sábado, janeiro 19, 2019

Portugal, uma tragédia sem fim: "atoleiro e miséria"

Este idealista que escreve agora no CM fugiu de Portugal por causa do fassismo. Nesse tempo, Salazar queria preservar o país do comunismo e manter a tonalidade de Nação que  era uma espécie de Tradição alheia às ideias marxistas.
Justamente por isso Salazar sempre foi um fascista para os adeptos estalinistas do totalitarismo de Estado que deixaram numerosa prole ideológica que ainda campeia nos media nacionais.

Influenciado por esses ventos de uma História que se revelou perniciosa para os povos que a sofreram, este articulista foi para um país do norte da Europa, protestante, adepto do capitalismo e avesso àqueles ideias marxistas. Nele encontrou refúgio de alguma liberdade que não sentia por cá, mas cedo se desiludiu do ideal, continuando arreigado à ideia que a Pátria que deixara ficara em perda com o destino que escolheu, apesar da evidência prática que experimentou.

Como o dealbar do novo Portugal que Abril abriu não se deixou ludibriar mas perceeu tarde que afinal o logro foi mais profundo e perene do que supunha.

É isto que escreve hoje no CM sobre esta tragédia que dá pelo nome de Portugal. Rentes de Carvalho não tira a ilação que se impõe: a falta de liberdade a que fugiu, de resto em mutação acelerada com Marcello Caetano,  não lhe compensaria a tragédia a que assistiu depois, mudo e quedo e que só agora reconhece como tal? Hoje verte as lágrimas que seguem: Portugal não tem conserto económico e não só.  É um Portugal de "atoleiro e miséria".




Evidentemente que para os contentinhos do regime isto é absurdo, incluindo para um dos seus fautores, o actual presidente da República que acompanhou o antes e depois de ambos os regimes. O que ajudou a construir é um "atoleiro e miséria".  O que havia antes poderia não ser um ideal mas prometia um futuro bem melhor que aquele que existe. E essa é a Questão.

Se há alguma desiderato neste blog é compreender como tal sucedeu. E por isso os sinais, a semiótica que se tira disto ou daquilo podem servir.

Como por exemplo esta crónica de Pacheco Pereira no Público de hoje que sem dar conta mostra em que se tornou a "democracia" que supostamente será superior ao regime que Marcello Caetano defendia...


É natural que neste panorama em que o PSD aparece como um partido de competências ocas, roídas pelo interesse privadíssimo em fazer vidinha à custa seja do que for, tirando partido do status quo que depende essencialmente de um Estado tentacular, o articulista Vasco Pulido Valente consiga escrever que  perante os acontecimentos partidários que voltaram a entronizar Rui Rio " ninguém me conseguiu dar uma boa razão para o PSD existir".
O Público perante tal frase contextualizada no dito conselho nacional do PSD titulou na primeira página a frase, tal e qual como aparece escrita...mas sem a indicação do contexto. Ou seja, uma fake news.


No Sol há mais sinais dessa tragédia que é Portugal, actualmente.

Este artigo de Filipe Pinhal mostra o que é a actual burla gigantesca em que se transformou o Governo: enganar as pessoas para se manterem no poder é o desiderato político principal e vale tudo para tal efeito.


Ainda mais sinais e estes bem mais reveladores: entrevista alargada à filha de Rómulo de Carvalho, conhecido como António Gedeão e de quem a maioria das pessoas com um mínimo de ilustração conhece a poesia Pedra Filosofal.


A Pedra Filosofal foi tema de um disco single no início dos anos setenta,  pelo cantor cripto-comunista Manuel Freire.  Em tempos ( na altura do centenário da morte de Rómulo de Carvalho) escrevi um pequeno texto sobre o tema:

"não fora o movimento dos baladeiros, no final dos anos sessenta e António Gedeão,não seria a figura que é, na poesia portuguesa. Mais ainda: a Pedra Filosofal , em vez da Grândola, deveria ter sido o sinal musical do 25 de Abril, na minha opinião.
Como é que aqui se chegou?
Tudo começou com a Pedra Filosofal cantada por Manuel Freire, no início de 1970.
Antes, em 1968, Manuel Freire cantara já, acompanhado a viola acústica, Dedicatória, de Fernando Miguel Bernardes ( “Se poeta sou, sei a quem o devo; Ao povo a quem dou os versos que escrevo. Da sua vida rude, colhi a poesia; tentei quanto pude, dar-lhe a melodia”) e ainda Livre, de Carlos de Oliveira ( “Não há machado que corte A raiz ao pensamento. Não há morte para o vento, não há morte.”).
Manuel Freire, com a Pedra Filosofal, relançou o interesse na poesia de António Gedeão,cujas obras completas, tinham sido publicadas cerca de dez anos antes.
A canção, editada pela marca Zip-Zip Movieplay, em 14 de Janeiro de 1970, foi um êxito, logo à saída, e a sua divulgação, ao vivo, no programa Zip-Zip, de Carlos Cruz, Raul Solnado e Fialho Gouveia, apenas acrescentou notoriedade ao cantor e ao poema."


A revista comunista Mundo da Canção, da época, deu o destaque a Manuel Freire muito por causa da Pedra Filosofal que aliás cantou no final de 1969 no Zip-Zip



Para além disso inspirou todo um disco Lp, publicado em 1972  intitulado Fala de um homem nascido , todo cantado por antifassistas opositores ao regime, incluindo alguns de extrema-esquerda ( Samuel) e do PS que nem existia na época ( José Niza):

 Em tempos, também já dei conta disto, do tempo heróico em que a "cantiga era uma arma" ( "contra quem, camaradas? Contra a burguesia...tudo depende da bala e da pontaria"):


Resumindo: Rómulo de Carvalho nasceu no início do século XX, sendo praticamente da geração de Salazar. Foi educado no espírito da época. Foi um brilhante professor de ensino básico e secundário, escreveu pequenos manuais escolares preciosíssimos para a época, de divulgação científica. Escreveu poesia que foi aproveitada pelos opositores ao regime anterior, para fustigar ideologicamente sem usar linguagem panfletária.

Porém, ao ler a entrevista da filha não sobra nada de antifassismo, na personalidade de Rómulo de Carvalho. Sobra apenas o facto de actualmente nem sequer o pai ser reconhecido como figura da Literatura portuguesa.

Um novato das letras, ensinado e aculturado com o Portugal de Abril ( Mário Silva) parece que coligiu os cem melhores poemas dos últimos cem anos, o ano passado. António Gedeão nem aparece...o que é motivo de amargura da filha.

Ora este é um dos tais sinais do Portugal de Abril...porque António Gedeão era demasiado independente para se submeter à Esquerda dominadora da intelectualidade lusa. Por outro lado não fugiu ao "fassismo" e viveu uma vida confortável com o seu trabalho. Até assinava a Life, aparentemente sem saber inglês.
Ao ler o que a filha diz de Rómulo de Carvalho, da sua educação e modo de educar e da sua maneira de ser, fica-se com uma ideia de um certo Portugal dos anos cinquenta e sessenta, tempo de Salazar.

A Esquerda não aprecia esta gente, apesar de então lhe ter servido de inspiração...

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