O artigo, pela aragem, não cheira a marxismo primário e tem uma ideia ou duas para explicar a nossa incapacidade em crescer economicamente. Sobre este assunto há várias ideias, algumas delas originais ( Pedro Arroja) outras peregrinas até entrarem em círculo vicioso de chuva em molhado.
Tenho para mim que sobre estes assuntos as teorias são apenas isso e a prática é outra coisa. O nosso período histórico de maior produção de riqueza ocorreu durante os anos sessenta do século passado, ainda no tempo do fassismo. Depois foi sempre a descer na tabela comparativa das nações.
Se isso assim foi torna-se lógico e imperativo perceber o fenómeno e não apresentar novas teorias peregrinas sobre o fassismo ou o condicionamento industrial ou outras balelas para esconder as incapacidades democráticas em gerar riqueza sustentável e autónoma, sem ajudas externas vergonhosas para a dignidade de qualquer país.
Tal análise não parece ser muito difícil, a não ser para quem tema as conclusões que aliás se impõem de modo fatal: o sistema político que temos há 40 anos não funciona bem porque não exprime democracia, antes partidocracia dos mesmos de sempre. E corrupção a rodos, por isso mesmo. Uma corrupção latente, insidiosa, inerente ao sistema e atávica. O articulista conclui mesmo que é essa partidocracia que impede o funcionamento democrático. O poder político assenta assim numa espécie de oligarquia partidária, já ausente de representação popular. Os eleitos são sempre os mesmos...
Sobre isto, com o qual concordo, dois exemplos recentes me ocorrem: o primeiro com a nomeação, pela ministra s socialista Ana Paula Vitorino, do advogado socialista Eduardo Paz Ferreira, marido da ministra da Justiça, magistrada que ingressará no STJ, como presidente da comissão que vai renegociar a concessão do terminal de Sines, atribuída à empresa de Singapura PSA, um processo que tem como objectivo um investimento de cerca de cem milhões de euros para a expansão do terminal de contentores.
O segundo com a manutenção no cargo de deputado, já vitalício, no caso concreto, do inenarrável Jorge Lacão que nunca conseguiu obter uma licenciatura que fosse [ epá. lá meti outra vez a pata na poça: o indivíduo é licenciado em Direito...peço perdão pelo lapso de não chamar dr. Lacão que até é regente numa dessas universidades e anotou em 2001 a 5ª revisão da Constituição], nem sequer na antiga Internacional ou Lusíada ou mesmo Lusófona. Não tem importância tal carência, mas tipifica o apparatchick partidário por excelência. Do PS, também.
O estudo destes dois casos singulares, exemplares da corrupção política e todas as suas imbricações e implicações permitiria talvez perceber melhor porque falham as nações e Portugal em particular...
As duas ideias que observo no escrito parecem-me algo discutíveis. A primeira socorre-se de um exemplo histórico que não sei se está correctamente analisado. Diz que em África os colonos portugueses exploraram minerais sem integrarem populações locais, explorando-as e controlando-as porque eram densas. Na mesma África os colonos ingleses não puderam fazer o mesmo nas terras porque não havia tal densidade demográfica e por isso tiveram que recorrer a importação de colonos e mais colonos. Diz que desse modo, nasceu o pluralismo económico e político e a indústria ganhou com isso.
Terá sido assim realmente? É que tal ideia baseia a seguinte que aparece no escrito: tal como em África "as instituições são extractivas e os cidadãos compulsivamente afastados da vida colectiva, não desempenham as profissões pretendidas, seja porque as oportunidades são diferentes, seja porque a educação é cara, havendo profissões a que só alguns acedem".
Faz algum sentido, esta ideia ligada àquela?
Desconheço o conhecimento histórico desta sumidade em economia académica. Desconheço a cultura geral, leituras e interesses deste articulista que ensina na Univ do Porto.
O que sei é apenas que a análise factual ao que está mal, está bem feita: "O Estado atrapalha tudo", escreve em síntese.
Quando às causas e portanto aos remédios, tenho grandes dúvidas sobre a explicação, para além dessa claro.
Outro economista que julga saber destas coisas ( e doutras...) é Eduardo Catroga, com experiência governamental e de gestão de grandes empresas, por conta de patrões institucionais ( agora é a China...).
Num livro recente, autobiográfico, escreve esta meia dúzia de páginas sobre a essência do seu pensamento político-económico e social. Vale a pena ler...mas para quê? Será que os ensinamentos estão correctos? É assim que se deverá fazer para sermos mais prósperos e atingirmos o nível de países que estavam ao nosso alcance em 1973-74 e agora estão muito à frente?
A reflexão não deverá ser mais complexa e subtil, com incidência noutros factores que não o estritamente economicista?
E estes economistas estão à altura de o fazer, sem terem conhecimentos suficientes de História, Cultura e Humanidades em geral?
É a pergunta que deixo, embora saiba que alguns que se arrogam tais conhecimentos ( Por exemplo um Pacheco Pereira e outros do mesmo quilate intelectualizado na esquerda) seriam mais nocivos do que outros sem tais apetrechos intelectualizados.
Enfim, um mundo de paradoxos que me deixa mais confuso do que certo.
Às vezes dou por mim a pensar: como é que Marcello Caetano entenderia isto e tentaria resolver, mesmo teoricamente estes assuntos?
Acho que o mesmo o explicou muito bem, durante a sua vida e ao lê-lo retomo sempre um fio condutor: é preciso atender aos princípios básicos, experimentados. E não tentar fazer experiências que além do mais deram muito mal resultado. Refiro-me às socialistas...
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