Nem toda a informação sobre Maio de 68 segue o habitual guião da esquerda, como por cá aconteceu nas publicações citadas.
Em França a revista Valeurs Actuelles de uma direita que não se envergonha de o ser, como por cá nem existe, publicou estas páginas sobre o assunto que mostra outra visão do fenómeno.
Por cá o pensamento único de uma esquerda sem alternativa deu o tom e fixou o modo da discussão: utopia, sonho e praias sob a calçada. A mentalidade do "e tudo era possível"...que reapareceu por cá, naquela manhã de Abril de 1974. Para que não haja dúvidas é ler aqui, o artigo de Villaverde Cabral que nada esqueceu da "utopia" e do tempo em que lá esteve:
Neste sentido, o movimento foi e permanece «absolutamente moderno»,
para usar a frase de Rimbaud, representando uma actualização dos quadros
mentais das sociedades mais desenvolvidas de então. Aquilo a que se
pode chamar uma auto-presentificação da sociedade.
É a contestação
de todos poderes autoritários, desde a família e a escola à política e à
guerra, que une os estudantes e os jovens trabalhadores que, ao
começarem a ocupar espontaneamente as fábricas depois dos acontecimentos
de Nanterre e de Paris, forçaram o partido comunista e a sua central
sindical a paralisar a França durante três semanas, criando assim uma
«estrutura de oportunidade» para o alastramento da vaga anti-autoritária
ao resto da Europa e ao Oriente, acabando por abalar de forma ainda
maior os regimes ditatoriais, como a Checoslováquia e a Polónia, do que
os liberais. Embora nos antípodas da modernidade de Maio, até a chamada
«revolução cultural chinesa» e os «movimentos de libertação» do Terceiro
Mundo convergiram para aprofundar as fissuras entre as elites mundiais
dominantes.
Os pensadores desta vaga de contestação encontravam-se
na margem da filosofia e das ciências sociais da época: Herbert Marcuse
e Jean Baudrillard, com as suas denúncias da «sociedade de consumo»; o
antigo grupo de «Socialisme ou Barbarie» (Castoriadis, Lefort, Lyotard),
com a sua crítica às burocracias e ao «socialismo real»; o subverviso
Guy Debord, com o seu desvendamento da «sociedade do espectáculo»; sem
esquecer os filmes premonitórios de Jean-Luc Godard: Weekend e La chinoise, ambos realizados em 1967, fazendo da arte política sem ideologia.
Gostei particularmente da "presentificação", para além do "desvendamento", claro...
De facto, na Educação os frutos podres de Maio de 1968 continuam a empestar a Escola e ninguém diz que o rei vai nu e o ministro é um perfeito imbecil que até para falar em público carece de fichas preparadas por outros. Portanto, um bom exemplo do Maio de 68.
Não tem que ser assim e efectivamente não é o desejável.