terça-feira, setembro 13, 2022

Há 50 anos, aventuras desenhadas em série

 Há 50 anos, no início de 1972 comecei a comprar o Tintin e logo no primeiro número, de 19 de Fevereiro desse ano, aprendia-se que a banda desenhada podia ser educativa, o que era um óptimo álibi para ler sem complexos revistas de quadradinhos. 

Não era no entanto esse o objectivo que me fez comprar a revista, mas simplesmente a vontade de evasão, de ler aventuras, neste caso desenhadas pelos melhores artistas da escola franco-belga que ainda nem conhecia.

Talvez a historieta que me fez comprar a revista que então custava 7$50 foi a de Tanguy e Laverdure, desenhadas por Jijé,  um mestre já veterano que influenciou novos artistas dessa geração de 70, como um certo Jean Giraud ou um Hermann e cujos episódios também passavam na tv a preto e branco como Os Cavaleiros do Céu, aventuras em aviões de caça e actores reais. 


Não obstante, logo nas primeiras páginas outras aventuras me suscitaram curiosidade e atenção, de tal modo que na semana seguinte voltei a comprar a revista para seguir as séries que já me impressionavam e eram estas:

O Cavaleiro Ardent, com o tempo tornou-se uma das séries que mais apreciava. Desenhada por François Craenhals dedicava-se a glosar temas medievais, do tempo da mítica Távola redonda. 

De igual modo as aventuras de Tintin na América, um dos primeiros álbuns da dupla binómio homem-cão, ia já adiantada e a versão era já diferente da original, mais trabalhada graficamente e mais aperfeiçoada, como outras dessa época e redesenhada por colaboradores de Hergé, como Jacques Martin e Bob De Moor. Originalmente tinha já sido publicada em Portugal em 1956, no Cavaleiro Andante de Adolfo Simões Müller e era então Tintin na América do Norte.


Nesse primeiro número outra série que me captou imediatamente a atenção era a de Bruno Brazil, no episódio Olhos sem rosto, publicada originalmente entre os finais de 1969 e os início dos anos setenta. 

Bruno Brazil passou a ser uma das minhas séries preferidas, de aventuras. As melhores ainda estavam para vir, já nesse ano. O desenho rigoroso de William Vance permanece até hoje como fantástico e noutras séries a que o mesmo deu traço.



A revista nesse primeiro número prometia já outras séries que me ficaram na memória e no apreço, até hoje. 

Uma das historietas que aparecia e que estava prestes a terminar, por ser curta mas mesmo assim excelente, era A Passageira, desenhada por Hermann, da série Bernard Prince, aliás uma das que me foi dado apreciar mais, nessa altura e nos anos a seguir. 

 Nas semanas e meses seguintes de 1972 apareceram algumas séries de aventuras memoráveis e que ficaram para sempre como referência da excelência em banda desenhada. 

Em 5 de Março de 1972 apareceu a história publicada durante semanas numa das primeiras páginas da revista, glosando o tema da colonização inglesa das terras indianas. O exotismo dos cenários e da própria historieta tornavam a sua leitura indispensável. 


 Na edição de 1 de Abril de 1972 surgiu então a melhor historieta, para mim e na época: As aventuras de Lefranc, o jornalista tornado investigador ad hoc de acontecimentos extraordinários numa localidade do interior da França. A mochila e as imagens de alpinismo tornavam-se irresistíveis para sonhar aventuras. 

O desenho, realista, de Jacques Martin ( que viria a desenhar Alix, também aparecido nesse ano no Tintin, mas com menos interesse para mim)  era também fantástico e é pena que tenha desenhado poucas historietas da série. Contudo, A Toca do Lobo é uma das melhores, a par da Grande Ameaça,também publicada na revista. 



Em 3 de Junho de 1972 esta série das Aventuras de Line parecia pouco interessante, com excepção dos desenhos de Paul Cuvelier que mais tarde, um ou dois anos depois, desenharia uma nova série de Corentin, no Tintin belga, com grande qualidade. Porém, com as semanas a seguir tornou-se uma série interessante e que era lida entre as primeiras. 


Em 8 de Julho esta série de Dan Cooper, passada na Grécia dos monumentos antigos, na Acrópole e arredores foi uma ocasião para antecipar uma viagem que só aconteceria décadas depois. A historieta tem o ambiente mediterrânico e quase se sentem as cigarras a matraquear nas oliveiras do sítio. 


Em 20 de Maio outra série que com o tempo se tornou preferida: Martin Milan, por Godard em desenho estilizado e que na altura tentei imitar. 


Em 14 de Outubro de 1972 outra série de luxo começou a ser publicada: a última aventura de Blake & Mortimer desenhada pelo seu autor e que aliás foi acabada depois da morte de Edgar Pierre Jacobs.


Em Agosto de 1972 por causa destas historietas comecei a dar atenção a outro Tintin que se mostrava no escaparate ao lado daquele nacional: a edição original, belga, um pouco maior e com o título também um pouco mais estilizado. A imagem da capa, de Dany, era apelativa, pela cor e composição. A historieta de Rameau, no interior, nem por isso.


 O papel era bem melhor, lustroso e fino e dava à cor dos desenhos um brilho inusitado que era assinalável e levou a que começasse a comprar ambas as edições.
A primeira tinha data de 1 de Agosto e era uma surpresa, grande, ver os desenhos de Hermann, na série Comanche que já tinha visto referida no Tintin nacional mas ainda não vira nenhuma aventura até então.
Estas imagens da aventura, dos Lobos do Wyoming, são perfeitamente excepcionais e das melhores da série e foram as primeiras que vi de tais historietas de Comanche. Com o tempo reuni praticamente todos os álbuns do artista nesta série fantástica.

As outras séries, também novas, eram Cobalt, com a personagem que usava um casaco safari de quatro bolsos que viriam a ser modo dali a pouco.


Outra o já conhecido Martin Milan, com uma historieta de cores vibrantes e mais brilhantes do que na edição nacional.


 Em Setembro de 1972 outra série que já tinha visto no Tintin nacional, Michel Vaillant e a que tinha dado pouca atenção, voltava com nova historieta misteriosa e surpreendente logo nas primeiras páginas. Ao contrário do Tintin nacional, a edição belga trazia por vezes várias páginas das historietas, em vez das duas habituais do Tintin de cá.

Na edição de final do ano de 1972, em 5 de Dezembro, a capa era uma surpresa, com um Tintin que já tinha publicado todas as historietas porque é conhecido. Esta era apenas a transcrição em imagens de fotogramas do filme O lago dos tubarões e que não tinha interesse por aí além.


Verdadeiramente interessante e fantásticas eram estas imagens iniciais da nova historieta de Bruno Brazil em que entravam em jogo os mafiosos americanos, de ascendência italiana, num tempo em que o Padrinho, como filme, tinha acabado de estrear nesse ano.
Esta imagem fez-me arregalar os olhos de espanto pela técnica e rigor do desenho, como seja por exemplo o da lareira na sala de estar do padrinho ou das cadeiras no estúdio de tv.


Em 25 de Novembro no Tintin português, um então desconhecido Umberto Eco escrevia sobre a banda desenhada que afinal poderia mesmo ser educativa. 


No mesmo ano também dei atenção do Jornal do Cuto, começando nesta edição de 2 de Fevereiro. com as aventuras de um barão vermelho na I Guerra Mundial:


A pièce de résistence era a história dos Mosqueteiros, tirada das novelas de Alexandre Dumas que tinha lido em tempo, desenhadas por Arturo del Castillo, um virtuoso do traço a pena.




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