Em 16 de Julho de 1983, escassos nove anos após a Revolução, o Expresso, o exemplo actual da esquerda meme, tentava mostrar o que era a então "direita" portuguesa. O artigo é assinado por um fugitivo da extrema-esquerda, João Carlos Espada, depois convertido ao liberalismo de Hayek, o que permite aquilatar a objectividade, isenção e distância política da análise em causa.
Marcelo Rebelo de Sousa ( em 14 de Novembro de 1981 o Expresso dedicara um número especial ao estudo do "facto político", convocando-o para testemunhar por escrito...) dizia então que a "família da Direita" precisava de se rearrumar. Quem? Os conservadores e os neo-liberais. E quem eram estes? Ora...
José Miguel Júdice ( em 1986 era o mesmo...mas dez anos depois transformara-se num "homem novo") afirmava-se claramente de Direita. Um certo Sottomayor Cardia escrevia então num livro que a diferença era a de a Esquerda ser pela Justiça e a Direita pelos privilégios. Tal e qual e ninguém se ria porque continuam a dizer o mesmo.
Para ajudar a compreender as diferenças, o Semanário de 3 de Dezembro de 1983, precisamente no seu número 2 e no seguinte, publicou uma entrevista imaginária com Sá Carneirol falecido em 1980 e organizada de "recortes" de outras entrevistas e textos da sua autoria para lhe adivinhar o pensamento futuro.
O exercício merece leitura e amanhã publico a segunda parte.
Há quem queira referir o aparecimento do Semanário no final do ano de 1983 como um reflexo da retoma da "Direita", até sob o ponto de vista cultural. Não me parece que assim seja e basta ler o editorial do seu director Victor Cunha Rego. A linguagem não era de direita, apesar de parecer...e assim, o que o Semanário representou, quando muito e na minha opinião, foi a chegada do arrivismo ( passe a figura) financeiro dos anos oitenta que permitiu um certo boom económico e editorial. Ora o dinheiro investido em jornais não representa direita alguma. O PS fartou-se de torrar dinheiro, algum estrangeiro, em aventuras editoriais que faliram todas, por incompetência lendária dos seus gestores. O Independente, nesta sequência lógica, viria a seguir. Só isso e foi muito pouco. Uma certa Direita, sim, mas não a Direita que reconheço como tal, porque tisnada de esquerda e com a mesma linguagem. Ah! Já me esquecia: em 1983 Portugal encontrava-se na iminência de mais uma bancarrota. Mas havia dinheiro para projectos editoriais...