Crónica de João Miguel Tavares no Público de hoje:
Página do mesmo jornal, hoje:
Falar de Salazar, publicamente, hoje em dia, em Portugal é desafiar o opróbrio e o insulto. "Fascista" e "salazarista" tornaram-se sinónimos e armas de arremesso cívico e cultural, sendo muito poucos os que se atrevem publicamente a defender de algum modo Salazar e o Estado Novo, no que pode e deve ser defendido.
Para a maioria das pessoas, actualmente, o regime do Estado Novo não tem redenção possível e é sempre criticado como um período negro que oprimiu a sociedade portuguesa, por efeito de um governo ditatorial e julgado à luz da "democracia" de hoje. Nem sequer se torna possível comparar o funcionamento político e social de então, com o que se passa hoje no mesmo plano, comparando-se com a censura actual e efectiva, das consciências e das imposições politicamente correctas e mediaticamente exigíveis pelos poderes e intelligentsia da actualidade.
O facto de existirem partidos políticos, actualmente, em Portugal e no jogo político, torna-se ipso facto como vantagem competitiva e indiscutível em comparação com o Estado Novo que não permitia a existência do partido comunista ou de qualquer formação de índole marxista que pretendesse fazer propaganda livre do comunismo.
É esse o traço fundamental e quase exclusivo da crítica ao Estado Novo, embora não explicitado porque se tornaria facilmente desmontável por incongruência e contradição evidentes. Afinal, o que pretendiam aqueles que combatiam política e socialmente o Estado Novo? Substituir o regime por outro que no fim de contas era mais pernicioso e limitador das liberdades cívicas e políticas do que o existente. Esta evidência é tão clara que até fere a visão isenta de tal realidade. No entanto é sempre, sempre escamoteada, incluindo nos escritos daqueles que apesar de tudo ainda se atrevem a citar o nome odioso de Salazar em modo menos vilipendiador como parece ser exigível para ter lugar na "cidadania" mediática. Inacreditável!
Esta contradição tenebrosa nunca é mencionada nos escritos de crítica a Salazar e raramente aparece mencionada nas comparações em que se exalta a democracia em detrimento da ditadura do regime de Salazar, exacerbada para mostrar o odioso mais detestável do regime.
A Censura é um dos aspectos que permanentemente se apresenta como exemplo desse odioso e definitivamente arrasador para qualquer veleidade de recuperação de algum aspecto positivo desse tempo.
Por isso mesmo se lêem artigos como o acima mostrados e se apresentam no mesmo jornal, tributário do mais odioso capitalismo actual, que hipocritamente cospe nessa sopa e mesmo assim continua a merecer o subsídio de tal actividade, iniciativas como a apontada- a reedição em fac-simile de obras censuradas pelo regime do Estado Novo.
Vendo bem que títulos e obras foram censuradas pelo regime de então avulta o que acima se escreveu: a supressão de divulgação pública de obras de propaganda directa ou indirecta do regime que se opunha ao salazarismo, ou seja o marxismo e comunismo.
Dá a impressão de que a publicação de tais obras e respectiva propaganda marxista era essencial, determinante e fundamental para que se pudesse mudar o regime, precisamente com destino ao "socialismo" e à "sociedade sem classes", como ficou a constar na Constituição portuguesa de 1976, dando razão objectivamente aos que tinham procurado evitar tal desiderato, no que aliás foram frustrados.
Porém, não era essencial tal publicação com essa finalidade. Foi esse o erro do Estado Novo e portanto, a meu ver uma perfeita estupidez. Teria sido preferível optar pela liberdade de publicação de tais obras, como sucedia noutros países europeus, onde o marxismo e comunismo afinal acabaram arredados do convívio democrático por se lhe oporem e tal ter sido evidenciado precisamente em função da propaganda livre de que dispuseram.
As pessoas desses países, mormente aqueles onde tais regimes vicejaram, abriram os olhos e mentes e arredaram, porventura para sempre, tais aberrações sociais e políticas que denegavam tudo aquilo que prometiam às pessoas, sendo essa a maior fraude, ou o "maior embuste", como foi classificado por um dos que nele acreditou, Mário Soares dos tempos modernos.
Ainda assim e porventura devido à continuidade da mentalidade marxista que dominou tais ideias com a infestação mediática que factualmente ocorreu ao longo das décadas, continuam os equívocos e os artigos como o acima apontado. Há uma espécie de complexo de esquerda que se recusa a ver o óbvio e a enxotar definitivamente para o caixote de lixo da História, as ideias marxistas mais obnóxias, actualmente representadas no PCP, no LIVRE, no BE e numa franja do PS que ainda acredita em tais balelas ideológicas, como é o caso do filho de outro capitalista, um tal Pedro Nuno Santos, salvo seja.
Assim, ao mesmo tempo que escrevem artigos em que endeusam a democracia na vertente actual, esquecem os defeitos perniciosos da mesma, que alimenta perigosamente perversões endogâmicas e oligárquicas em que os poucos partidos que disputam eleições se orientam e são comandados sempre pelas mesmas pessoas que arranjaram profissão de políticos permanentes e efectivos, logrando uma legitimidade conferida por directórios de algumas pessoas apaniguadas. Democracia, isso?!
Quando surge um movimento ou alguém, como o CHEGA ou outro qualquer que exprima ideias que denunciem tais perversões, aqui d´el rei! que vem aí outra vez o fascismo e a extrema-direita. Tais pessoas são as mesmas que condecoram a extrema-esquerda e defendem a democraticidade autêntica do comunismo do PCP e até toleraram perversões e aberrações como um MRPP dos tempos actuais, de Garcias Pereiras ou Arnaldos Matos.Tudo gente normal e da melhor cepa democrática...
Hoje, na Europa, parece que todo o perigo vem de um Orban da Hungria, ou de uma Le Pen em França ou outro qualquer que denuncie claramente o comunismo e o marxismo. Porém, o wokismo, o esquerdismo de costumes e a influência perniciosa de correntes ideológicas importadas e tributárias do esquerdismo serôdio, são tolerados e mesmo incentivados, no caso pelo Público e outros, como perfeitamente democráticos e que nada teriam a ver com qualquer ditadura.
Esta treta de incongruência mediática é inacreditável mas persiste ao longo de décadas, em Portugal. E tende a agravar-se.
Por isso, merece atenção o que aquele articulista vai escrever sobre Salazar...porque diz que "o perigo está outra vez aí". Perigo? Qual perigo?!
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