quarta-feira, janeiro 16, 2019

O apelo populista a Salazar

No Polígrafo, o jornalista Fernando Esteves parece andar muito preocupado com o movimento de Mário Machado, NOS.

Vem aí uma manif convocada pelo referido NOS onde se evoca o nome e a imagem de Salazar para passar uma mensagem que ainda não se sabe muito bem qual seja, para além do mote "Salazar faz muita falta!", o que aliás é dito comum a quem lamenta a falta de ordem ou de certos princípios morais ou de disciplina em várias matérias ou ainda os desmandos do Estado, com destaque para a corrupção de altas figuras.

Salazar, durante décadas, tem sido apresentado como uma antítese desses fenómenos negativos e porventura como alguém capaz de pôr cobro a tudo isso- se fosse vivo. Daí o dito.

Uma coisa parece certa: com Salazar o NOS, tal como é apresentado pelos media, teria vida difícil senão impossível. Mas o NOS pode ser outra coisa e por isso impõe-se o benefício da dúvida.



Um dos temas do cartaz é a lembrança de  Salazar que tem sido banida da "nossa História". De facto tem sido banida a memória certa do que foi Salazar e do que representou. E esse debate não se tem feito. O único que se faz é o da Esquerda comunista e não comunista que o apresenta como o símbolo máximo do "fascismo" e fica tudo dito com tal acantonamento redutor.

Não obstante, Salazar tem muito mais que se lhe diga e devia dizer-se livremente. Se o apelo do NOS tem um enfoque explícito em determinados preconceitos ligados à extrema-direita, seja isso justo ou não ( interessando à Esquerda em geral atirar o NOS para tal reduto político, entre nós maldito para o politicamente correcto) a verdade é que deveria aproveitar-se o ensejo para se falar de Salazar e do que realmente foi, para além dos clichés esquerdistas de sempre.

O apelo do NOS está contaminado à partida pelo preconceito que o aflige. No meio mediático nacional não há volta a dar a tal fenómeno e o interesse de Fernando Esteves, no Polígrafo representa bem tal idiossincrasia e enviesamento.

Em Setembro de 1974 alguns apoiantes do regime anterior- de Marcello Caetano e de Salazar, diga-se- organizaram uma manifestação de apoio ao general Spínola, ainda presidente da República mas desiludido quanto ao rumo que a Revolução de Abril estava a tomar, notoriamente orientada pela Esquerda e Extrema-Esquerda e com um processo revolucionário de tomada do poder pelo comunismo em geral que terminou em 25 de Novembro de 1975.

A manifestação foi convocada para depois de uma tourada a realizar no Campo Pequeno e havia cartazes assim, para o efeito:


O desenho do cartaz, algo infeliz mas graficamente interessante era do cartunista Quito e a expressão "maioria silenciosa" apelava a reminiscências do tempo do Maio de 68 e dos gaullistas que a empregaram.

Pois bem, nessa mesma noite as forças de esquerda reagiram à "reacção" e organizaram milícias de controlo rodoviário, a que chamaram "vigilância popular". É ver a imagem de 3.10.1974:




Mais: o referido cartaz da "maioria silenciosa" por artes mágicas da esquerda do mdp-cde ( não era só a extrema-esquerda, metida nisto...) passou a figurar deste modo, mostrado pela Vida Mundial da semana seguinte:



O PCP para mostrar que não deixava créditos por mãos alheias ( embora no caso do mdp fossem as palmas da própria mão) também aproveitou a ideia em livro:


Em Setembro de 1974, também  muito por efeito da manipulação mediática da época, com a contribuição de quase toda a imprensa, rádio e tv, tomados pelas forças políticas de esquerda, (incluindo o Expresso em que lá estava o actual presidente da República), foi revertido num instantinho gráfico desse  modo.

Temo que o cartaz do NOS tenha o mesmo fim, porque estas coisas não esquecem à Esquerda.
Já há uns anos um cartaz do PNR teve direito democrático a ser ladeado por outro idêntico com mensagem hostil. A democracia do palhaço RAP é do género e ainda hoje se ufana do feito que lhe trouxe notoriedade e proveito bancário a breve trecho.  E a memória do feito viria por via paternal porque os progenitores da criatura viveram os tempos heróicos da luta contra a "reacção" desse modo prosaico. A vidinha sempre lhes  sorriu, bem empregues em empresas públicas. E os tempos continuam a correr de feição pelo que vai repetir a façanha, pela certa.

