terça-feira, junho 14, 2022

O fantasma de Salazar atormenta os néscios

 Artigo de João Miguel Tavares no Público de hoje, tal como prometido no Sábado:


Há um perigo actual na recuperação do "fantasma de Salazar" e da autocracia que se opõe a democracia e o articulista está preocupado, por três razões:

A primeira é o nacionalismo férreo e com dimensão religiosa. 

Salazar foi um nacionalista ferrenho com dimensão religiosa? Bem, para quem não gosta de Salazar pelos motivos ínvios da ideologia marxista, mormente de pendor comunista, foi tudo isso e mais alguma coisa. 

Cunhal pode falar à vontade no "nosso povo" que é simplesmente patriota. Salazar, se falar alguma vez no povo, o que aliás se afigura raro, é relegado para o nacionalismo serôdio e que se opõe a um internacionalismo cosmopolita que aliás ninguém sabe muito bem o que seja. Será a pertença à União Europeia ou a comunidades económicas, antes dela ou outras de que aliás Portugal fez parte no tempo de Salazar? Não sabemos porque estes intelectuais da escrita em jornal nunca explicam. Porque não sabem, claro está e basta-lhes o saundebaite; bai-te, então!

Antes de ir, porém, conviria ler coisas como esta sobre Salazar e o seu acrisolado nacionalismo. A passagem recortada é de um autor estrangeiro, Tom Gallagher que escreveu assim em 2021 no livro que publicou sobre Salazar, o ditador que se recusa a morrer:


Porém, a melhor apresentação de Salazar como crítico dos sistemas políticos autoritários está nos seus escritos iniciais e desse tempo de regimes autocráticos, numa obra pouco conhecida ( como o são os escritos de Salazar, sempre glosados mas nunca analisados com isenção e imparcialidade) a célebre "Como se levanta um Estado", referindo-se naturalmente ao Estado a que tínhamos chegado com  a I República maçónica e jacobina, que deixou os seus herdeiros legítimos no actual partido Socialista:







Sobre a religião e a moral da época é uma calinada estulta repetir o mantra da "dimensão religiosa", separando-o da sociedade da época, num Portugal católico, em que Salazar e a esmagadora maioria da população foram educados. 

Não obstante, ao contrário de Espanha em que Franco ligou o Estado à Igreja, Salazar separou tais entidades e de um modo factualmente notável e apontado pelos historiadores, aparecendo neste caso mais uma vez o referido glosador estrangeiro a mencionar o seguinte que o jornalista não leu ou se leu não compreendeu.

Salazar era amigo do cardeal Cerejeira desde os tempos de estudante de Coimbra. Mas quanto ao Estado, amigos, amigos e negócios à parte, como se costumava dizer:



Para se perceber a dimensão religiosa de Salazar em contraponto ao Estado Novo, basta ver e saber interpretar esta imagem, tirada de uma fotobiografia, da autoria de Joaquim Vieira e de 2001.
Aqui não está o Estado Novo, a imagem é de 1953 e tem outro significado que jornalistas formados em comunicação social não entendem:



E para se ver a diferença entre nós, no Estado Novo e a Espanha franquista ( nunca se diz fascista...curiosamente) é ler a seguir o que também serve para perceber que afinal o nacionalismo português tinham em devida conta o internacionalismo do momento e as guerras que provocaram os nacionalismos respectivos:




Em segundo lugar nas preocupações estrídulas aparece o problema do desenvolvimento económico controlado pelo Estado e com espaço para a iniciativa privada.

Para perceber tal coisa em Portugal, no Estado Novo é preciso entender o corporativismo e o que Salazar pensava, dizia e fazia relativamente a tal fenómeno. Não era um problema que se coloque hoje em dia como "perigo", mas o que se passa com as greves manipuladas pelo comunismo, actualmente, como modo de mostrar poder político e influência, em detrimento dos interesses nacionais, é premente e susceptível de requerer estudo. Para tal também se pode aproveitar aquelas duas passagens iniciais do livro de Gallagher que se referem ao corporativismo. Porém, há muitos livros e estudos sobre tal assunto. 

Finalmente, sobre o terceiro perigo, o do "controlo total sobre a sociedade e o uso limitado da violência", a coisa é mais séria porque se trata de uma falsidade no que se refere ao Estado Novo. Não tem qualquer comparação, o "uso limitado da  violência"  resultante de um sistema político que no início se instalou como efectiva ditadura mas se transformou em Estado Novo, com uma Constituição e leis, incluindo uma polícia política que se destinava a prevenir o aparecimento de correntes comunistas destruidoras do Estado, para o substituir por outro, primeiro em obediência a ditamos internacionais dos komintern e depois decorrentes da guerra fria. 

A polícia política vigiava e prendia pessoas ligadas a actividades subversivas contra o Estado. A violência usada era limitada a tal circunstância e legalizada, sendo do senso comum e historicamente explicada a existência de prisões políticas e de lugares de retenção de activistas comunistas, sem paralelo com as mesmas prisões políticas e perseguições policiais que ocorriam precisamente nos regimes que aqueles queriam implantar em Portugal. 

Hoje em dia, repescar o fantasma de Salazar tem alguma coisa a ver com isso?! Ou seja, será um perigo julgar que tal situação se poderia repetir de um modo similar? Talvez: se o PCP ou o comunismo esquerdista ganhar eleições, teremos certamente um  regime muito pior do que o Estado Novo alguma vez o foi, no "uso limitado da violência". 

Quanto a mim, passaríamos do "uso limitado" para o uso ilimitado, simplesmente. Foi isso que sucedeu em todos, mas mesmo todos os países que caíram sob o jugo comunista.

Quanto ao perigo suplementar que é aflorado no artigo e que advém do mau funcionamento da democracia, convém lembrar que Salazar escreveu isto sobre o assunto:








Quanto a Salazar, em meados dos anos sessenta foi homenageado na sua terra com uma estátua que em 1978 foi decapitada por aqueles que efectivamente perseguiu com "o uso limitado da violência"...
A foto é do mesmo livro de Joaquim Vieira:


Em vez da estátua e no mesmo lugar está outra coisa, uma espécie de monumento saloio aos fautores da "independência das colónias". É esta coisa, numa foto minha de há alguns anos:


Na democracia o "uso limitado da violência" é desta estirpe: obrigar todos a contemplar o desejo de alguns, escolhidos do modo que se sabe e que o articulista do Público questiona como algo cuja resposta valerá "um milhão de dólares", em apelo a imagem parola das tv´s americanas.  A minha resposta, ao contrário da dele é um rotundo não! 
A democracia, com os métodos de silenciar o pensamento divergente do unificado, comporta-se como émula dos sistemas autocráticos e por isso deixa de ser democracia. Em Portugal, aliás, apresenta-se perigosamente como uma oligarquia em que um partido, à maneira mexicana dos anos de antanho, vai ocupando todos os lugares de poderes que deveriam estar separados e assim o deixam de estar. 
Para isso e se continuar a degradar-se do modo que se vai observando, com imposições autocráticas e censura encapotada através de media dirigidos, mais do que no Estado Novo, então valerá mesmo a pena questionarmo-nos para que servirá um sistema desses...e que diferença faz do sistema que anda sempre a vilipendiar, mormente através de escritos como o do jornalista apontado. 
Esse é que é o perigo!

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