Por casualidade, assisti , à hora do almoço, à parte final do programa de tv Praça da Alegria que se apresenta na RTP1, animado por Sónia Araújo e João Gabriel.
Entre reportagens ao vivo e debates em estúdio, foi alvo de atenção o caso particular de uma sentença de um tribunal colectivo algures neste país, e que condenou numa pena de prisão de 12 anos, um homicida que alvejou um jovem, pelas costas, segundo se dizia, na sequência de uma altercação de trânsito.
As vozes inflamadas dos familiares directos, permitiam verificar o ar de indignação que os mesmos sentiam pela pena que entendiam levíssima e escandalosa. Apesar da "elevada indemnização" referida pelo animador do programa, o familiar do jovem morto a tiro "pelas costas", não se conformava e a pedido do animador deu a sua sentença: vinte anos de cadeia era a pena justa. Doze é um escândalo.
Não vou discutir os termos do julgamento nem sequer do caso. Aliás, o próprio animador dizia que não o conhecia integralmente.
Mas é exactamente aqui que bate o ponto. Um programa de televisão de grande audiência, com público variado e que pode estar em casa ou em lugar em que a tv está ligada à hora do almoço, viu em directo, um julgamento popular, sumário, em contraste com o julgamento efectuado no local próprio , ou seja o tribunal.
O programa e os animadores não se preocuparam minimamente em contextualizar o caso, mostrando os factos que permitem o julgamento com garantias de aplicação da Justiça. Apenas quiseram mostrar a reacção dos familiares da vítima a uma pena que julgaram irrisória e injusta.
E mostraram de modo a que toda a gente ficasse ciente da versão das vítimas que não concordam com uma sentença penal.
Que quer isto dizer? Que em Portugal, a Justiça é apresentada na tv como um acontecimento digno da praça da alegria: sem rigor, sem objectividade, sem contextualização, sem compreensão da lei, do Direito ou até mesmo da Justiça.
O populismo nasce assim e desenvolve-se em alfobres destes. E a tv destas praças da alegria julga-se porventura um modelo. Se lhes perguntarem, aos animadores, o que pensam de uma Manuela Moura Guedes será provável que façam uma careta de reprovação...
21 comentários:
"Cá se vai andando com a cabeça entre as orelhas"... burros somos nós!
http://democraciaemportugal.blogspot.com/2010/04/22-centimos-para-o-pstroca-por-troca.html
Já nada me admira, mas desta era 1 de Abril.
Claro que um qualquer programa de TV, e principalmente destes a que eu chamo TV-Lares (da 3ª idade) não será nunca o local para se discutir um julgamento feito num Tribunal.
Mas, com exemplos destes, da nossa Justiça portuguesa, a acontecerem cada vez com mais frequência e um pouco por todo o lado:
http://www.publico.pt/Sociedade/violador-de-crianca-com-pena-suspensa-por-nao-ter-cadastro_1432955
o que há-de o cidadão pensar? como deve reagir? será que os Juízes não têm filhos? como será que eles reagiriam em casos que tais? esperariam dos seus pares sentença semelhante? como a aceitariam?
Mas dantes até havia um juiz reformado que se oferecia para essas palhaçadas televisivas.
O problema é que nos jornais fazem igual.
Essa notícia do violador é verdadeira?
A primeira pergunta é esta. E gostava de saber.
Porque não acredito.
E gostava de saber se for mentira o que acontece ao jornaleiro que a inventou.
Zazie
Entendi mal, ou... perante uma má mensagem, mata-se o mensageiro?
A questão que pretendo colocar ( enquanto vejo o Inter-Barcelona na tv) é outra:
Nestas sentenças há uma discrepãncia entre o que é noticiado, nos factos tal como se apresentam e o julgamento dos mesmos e a aplicação das penas.
O problema e o equívoco surge sempre que os jornais pegam no assunto do modo simplista como o costumam fazer e provocam o escândalo que parece evidente quando muitas vezes não é.
Por isso recuso embarcar no histerismo do comentário simplista sem outros dados que não os dos jornais.
Já fiz isso no caso do miúdo de Mirandela que se atirou ao rio, no entanto...e hoje penso duas vezes antes de o voltar a fazer.
