. Quando se começa a fazer esse revisionismo todo, ele está confinado. Ele mais tarde até se vem queixar que o PCP tentou apagá-lo da História por ter feito também esse esforço de se desfazer do culto da personalidade.
Portanto temos um Álvaro Cunhal que foi estalinista por necessidade de...sobrevivência. Mesmo depois de os soviéticos virem dizer que o que Estaline fez não se deve fazer, Cunhal achava que foi bem feito. Por necessidade...e porque o fim justificava o meio, através da mentira, da aldrabice e da falsificação histórica.
Cunhal soube perfeitamente o que foram os anos trinta na União Soviética porque teve gente do PCP que lá esteve precisamente nessa altura. Os assassínios, as "depurações" com execuções em série, a repressão, a ditadura mais feroz, o totalitarismo no seu esplendor massificado.
Tudo isso é reduzido a um pormenor: sobrevivência do partido justifica tudo.
Enfim. Este Adelino Cunha em vez de escrever biografias, deveria especializar-se na escrita de hagiografias de tiranetes e quejandos. Tem jeito.
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