quinta-feira, fevereiro 19, 2015

Salazarismo platónico

O Professor Soares Martinez, jubilado da Faculdade de Direito de Lisboa voltou a escrever no Diabo e desta vez citou Platão, discípulo de Sócrates.

O que menciona do filósofo permite entender que na Antiguidade Clássica era importante ter como governantes pessoas que fossem ricas em valores e virtudes e pobres de ambição pessoal ou patrimonial. O contrário significará a perda de "toda a cidade no seu conjunto".
Por outro lado, os bons juizes são aqueles que têm experiência, prudência e inteligência" e sempre com idade suficiente para tal.
E por fim, deve preservar-se sempre a imagem do bom carácter nas obras de arte e afins e se necessário proibir as "flores do mal".

Estas ideias simples foram a filosofia do salazarismo, de algum modo. Porém, para as executar e estabelecer como ideologia dominante, foi preciso instaurar um regime de repressão a certas liberdades e censura permanente a manifestações do "feio".

O problema, nestes casos, é definir o que é feio e impôr o gosto aos demais.
Quando o filósofo pergunta em modo retórico se não se devem vigiar os artistas e " impedi-los de introduzirem o vício , a incontinência, a indignidade e a fealdada na representação dos seres vivos", em nome de um padrão de beleza que pode ser apenas subjectivo está lançada a semente de um regime com a liberdade vigiada.
O salazarismo foi isso: um regime que vigiou a liberdade de fazer de outro modo em nome de um bem comum que até determinada altura era mesmo comum mas com o tempo deixou de o ser em absoluto e passou a ser apenas relativo. A Igreja católica teve imensa influência nesse gosto e o povo de há cinquenta anos ainda estava muito influenciado por esses valores e princípios que se reflectiam nos costumes.

O salazarismo mesmo com esse defeito de origem- o de cercear a liberdade em nome do bem comum- tinha virtualidades que mereciam ser estudadas e aproveitadas, por uma razão simples: no final de contas o que a democracia burguesa trouxe ao país foi a liberdade de se apresentar a fealdade de outros tempos transformando-a em beleza artificial e invertendo de algum modo os valores.  Ou seja, de certa forma é uma tirania na mesma porque agora se diaboliza exactamente o que era então entendido como belo e apreciável. E ao diabolizar-se a figura representativa desse período,  deitou-se fora o menino das boas ideias com a água suja da repressão gratuita.

Como se desfaz este nó górdio da actual democracia? Com a reposição da figura de Salazar que continua maldita e o estudo do que disse e fez.

Questuber! Mais um escândalo!