Nestas coisas a complexidade não se compadece com a realidade que os media costumam apreender, por causa do imediatismo e do tempo em que são notícia.
Este é um dos grandes problemas do nosso tempo no que concerne à Justiça: não consegue lidar com os media de modo a evitar os equívocos porque não é possível.
E muitas pessoas julgam as decisões dos tribunais de acordo com as aparências que lhes são apresentadas pelos media que tomam como expressão da verdade pura e simples quando isso raramente acontece.
Se os anos que levo de vida me ensinaram a ser cauteloso e também a não embarcar na primeira leitura que faço dos acontecimentos, por outro lado, também a experiência destes mesmos anos me ensinaram a considerar que, na maior parte das situações, o que parece, é!
Lamentavelmente!
Às vezes é. Outras não. O problema é saber distinguir...
E tenho um critério que afinei ao longo dos anos: para criticar uma sentença, tenho que a ler bem e principalmente conhecer os factos e como foram julgados ou seja apresentados em julgamento.
E só com isso será possível aproximar um pouco à verdade, ao que é.
Os jornais jogam no palpite, na maior parte dos casos e erram em muitos deles. A principal jornalista do erro é a Tânia Laranjo.
Para o pai do rapaz que foi assassinado pelas costas, a pena justa eram 20 anos de cadeia. E não os doze que levou.
Quem aplicou os doze, ouviu e viu a prova que se fez em julgamento.
E só isso conta. Por isso custa-me dizer abertamente, neste como noutros casos que o que parece é. Pode não ser.
E essa dúvida a mim, chega-me para questionar o modo como se faz jornalismo nesta área.
Mas o mais cretino é que tudo isto funciona a toque de caixa de novela.
Num dia atira-se com uma suposta notícia para os jornais, no dia seguinte a novela já é outra.
Nunca dão continuidade a nada. E é por isso que, quem emprenha pelos ouvidos, gosta.
Eu gostava que alguém se desse ao trabalho de fazer uma lista destas tretas alarmantes que eles lá bostam e comentam em diferido, para se saber como ficou.
Tenho a certezinha que nenhum jornalista quis saber de mais nada.
Para quem é bacalhau basta. Por vezes basta o título. Lendo-se é outra coisa.
E noutras não é nada. Foi tudo estropiado.
Estamos quase naquela discussão entre a definição de valores absolutos e de valores relativos.
Nestes casos, e porque já são tantos e tão variados e tão repetitivos ao longo do tempo, já tenho mais tendência para eliminar o "ruido ambiente", desvalorizando os valores relativos e previlegiando mais os valores absolutos.
E, em termos absolutos, a verdade é que parece haver convergência de opiniões:
http://cachimbodemagritte.blogspot.com/2010/04/justica-portuguesa-ii.html
É que, queiramos ou não e por infelicidade nossa, algo de muito nefasto alastra neste nosso "reino".
Por exemplo- essa suposta notícia do julgamento do pedófilo também tem um final um tanto estranho.
Dizem aquilo tudo em tom de escândalo mas, o advogado da acusação até disse que ia ler melhor porque a família da vítima nem tinha contestado a decisão.
Só este detalhe, para mim, é mais que estranho.
O caso do violador é o mesmo?
2008- com 30 anos, não conhece a família da vítima
2010- 32 anos- era visita da casa da vítima .
Vou ler o Magritte e depois comento. Anuncio antes de ler, porque tenho a impressão que vou desancar...em postal a preceito que este assunte merece.
E já li. E já copiei o postal e vou comentar já. Enquanto aguardo pelo fim do jogo que tem sido um grande jogo de futebol. Não vejo muito mas estes desafios não os perco.
Nesse caso também tem o JMF a mandar bitaites no Facebook.
Ele diz que o violador não foi preso
por não ter cadastro
O JMF é do mesmo estilo de julgamento, às vezes. No caso da pedofilia na Igreja, felizmente fez um esforço de inteligência.
O mais grave nisto tudo é que estas "más noticias e mau jornalismo" são também pagas com o meu dinheiro. Com o meu contributo obrigatório para a RTP.
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