domingo, maio 17, 2015

A mutação genética da cultura nacional

Crónica de VPV no Público de hoje. " Sucede também que a atmosfera em que se formou o regime, em 1974 e 1975, contribuiu para solidificar as principais facções com instrumentos de poder  institucional e político que dali em diante não tornariam a largar", escreve.





O PCP nos anos 50 ou 60 é um partido de massas ou aspirante a tal? Nem por sombras. É um partido de seita em que os acólitos são fanáticos e até mesmo mártires. É um partido de catacumbas que promete uma vida melhor nesta terra aos que nada têm de seu a não ser a força de trabalho. Esse leit-motiv transformado em programa é de uma força avassaladora quando se trasmuda em credo seguido. O exemplo pode ir buscar-se à religião cristã em que os primeiros  cultores se esconderam para praticar os ritos, sendo perseguidos pelo poder de então.  Quando a doutrina se espalhou  livremente e influenciou o poder, tinham passado mais de 300 anos. A religião cristã venceu e suplantou as seitas pagãs. Para tal foi necessário o dar-se a conhecer, divulgando-se a doutrina e os seus efeitos nas pessoas que a aceitaram como a melhor religião para as suas vidas. 
"Pelos frutos se conhecem as árvores"  é expressão derivada de parábola do cristianismo.  Os frutos do cristianismo eram as "promessas de vida eterna" no Céu e o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.  Não há outros frutos que sejam podres.
E no comunismo, particularmente o seguido pelo PCP?  Há imensos frutos podres que foram escondidos , em detrimento das vistosas proclamações de amanhãs a cantar para as classes trabalhadoras e de igualdade assegurada entre todos, pela eliminação das classes de pessoas, em resultado da abolição da exploração do homem pelo homem. 
Estes desideratos grandiosos, para viver na Terra e não em qualquer Céu no qual nem acreditam, fundou o comunismo e solidificou a crença da seita, até hoje.
Os fanáticos desvalorizam qualquer facto ou fenómeno que aparentemente possa contrariar tais objectivos auspiciosos e por isso continuam a lutar pela causa, como se fosse a única razão de viver.
Uma seita porém, não se transforma em religião ou partido de massas se não concitar crentes e aderentes e estes só aderem e passam a acreditar na medida em que as propostas forem credíveis, exequíveis e confiram  uma identidade de credo e afiliação.
É neste processo de transformação das ditas correntes de moda para as de fundo que ocorrem os fenómenos  que  podem condicionar o crédito na doutrina e na religião nascente em forma de partido político de massas.
Ora o PCP e os partidos da esquerda comunista em geral, antes de 25 de Abril de 1974 eram um grupo de sectários sem expressão relevante. Poucos milhares de aderentes e poucos  militantes.
Porque razão encheram praças e comícios, aos milhares e milhares logo a seguir ao 25 de Abril de 1974?
Por curiosidade da política? Por fenómenos tipo maria-vai-com-as-outras? Não me parece.  

Então que razões mais poderá haver?Vejo uma: adesão genuína ao sentimento geral da esquerda que é o da igualdade, o da solidariedade, seja lá isso o que for e à ideia de que os partidos de esquerda são "pelos pobres".
Essa ideia base é o cimento do predomínio da Esquerda em todos os sectores, incluindo no aparelho de Estado. 
E é esse logro que se torna mister desmontar, começando por compreender a origem o equívoco.  

Daí que o artigo do Dragão seja importante e seja igualmente importante repescar estes temas para a discussão pública que aliás não se faz porque nunca se fez verdadeiramente.

Questuber! Mais um escândalo!