Na semanas seguintes àqueles episódios edificantes da nossa democracia, em modo popular, o problema era colocado assim, na capa da referida revista:


Era a CIA, o papão. Hoje em dia já não é a CIA mas o discurso de ódio aos americanos não mudou uma vírgula, por esses lados. Agora é o Trump que paga as favas.
A raiz desta mentalidade da esquerda nacional vem daí, desse tempo e do PREC. As madrassas do jornalismo limitam-se a reproduzir esses refrões à força de terem sido cantados tantas vezes pelos antigos mestres do "poder popular" e  a vigilância exercida permanentemente sobre a tal "reacção".

O que se passa com o NOS e a reacção destemperada provocada nos media tem essa explicação causal, a meu ver.

No outro dia apresentei uma foto, de 1953, tirada à saída de uma cerimónia religiosa, em Santa Comba Dão.

Salazar para mim é uma referência exemplar de um tempo que foi de Portugal e um símbolo dos portugueses que acreditavam na Pátria destino de todos, sem influência ou domínio comunista, ateu e desenraizado das nossas tradições.

Por mim aprecio mais Marcello Caetano como político que falhou, mas cujas convicções me seduziam mais dos que as de Salazar. Marcello Caetano atravessou também o tempo e o espaço de Salazar mas não parou algures num tempo indefinido por princípios imutáveis quanto ao modo de governar. Marcello Caetano soube adaptar-se no tempo e poderia ter conduzido Portugal a um futuro bem mais radioso do que o que nos foi legado a partir de 1974.

Relativamente a Salazar, hoje apresento outra foto exemplar e recheada de semiótica que me parece extremamente interessante debater.
As fotos são do álbum de Joaquim Vieira, publicado em 2001 pelo Círculo de Leitores e foram tiradas pelo inspector da PIDE, António Rosa Casaco, em 1953 ( o comunista Loff chorava no Público do outro dia, baba e ranho por causa do jornalista José Pedro Castanheira o ter entrevistado para o Expresso em 1996... porque tal não era jornalismo mas publicidade aos "perpetradores").



Este Salazar que aqui se mostra não será o que se deseja para pôr cobro a desmandos. Este é o Salazar rural que vivia na sua aldeia com as pessoas do campo porque tinha sido da mesma "igualha" social.

No fundo o que a Esquerda não perdoa a Salazar é esta identificação que eles nunca tiveram. Nem no Alentejo...

Esta identificação é feita de paz e sossego e não de ódio ou hostilidade a quem tem algo de seu. Comunga dos mesmos valores, no caso cristãos, ocidentais e tradicionais, ou seja, tudo o oposto a tal Esquerda.

A evocação de Salazar seja pelo NOS seja por outro qualquer deveria seguir sempre esta via, mostrada na última imagem: balizada pelos carris da tradição, com precaução mas firmeza no andar para o futuro destino.

Portugal não pode resumir-se a umas ideias de Esquerda que aqui vieram parar, vindas com o vento Leste, nos idos de 1974. Portugal é muito mais antigo que isso.

No O Diabo de ontem o articulista Manuel Silveira da Cunha mostra o horizonte desse caminho: a nossa História pregressa, mal conhecida porque mal contada pelos Rosas e afins que afinam pelo Leste. Ora nós sempre fomos do Ocidente cristão...



 O autor refere António Quadros, muito esquecido. De facto assim é. E que tal começar por este livro sobre Fernando Pessoa e o único que conheço que refere a ideia fantástica do Quinto Império da lenda?  O livro é de 1981, da Arcádia [ de notar que António Quadros é referido num apontamento da Vida Mundial de 10.10.1974, com laivos de censura: tinha sido apoiado pelo novo SNI, o M.C.S. já no tempo do PREC...].


E já agora o que dizer disto que tem sido notícia ontem e hoje:


E este do Público, um pouco melhorzinho porque traz o poema todo:


Os versos censurados pelos educadores oficiais revelam a pederastia do autor? Representam o incitamento a crimes de abuso sexual de menores, que agora devem ser punidos com penas de prisão firmes e prolongadas?

É caso para o André Ventura se pronunciar...mas pode ir lendo o livro de António Quadros que responde cabalmente a tais questões. E ao mesmo tempo permite entender que é sempre necessário colocar as coisas no seu tempo e contexto.

Tal como Salazar...

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A obscenidade do jornalismo televisivo