domingo, setembro 11, 2022

A música country-rock, vinda da América, apresentada por Jaime Fernandes

 Quando era adolescente, nos anos setenta, uma das formas preferidas para ouvir música era...o rádio e alguns programas em particular. 

Aprendi muito com os programas de gente como Jaime Fernandes, já falecido prematuramente e que aqui aparece, na edição do Sete de 18 de Junho de 1980, para mencionar o programa Dois Pontos, uma referência para quem gostava de música popular anglo-americana:

 Jaime Fernandes, para além de radialista escrevia uma crónica para a revista Música & Som no final dos anos setenta e numa delas, de 15 de Abril de 1978 dizia alguns nomes da música desse género que não eram conhecidos em Portugal e alvitrava outros que nunca o chegariam a ser...


E no entanto ele passava-os no seu programa e era um regalo ouvir e...gravar. 

O Dois Pontos, que existia desde 1973 passava albuns inteiros sem interrupção e permitia gravar os mesmos para quem se dispusesse a tal. Como os gira-discos de estúdio eram de grande qualidade, se a recepção em fm estéreo fosse boa, era garantida uma qualidade de gravação bem superior a alguns aparelhos caseiros de gira-discos. As cassetes, mesmo ainda sem as melhorias do dolby b e depois c, permitiam fixar em modo analógico toda a gama espectral das frequências transmitidas, com perdas irrelevantes para o ouvido. Em suma, ficava-se com uma gravação muito razoável do disco original. 

No caso da música norte-americana, particularmente um género que se desenvolveu no início dos anos setenta, o country-rock, muito da afeição do referido Jaime Fernandes, a probabilidade de se ouvirem as gravações originais dos discos originais era grande porque não havia prensagens por cá de tais discos e a carolice e disponibilidade dos animadores era entusiasmante. 

Foi assim que ouvi os primeiros discos desse género, com sonoridade que me ficou gravada no ouvido interno para a posteridade de outras audições em melhores condições, como actualmente acontece. Muitos desses discos que hoje ainda ouço reportam-me memórias auditivas de antanho, sem diferenças significativas em termos de apreciação, por causa dessas emissões de rádio. 

Foi desse modo que gravei discos dos Nitty Gritty Dirt Band, Doc Watson ou de Leo Kottke, por exemplo e foi assim que moldei o gosto musical no género em causa. 

Programas posteriores de rádio só acrescentaram a esse alfobre mais algumas sementes musicais que ficaram e se desenvolveram, como estes mencionados na edição de 25 de Setembro de 1980 ou na de 12 de Outubro de 1983:




À medida que fui ouvindo os discos do género country a que se juntava uma pitada de rock, lendo artigos em revistas da especialidade como a Rock & Folk, fiquei com uma ideia concreta dos artistas e discos que mais me impressionaram nesse género. 

Em Setembro de 1981 a Rock&Folk mencionava o termo apontando os expoentes máximos, já gravados:




Em Fevereiro de 2006 foi a vez da revista Uncut fazer o seu resumo do melhor do género:








Entre os discos que Jaime Fernandes me deu a conhecer nos seus programas estavam estes que incluíam os dos Nitty Gritty Dirt Band, particularmente Dream, saído em 1975 e que ouvia frequentemente em 1978, considerando-o um dos melhores discos de sempre, para mim e todos os géneros misturados:


Ouvidos muitos desses discos ao longo dos anos, a minha selecção particular dos dez que mais aprecio é esta:


Começa cronologicamente nos Byrds, com Sweetheart of the rodeo, saído originalmente em Agosto de 1968 mas que só ouvi muitos anos depois, possivelmente mais de dez e certamente nos programas de Jaime Fernandes. De igual modo, com o disco de Dillard& Clark, The fantastic expedition, Outubro de 1968 e de outros dos ouvidos na segunda metade dos setentas e tal como os Flying Burrito Brothers, com o disco The Gilded Palace of Sin, aparecido em Fevereiro de 1969 e o disco American Beauty dos Grateful Dead, saído em Novembro de 1970 que comecei por apreciar com o tema Ripple e só muitos anos depois, já recentemente, se tornou um dos meus favoritos de sempre, porque me parece um disco perfeito.


O disco dos New Riders of Purple Sage, saído em Agosto de 1971 parece uma rebento musical de American Beauty e até apresenta músicos dos Grateful Dead. O disco Burgers, dos Hot Tuna, saído em Fevereiro de 1972 é um hino ao country-blues incluindo o rock e o Manassas de Stephen Stills já foi por aqui mencionado, como disco duplo marcante do ano de 1972, saído em Abril. 


Finalmente, o disco de Gram Parsons, Grievous Angel, de Janeiro de 1974 e  que poderia ser substituído pelo anterior, G.P., do ano anterior, igualmente notável.
Tal como este dos Eagles, Desperado, saído em Abril de 1973 e que poderia também ser substituído por qualquer um dos cinco primeiros, particularmente pelo primeiro, de Junho de 1972 e que continha Take it easy, de Jackson Browne que igualmente poderia figurar nesta lista e que também passava nos programas de Jaime Fernandes, onde ouvi os seus primeiros discos que ainda hoje aprecio. 
O último dos dez podia ser o primeiro porque me satisfaz ouvir desde que o escutei a primeira vez num dos programas de Jaime Fernandes, nos anos setenta. Symphonian Dream, dos NGDB, saído em Setembro de 1975 começa o segundo lado com o murmúrio das águas de um ribeiro que se imagina fresco e saltitante entre pedrinhas, para introduzir Ripplin Waters, depois de se ouvir o primeiro lado que começa com sons de harpa misturados com o som acústico das violas country de uma qualquer Martin e das harmónicas da Hohner, acompanhados por pequenas trovoadas breves e que anunciam boa música. Pelo meio ainda traz All i have to do is dream, um clássico dos anos cinquenta que até os Everly Brothers cantaram mas cuja versão dos NGDB prefiro. 
Gosto tanto deste disco que até tenho dois exemplares idênticos da mesma edição original americana, de 1975. 
Falta algum? Faltam muitos mas estes são apenas dez. O 11º poderia ser Nashville Skyline de Abril de 1969, de Bob Dylan, também um precursor do género e que no caso juntou Johnny Cash, no tema de abertura, Girls from the North Country.

O que tem estes discos todos em comum? Para além do mais, um instrumento particular, americano e que serviu a música country desde sempre: a pedal steel guitar, vulgarizada como instrumento da música country, nos anos cinquenta.  Tem o som mais doce que me foi dado ouvir e foi o que me atraiu em discos como o Déjá Vu, de 1970dos Crosby Stills Nash & Young que poderia igualmente figurar nesta lista e que no caso é tocado por Jerry Garcia, precisamente o líder dos Grateful Dead que também toca tal instrumento no American Beauty referido. E parece que andava a aprender a tocar...

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