Em Novembro de 2017 por ocasião da efeméride dos 50 anos das cheias que inundaram algumas zonas da grande Lisboa e arredores de desgraça e mortos, houve quem acusasse o fassismo da altura por esconder o número dos mortos e tentar evitar o retrato naturalístico da catástrofe natural, já ocorrida e de todos conhecida.
Uns jornalistas de aviário da comunicação social ministrada em madrassas escreviam coisas parabólicas sobre a censura do fassismo, como o Expresso de 11.11.2017:
Na altura escrevi assim em comentário a um artigo demente e escabroso no Expresso:
O artigo acerca das enxurradas de há 50 anos na região de Lisboa, com várias páginas ilustradas por outro fotógrafo antifassista- Eduardo Gageiro- mete mais água do que aquela que mostra e começa logo na capa a asneirar: "quando as águas desceram, revelou-se a indigência do regime de Salazar".
É este o mote de todo o arrazoado asneirento e cuja essência inclui naturalmente a Censura a que o regime submetia previamente certos jornais e publicações periódicas.
"A ditadura nunca permitiu que se soubesse o número de mortos", afirma a licenciada em ciências da comunicação, como se tivesse sido possível determinar com rigor tal número, nos dias imediatos. E esclarece o que a Censura indicava: "é conveniente ir atenuando a história. Urnas e coisas semelhantes não adianta nada e é chocante. É altura de acabar com isso". Se era altura de acabar com isso seria porque já teria começado. Como é sabido e bem sabido, o jornalismo em geral, em 1967, era todo virado à esquerda, à oposição ao regime e pró-comunista em alguns casos concretos. Tirando os jornais afectos declaradamente ao regime- DN e Século, por exemplo- tudo o mais era do "reviralho clandestino" e tal era sabido da Censura que apesar de integrar algumas almas penadas em farda militar tinha linhas de orientação claras: evitar a subversão política e a maledicência politiqueira em que a oposição do reviralho estava apostada. E por isso, claro era também que tudo o que cheirasse a tentativa de reviralho politiqueiro era censurado. E bem, nalgums casos, noutros mal.
O que fazem os media hoje em dia? Publicam tudo o que é para publicar, nomeadamente o que perturba o funcionamento da geringonça? É o publicas! A diferença reside apenas na então institucionalização da Comissão de Censura e que agora funciona em modo mais alargado dentro das redacções e tem como orientador o "respeitinho" ao Governo e chefes apaniguados que lá estão para os fretes de sempre. Não há Instituição mas as instituições que mandam são para respeitar, em modo claro e compreensível por todos os que pretendem manter postos de trabalho precários e salários para viver. Há grande diferença? Talvez, mas preciso que ma indiquem claramente porque me custa a ver.
A afirmação mais estúpida do artigo é esta: " A ditadura de Salazar quis silenciar a tragédia".
Hoje em dia, perante a crise do Covirus a censura instalou-se em teletrabalho continuado. Ninguém questiona a verdade dos números anunciados diariamente pela DGS de agora, nas conferências em que aparece o gato-pingado do costume, doutrinado pela superiora hierárquica do sistema e mandatado pelo manhoso se sempre, o primeiro-ministro que temos. A oposição desapareceu do mapa mediático.
Quem tiver amigos ou familiares que trabalhem em hospitais sabe perfeitamente que a realidade dos números apresentados é inferior à verdade factual, em valores significativos.
Quem trabalha nas morgues sabe a verdade factual que se lhe apresenta diariamente. Quem trabalha nas enfermarias sabe a realidade factual dos que estão em cuidados intensivos sujeitos a ventiladores.
Quem trabalha em autarquias ou regista entradas de doentes em hospitais sabe de onde provém os infectados e a zona crítica que se desenvolve em certas áreas.
Tudo isso é sonegado, com rigor de verdade à opinião pública e sob o pretexto e manto diáfano no "segredo estatístico".
A "verdade a que temos direito" é a dos palermas, novos censores que agora dirigem certos jornais e redigem notícias nas tvs e rádios.
E ninguém aparece para dizer "o rei vai nu"....mostrando que a democracia actual vai muito para além da censura que o regime de Salazar e Marcello Caetano quiseram alguma vez impor a uma realidade que se espelhava e que naquela ocasião de 2017 foi mais uma vez espezinhada pela mentalidade vigente: a do sistema democrático conveniente a uma certa oligarquia, fundamentalmente ideológica.
Não vejo que autoridade moral tem esta democracia para acusar o regime anterior seja do que for, nesse domínio. Antes, para mim é pior do que aquele jamais foi, nesse aspecto.
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