O Público dá mostras de pretender explicar melhor o que sucedeu com a elite bancária em Portugal, na última década. No caso, com o BES e o BCP, num artigo de uma especialista nesses assuntos.
Venham mais.
Entretanto vale a pena ler a entrevista a Alexandre Soares dos Santos, da Jerónimo Martins do Pingo Doce que é assim introduzida:
É um dos maiores empregadores e não se limita a Portugal. No início
eram cerca de 2300 pessoas, hoje são mais de 110 mil só na distribuição.
Uma vez ouviu comentários menos bons sobre os frescos em algumas lojas
do país e fez uma visita surpresa ao armazém, à meia-noite. Descobriu um
"forrobodó" e que se jogava à bola com couves. Quando pensavam que não
voltava, regressou às 7 horas da manhã. Despediu todos, incluindo o
director.
No grupo Jerónimo Martins foi sucedido pelo filho Pedro e
gosta de pensar que está reformado, mas é o patriarca da família e, por
consequência, o trabalho na Sociedade Francisco Manuel dos Santos não
pára. Actualmente os projectos vão muito para além dos negócios e
estendem-se à área social. Agora há a ideia de criar uma nova fundação,
desta feita para a a área da educação, liderada pelo ex-ministro Nuno
Crato.
Sempre falou sem receios e chegou a dizer que só contrataria José Sócrates para trainee,
provavelmente para o despedir depois (seria dos tais apanhados a jogar
com a couve). É um homem livre, que fala com desassombro e talvez por
isso nunca um político lhe tenha pedido opinião, apesar de ter
construído um grupo que está prestes a atingir os 20 mil milhões em
vendas.
O assunto é uma nova fundação e cujo desígnio será o da Educação, a grande paixão daquele que deixou o país em pantanas, incluindo a tal Educação...
Diz assim, Alxandre Soares dos Santos:
Ainda agora acabámos uma reunião por causa da nova fundação para a
educação, que será presidida por Nuno Crato e que tem como elementos de
fora, entre outros, o professor Miguel Poiares Maduro. Estamos a decidir
quem vamos convidar e aquilo que entendemos exactamente por educação;
se é ensinar a ler, se é ensinar o direito à cidadania, como exercer a
cidadania... É um programa muito vasto, que tem como objectivo alterar a
forma de pensar da sociedade portuguesa. No fundo, é a continuação do
trabalho que, de certa maneira, temos vindo a fazer com a Fundação
Francisco Manuel dos Santos. Pensamos que chegou
a altura de olhar para as coisas em termos profissionais, por pessoas
que sabem e não apenas por ter uma ideia e, por isso, chutar para a
frente. O mais difícil é encontrar pessoas que compreendam a missão, o
que queremos fazer.
Haja Deus! Que magnífica ideia! Espero para ver o nome das pessoas, para além de Nuno Crato Miguel Poiares Maduro que irão escolher e o que irão fazer nesse campo vasto e promissor que precisa de ser cultivado quanto antes para ver se deixo de ler "o quanto antes"...
Ah! E já me esquecia: também falou de bancos, o tema do postal. Assim:
Em Portugal não se aprende nada. Veja o défice, é sistematicamente a
mesma coisa. E são sempre os mesmos. Este é um país que se dá ao luxo de
ter os melhores lá fora, porque se algum vier para cá para presidir um
banco, uma empresa, começam logo por insultá-lo pelo ordenado. Quer
dizer, querem bons à borla. Não há disso. Temos lá fora uma série de
gente competentíssima para gerir bancos e que não trabalha em Portugal
porque Portugal não dá condições. A seguir vem o Estado, e também quer
interferir. Isto não vai lá, não vai. Depois fica este clube fechado,
que deu cabo, por exemplo, do BCP, e um Banco Espírito Santo que quer
ser dono de tudo, um BPI praticamente para amigos, e o resultado vê-se.
Como é possível uma Caixa Geral de Depósitos comprar coisas que não têm
nada a ver com ela? Quando a Compal foi posta à venda, tínhamos uma
parceria com a Heineken, concorremos e concorreram três ou quatro
empresas, quase todas com os mesmos preços, embora não tivesse havido
conversa nenhuma. Quem ganhou? A CGD. O que é que o banco tem a ver com a
Compal, com refrigerantes? Mas isto é assim mesmo.