domingo, janeiro 27, 2019

Pimenta na língua para o Polígrafo




O Polígrafo  ( Fernando Esteves, mas neste caso lamentavelmente não assinado) propôs-se analisar a veracidade deste facto relatado:

Na semana em que Mamadou Ba, assessor do Bloco de Esquerda, se destacou no centro da polémica em torno da intervenção policial no bairro da Jamaica, foi noticiado que obteve contratos por ajuste direto da CML com um valor global de 191 mil euros. Nas redes sociais arredondou-se esse valor para "200 mil euros", sem a contextualização das notícias originais.

Chegou à seguinte conclusão: Mamadou Ba não recebeu “200 mil euros” em ajustes diretos da Câmara Municipal de Lisboa. Essa conclusão que está a ser difundida em massa nas redes sociais é falsa. 

Ou seja, anda por aí uma falsa notícia nas redes sociais acerca do pobrezinho Mamadou, africano do Senegal que imigrou para cá e se integrou como activista político, atreito ao Bloco de Esquerda ( já agora, o Polígrafo não poderia ajudar-nos a perceber a natureza radical do BE, mormente na questão de saber se é de extrema-esquerda?).

Seja como for, vejamos o modo como foi difundida a notícia, por aqui, há alguns dias: 

A notícia que li diz que Mamadou Ba recebeu € 2491/mês por serviço que prestou na Assembleia Municipal.  Na primeira página aparecia: " assessor do Bloco com ajustes directos de 191 mil euros". 

Era falsa, esta notícia?  

Diz no corpo principal que o referido Mamadou Ba celebrou três contratos com a Câmara de Lisboa, naquele valor, entre 2009 e 2013. 

Diz o CM que tentou contactar o Mamadou para esclarecimentos destes factos mas o mesmo mostrou-se indisponível para falar e depois nem atendeu o telefone. E continua a ser assessor do BE...

São factos, isto, ou não? 

O Polígrafo, na busca da verdade, assinala que "as notícias sobre estes contratos, publicadas esta semana em vários jornais, partem de uma base factual verdadeira e, no geral, apresentam os elementos que acabamos de expor. No entanto, a maior parte dos títulos aponta para o valor global de 191 mil euros que nem sequer foi efetivamente pago (o último contrato foi interrompido a meio e, no total, Mamadou Ba recebeu cerca de 157 mil euros brutos)."
Quer dizer que afinal os factos são verdadeiros e apenas poderão divergir no montante dos números acordados no final de um contrato terminado por mútuo acordo, em 2015.  O contrato tinha sido celebrado por 1418 dias, em 13 de Dezembro de 2013, a um custo mensal de €2491,10 com IVA. 

Notícia totalmente correcta, nesse aspecto essencial. 

Na verdade o que o Polígrafo pretende sindicar é a notícia falsa que corre nas redes sociais que apimenta esse facto verdadeiro, passando o valor para uns arredondados 200 mil euros e fazendo crer que foi tudo de uma vez e limpinho. 

Mas ao fazê-lo deixa a impressão de que o que passa nas redes sociais é totalmente fantasiado. O azar do Polígrafo é que num parágrafo a seguir estende as redes sociais também a vários jornais e eu não sei que jornais são esses. Afinal o fact-checking não era apenas para os whatsapps?
O Correio da Manhã, segundo julgo foi o único a referira tal notícia do modo que se expõe. Que outros jornais o fizeram , como as tais redes sociais? O Polígrafo que o diga, em nome do verdadeiro/falso/pimenta na língua. 

É a expressão verbal da desinformação que tem sido difundida nas redes sociais, mediante centenas de publicações: os 157 mil brutos que Mamadou Ba recebeu entre 2009 e 2015 (através de três contratos por ajuste direto da Câmara Municipal de Lisboa) passam para “200 mil euros” no presente, enquanto “assessor na Assembleia da República”. 

De facto, Mamadou Ba trabalha atualmente como assessor do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, na Assembleia da República, mas os “200 mil euros” (que na verdade foram 157 mil euros, torna-se a sublinhar) corresponderam à prestação de serviços na Assembleia Municipal de Lisboa e na Câmara Municipal de Lisboa, não na Assembleia da República.

“A fortuna que vários jornais têm dito que Mamadou Ba ganhou com a Câmara de Lisboa não é fortuna alguma. É o valor dos contratos de trabalho referentes a oito anos de funções. Os 190 mil euros correspondem, em média, a cerca de 1690 euros mensais brutos. Ou seja, cerca de 980 euros líquidos mensais”, denunciou o autor de “Uma Página Numa Rede Social” (tal como o nome indica, trata-se de uma página no Facebook, com cerca de 70 mil seguidores), em mensagem publicada na sexta-feira, dia 25 de janeiro.

Oito anos de funções?! Entre 2009 e 2015 são oito anos?

Má nota para o Polígrafo. Pimenta na língua, por isso. 

Sem comentários:

A obscenidade do jornalismo televisivo