sábado, março 01, 2025

Os costumes da corrupção

 Este  artigo de António Barreto no Público dava um livro, um romance, uma novela, um filme, sei lá! Houvera quem tivesse génio para tal...mas não temos por cá um Moravia. Nunca tivemos, a não ser...um Camilo, no Eusébio Macário, com a personagem Calisto Elói. 

É um artigo sobre a corrupção que só mostra a face quando se vê uma floresta de enganos em vez de árvores dispersas de ocorrências. E denota ainda um paradoxo: o que não é corrupção é entendido como tal por uma vasta maioria dos que votam, sabendo que as coisas são mesmo assim. E o que é corrupção é assimilado ao que pode nem ser mas passará a sê-lo dentro de um contexto preciso que é o do exercício do poder político. 

Antes desse exercício, um Calisto Elói qualquer pode furar a vida como lhe aprouver, no limite da legalidade e dentro da limitação de um tráfico de influência propício e adequado: amigos, contactos, contratos e dinheiro público no jogo. Nada de mal, nem de criminoso. Eppure...e há contratos se houver contactos e só há dinheiro para tal onde não custa dar a ganhar, ou seja, no domínio vasto do erário público de quem decide. Com concursos e ajustes legalíssimos. Os que não beneficiam dos contactos e dos contratos que fossem mais finos...fizessem pela vidinha, sorrindo e contactando, trocando pequenos ou grandes favores, amizades e cumplicidades. 

A parte final do artigo é equívoca e estraga a sua essência: não é possível estancar uma onda tsunami de costumes corruptos há décadas, ou até desde sempre, com um aparato de barragens ou diques ainda por cima mal feitos. 

A corrupção criminal tem expressão nos tribunais se e quando lá chegarem os factos e para tal é preciso que passe por vários crivos, o primeiro dos quais é o que a legislação aprovada em ambiente de corrupção de costumes, hipócrita, consente. O segundo é que uma sociedade como a portuguesa é composta por gente que não pensa de modo unívoco relativamente ao fenómeno e é permissiva e complacente e tal reflecte-se também nas instituições judiciárias, para além do mais. 

Quantas vezes não ouvimos já declarações grandiloquentes de magistrados responsáveis por sectores de combate ao fenómeno, afirmarem que afinal o país não é assim tão corrupto como se pensaria e certos media sugerem?

Enfim, esta é uma questão em aberto e a propósito do assunto Montenegro e dos seus negócios privados antes do assumir cargo de responsabilidade política maior quando já tinha cargo de responsabilidade política menor. Das influências, contactos, contratos e vidinha. 

É exemplar, parece-me. Dava mesmo um grande romance. Aqui fica o artigo do Público de hoje:




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