sexta-feira, junho 08, 2018

Isto é o diabo...e Pedro Arroja que o diga.

No blog Portugal Contemporâneo dá-se conta de uma polémica que envolve o seu principal mentor, Pedro Arroja e um dos mentores nortenhos da firma de advogados Quatrecasas, Paulo Rangel, também eurodeputado, também do PSD, também membro da direcção do ACP, também comentador televisivo e também suposto conhecedor de assuntos judiciários, com alguma influência no meio.

A polémica deu em processo judicial, o que tem como efeito correlativo o aparecimento de uma vida própria inopinada, causa directa de muitos equívocos para quem não está habituado.

Não obstante, o essencial e início de todo o "processo" está aqui, numa entrevista dada em 2015 ao Porto Canal, acerca da extensão pediátrica no Hospital de S. João, uma obra a realizar através de mecenato e que eventualmente não agradou a certo poder político local ou regional.

Pedro Arroja, nesse programa disse algumas coisas desagradáveis para Paulo Rangel e indicou algumas ligações perigosas do mesmo. Classificou um peça jurídica saída da Cuatrecasas como "palhaçada", o que repetiu e voltou a repetir.

Tudo junto, nada de grave e nada que merecesse um processo crime por difamação, segundo entendo. Mas...enfim, a vida é o que é.
 Paulo Rangel enxofrou, o que só o desmerece, houve processo, julgamento, alegações e Pedro Arroja foi dando conta no blog do andamento. Só agora vi por ter visto aqui.

Este caso faz-me lembrar um outro, ocorrido nos anos setenta, logo após o PREC.

Uma senhora cronista de assuntos de sociedade, conhecedora dos meandros da política nacional e de certos protagonistas, chamada Maria Armanda Falcão e que assinava Vera Lagoa, com o apoio de uma certa direita de então que ao longo dos anos foi deslizando para uma certa esquerda de agora, como José Miguel Júdice, Daniel Proença de Carvalho e outros, participaram num jornal lançado em 10.2.1976, intitulado O Diabo.

Logo no segundo número um editorial chamava ao então presidente da República, General Costa Gomes, acolitado pelo Conselho da Revolução, "Gomes de Chaves", como o presunto ou a alheira.
O dito e o regime não gostaram da lesa-majestade e replicaram o costume do regime que substituíram: processos crime em barda, por abuso de liberdade de expressão, ou seja por delito de opinião na imprensa.
Não ficaram por um processo apenas. Em Janeiro de 1979, a directora Vera Lagoa coleccionava 77 libelos e ainda a suspensão do jornal O Diabo, ocorrida em finais de Fevereiro ou início de Março de 1976, nem meia dúzia de números passados, durante quase um ano e por decisão soberana do Conselho da Revolução democraticamente escolhido pela ala esquerda e comunista do MFA. Um sinal inequívoco das "amplas liberdades" entretanto conquistadas aos terríveis opressores da liberdade, o fassismo.

Para suprir a censura do O Diabo surgiu logo O Sol...na mesma onda que o esquerdismo ainda vigente e muito democrático apelida de reaccionário. "Cada vez mais"...


Ao longo dos anos seguintes Vera Lagoa foi acusada, julgada, condenada e absolvida.

Um dos enxofrados mais célebres foi o general Eanes, mas também Melo Antunes, do Conselho da Revolução. E um advogado, Luso Soares por causa do vira-casaquismo.



Portanto, Pedro Arroja que disto se deve lembrar pode sempre ensinar Paulo Rangel, demasiado novo para ter vivido tal coisa em tempo real, os costumes antigos.

Quanto ao caso Melo Antunes, Vera Lagoa foi absolvida na Relação do Porto ( o jornal publicava-se no Porto, inicialmente) com estes dizeres:

"Em democracia, ao contrário dos sistemas totalitários em que a força da autoridade e  sua pretensa significação estão protegidos pelo próprio sistema, que é fechado e coercivo, as funções públicas caracterizam-se antes de mais, sobretudo e principalmente pela exposição  dos titulares do poder à crítica dos seus concidadãos, crítica essa que consente e permite muitas tonalidades, desde o gracejo à caricatura, ao humor, até às formas mais drásticas da polémica e da censura. E não há nome e honra que passe pela crítica  e se não consiga através dela e por força dela."

É só isto e passados quarenta anos ainda andamos nisto. Paulo Rangel, democrata do PSD não sabe que é assim?

Então que seja lembrado por Pedro Arroja que aliás o desafiou na entrevista na tv a debater a "palhaçada jurídica".

Teria então ocasião de devolver o epíteto a Pedro Arroja, se fosse esse o caso.

Porém, preferiu fazer o mesmo que aqueles democratas da ocasião de 1976...

Questuber! Mais um escândalo!